Por jessyca.damaso

Rio - Driblar as dificuldades é um lema comum. Em clubes tradicionais do subúrbio carioca, a paixão pelo futebol se mantém viva através de escolinhas de futsal, que resistem, apesar de tantos obstáculos. Com os novos tempos, veio também uma forma diferente de as agremiações continuarem oferecendo aulas para crianças e adolescentes da região. Em vez de os clubes arcarem com tudo, como era antigamente, a aposta agora é numa fórmula em que as escolinhas são, na realidade, uma iniciativa de idealizadores que mantêm, em diferentes moldes, uma parceria com as agremiações. Professores, coordenadores e pais se unem numa tentativa de manter vivo o sonho de vários garotos, que veem na quadra a chance de seguir um caminho vitorioso no esporte.

Para manter a garotada no futsal, treinos no sintético

Com cerca de 60 atletas federados das categorias sub-9, sub-11 e sub-13, o Mello Tênis Clube, na Penha Circular, precisou se adaptar aos novos tempos. Ao perceberem que estavam perdendo algumas crianças para outros clubes que tinham o campo de futebol de 7, os coordenadores do projeto resolveram criar também a categoria. Assim, seus atletas treinam em dias alternados na quadra de futsal e no campo de grama sintética. Dessa maneira, eles conseguiram manter as crianças no clube. Para crescer e encontrar novos talentos, a escolinha de futsal foi recriada para atrair a garotada.

O Mello Tênis Clube%2C na Penha Circular%2C tem cerca de 60 atletas federados das categorias sub-9%2C sub-11 e sub-13Alexandre Brum / Agência O Dia

Atualmente, o Mello disputa o Campeonato Estadual nas três categorias. O pagamento mensal à federação é feito com o arrecadado no bar próximo à quadra, cedido pelo clube para o projeto. Taxas de arbitragem por jogo e os três treinadores são bancados com as mensalidades pagas pelos atletas. Os pais também têm participação importante. Além de bancarem a compra de uniformes, são eles que se juntam para alugar um ônibus em caso de necessidade de viagem para jogos em outras cidades. Quando as partidas são no Rio, cada um vai por conta própria até o local. Ainda assim, a busca por parceiros dispostos a ajudar é sempre bem-vinda.

"Juntamos um grupo de pais muito bacana. Eles ajudam bastante. Conseguimos alguns patrocinadores para comprar material, como bolas", disse o coordenador de futsal do Mello, Rafael Miranda.

Após três anos fora, River volta e conquista títulos

Outro tradicional clube do subúrbio, o River Futebol Clube, em Piedade, ficou os últimos três anos sem time de futsal. As crianças jogavam apenas em grama sintética, numa escolinha do Flamengo. Só voltou às competições neste ano, quando o jornalista André Gonçalves fez uma proposta para assumir. Ele paga um valor mensal de aluguel e pode utilizar o escudo e a quadra do clube para treino e jogos.

River Futebol Clube%2C em Piedade%2C ficou os últimos três anos sem time de futsalarquivo pessoal

"O River é tradicional no futebol, mas havia três anos que não disputava nada. Moro em Quintino e jogo bola lá. Sei da história e que estava parado. Resolvi pegar o futsal e vem dando certo", disse André, coordenador do futsal e técnico do sub-7.

Ele explica o motivo da aventura: "No ano passado, meu filho jogou sub-7 pelo Piedade. Via muito treinos e jogos, fora as reportagens e comentários no Jornalismo. Então, fiz o curso para técnico e entrei no mercado de trabalho... Antes que me perguntem, meu filho não joga em nenhuma categoria. Virou judoca (risos)".

Com cerca de 70 crianças de cinco categorias (de sub-6 a sub-13), o River não tem escolinha de futsal, apenas equipes que disputam os torneios da federação (atualmente são três). Inclusive, conquistou a Taça Guanabara sub-7 e sub-9 no seu retorno. Mesmo assim, não tem sido fácil. Além do aluguel ao clube, André corre atrás de apoio. Foi assim que conseguiu produzir os uniformes, mas ainda tem os gastos das competições. "As taxas são o mais difícil! Muita conta. Tem mensalidade, inscrição, taxa de arbitragem... Mas consigo pagar com as mensalidades dos atletas".

No Engenho Novo, Vitória tenta driblar dificuldades

Na quadra do Vitória Tênis Clube, no Engenho Novo, Marcos Caffarena, 44 anos, não deixa o amor pelo esporte morrer. Em casa, ele viu no exemplo do filho Bruno, hoje com 11 anos, o poder de transformação que o futsal pode ter na vida de crianças e adolescentes da região.

Crianças do Vitória Tênis Clube%2C no Engenho Novo%2C disputam uma competição só de escolinhasAlexandre Brum / Agência O Dia

"Meu filho, em 2013, tinha problemas de comportamento. Eu tinha que ir à escola para saber o que estava fazendo. Resolvi colocá-lo no futsal e ele se acalmou", conta Marcos, que trabalha numa barbearia e dá aulas na escolinha à noite.

"Herdamos a escolinha do professor Figueira. Somos eu e o filho dele, o Mário. A escolinha leva o nome do clube, mas a iniciativa do projeto é nossa. A gente tem um centro de treinamento. O clube cede o espaço físico. O material, o uniforme e a bola são com a gente. A gente angaria com a mensalidade, que é dividida com o clube", explica.

Ele revela que o Vitória tem disputado uma competição só para escolinhas. Ontem, tiveram encontro marcado em frente ao clube para pegar dois ônibus, um até a Tijuca e outro de lá até a Usina para jogar no Montanha Clube, no Alto da Boa Vista. "Não participamos de nenhum tipo de liga e de federação por conta do custo, que é muito elevado. Nós disputamos essa competição de escolinhas, em que eles praticamente zeraram o custo. A gente paga a arbitragem", ressalta Marcos, que se encanta com o poder que o esporte tem na vida dos meninos: "Eu vim por causa do meu filho. Foi o esporte que funcionou para ele".

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