Rio - No antebraço direito, a tatuagem de Nossa Senhora Aparecida revela a devoção de Pâmela Rosa. A imagem também está presente no skate dessa garota de 18 anos que saiu de São José dos Campos (SP) para conquistar duas medalhas de ouro nos X-Games e se tornar um dos principais nomes da modalidade no país. A fé, compartilhada pela família, é um combustível a mais para desbravar o mundo ou competir mais perto de casa, como acontecerá a partir de hoje, quando estará em ação na Praça do Ó, na Barra, na primeira etapa do STU Qualifying Series 2018. O circuito reúne as modalidades street, em disputa no Rio, e park e definirá a formação da seleção brasileira de skate para 2019 de olho na estreia do esporte nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.
"Eu sou bem devota. Ela (Nossa Senhora Aparecida) me ajudou muito porque na primeira vez que ganhei os X-Games eu entreguei nas mãos dela e falei, que se eu ganhasse, a minha promessa seria dar o skate para Ela. Até hoje, se você for lá na basílica, na sala das promessas, está lá o meu skate. Ela me cobriu com o manto sagrado", conta Pâmela, que deixou ainda outro skate na basílica. "Eu sempre me sinto bem protegida. Sempre que vou competir, peço para que ninguém se machuque".
Pâmela tinha apenas 16 anos quando foi campeã nos X-Games de Oslo, na Noruega: "Foi muito intenso porque em Oslo eu estava machucada. Minutos antes eu não conseguia dar manobra nenhuma, como o joelho bem machucado. Falei para a minha mãe que não conseguiria competir até que o fisioterapeuta me chamou e me atendeu. Entrei na pista e não senti dor nenhuma."
Ao todo, ela tem quatro medalhas nos X-Games, sendo dois ouros e duas pratas, e é bicampeã mundial da World Cup Skateboarding. Uma trajetória que começou no esporte de maneira inusitada. "Um amigo da minha irmã foi fazer um trabalho de escola e deixou o skate de canto. Eu pedia para ele para andar, mas ele não deixava porque eu era muito pequena. Ele deu uma bobeada, eu peguei o skate e saí andando", lembra Pâmela.
A partir daí, a menina que morava no bairro Jardim Cerejeiras passou a pedir para a mãe, Evânia, para ganhar um skate. "Minha mãe pegou o dinheiro da água e da conta de luz e comprou um para mim. No início, meus pais achavam que seria só uma diversão, mas já tem dez anos. Desde o início eu me apaixonei. Depois de um mês teve um campeonato perto da minha casa e eu fiquei em terceiro", lembra ela, que está no Rio acompanhada da mãe e do pai, Paulo.
Sobre o circuito que definirá a Seleção para 2019, Pâmela se mostra confiante. "Estou bem preparada e vou fazer de tudo para estar na seleção brasileira com as meninas representando bem o Brasil", diz ela, pensando em um passo de cada vez até Tóquio-2020: "Ainda teremos mais campeonatos pela frente. Mas com certeza é o sonho de qualquer atleta."
Fã de samba e acostumada a desfilar na bateria, Pâmela não abre mão da vaidade nas competições. "Sou muito vaidosa. Aqui no campeonato mesmo você vai ver. Sempre estou penteando o meu cabelo, passando batom ou fazendo maquiagem. Sempre pinto as unhas", diz Pâmela, garantindo nunca ter tido problema com os meninos no esporte: "Sempre me respeitaram."
Com seu próprio estilo, ela cresceu, ganhou visibilidade, uma estrutura melhor e já realizou sonhos aos 18 anos. "O skate mudou bastante coisa. Hoje em dia eu posso ajudar a minha família. Posso dar uma casa melhor para a minha família. Posso ter as coisas que sempre sonhei ter, viajar, conhecer lugares novos, ter um skate bom, um patrocínio bom", ressalta ela, que garante lidar bem com a responsabilidade em torno do seu nome: "Só ando de skate e tento me divertir ao máximo, estar sempre com as meninas e evoluir sempre. A pressão sempre vai ter, mas quando eu ponho o pé no skate somos só eu e o skate e eu deixo tudo de lado."
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