Rio - Há mais de 20 anos a Seleção feminina de futebol é o habitat natural de Miraildes Maciel Mota. Com a camisa verde e amarela, o público a conhece como Formiga. Uma operária que, aos 39 anos, aceitou o novo chamado do técnico Vadão mesmo depois de ter anunciado o adeus à equipe brasileira no fim de 2016.
Com uma carência na posição no futebol brasileiro, a volante do Paris Saint-Germain voltou atrás na decisão por conta da Copa América do Chile, que vale vaga para a Copa do Mundo de 2019, na França, e os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. A estreia será na quinta-feira, contra a Argentina, pelo Grupo B. Para Formiga, a ausência nas competições seria um retrocesso para o esporte.
“Conversei com o Vadão e ele colocou as dificuldades que está tendo para a reposição no meio de campo. É claro que ficar fora de um Mundial e e uma Olimpíada não é bom para o futebol feminino. O que pesou realmente foi isso”, explicou Formiga.
Depois de Formiga, a atacante Cristiane, de 32 anos, também confirmou a volta à Seleção após anunciar a aposentadoria em solidariedade à demissão de Emily Lima em setembro. O amor ao esporte e à camisa da Seleção falou mais alto, mas a dupla ainda tem críticas a algumas questões, como a maior participação das mulheres em cargos fora das quatro linhas e investimento no esporte.
“A gente estando no meio próximo ajuda bem mais. Distante a gente não tem tanta voz. Conversei com a Cris e falei para ela que o bom é a gente estar presente para ver quais são as dificuldades, se melhorou alguma coisa ou não. A proximidade com o presidente ajuda a pedir mudanças e melhorias realmente”, afirmou a veterana.
Nas colônias, as formigas operárias são responsáveis pela construção, manutenção e limpeza do ninho, cuidado com a prole e defesa. Taticamente, é o trabalho da volante na Seleção. Na voz da experiência, ela vai ajudar agora no surgimento de novas ‘formiguinhas’.
“Se tivesse esse trabalho de base antes, eu estaria aqui mas ajudando de outra forma, vestindo a camisa branca da comissão técnica e orientando as meninas. Mas infelizmente essa falta de oportunidade de trabalho na base faz com que muitas repensem no meu caso de ajudar”.
Depois de jogar em clubes do Brasil, na Suécia e nos Estados Unidos, Formiga é uma das estrelas do Paris Saint-Germain, clube dos brasileiros Thiago Silva, Marquinhos, Daniel Alves e Neymar. Feliz, ela pretende jogar por mais três anos, mas diz que deve mesmo se despedir da Seleção mais uma vez após a Copa América.
“Vai até essa competição, deixei bem claro para o Vadão. Espero ajudar, espero que a Seleção se classifique, não só para o Mundial como para a Olimpíada também para dar continuidade ao trabalho”, disse Formiga, que garante ter mais um pouco de lenha para queimar: “Mais uns três anos está bom. Acho que dá para aguentar aí (risos)”.
JOGADORA COBRA IGUALDADE
A partir de 2019, os clubes brasileiros que não tiverem um time feminino disputando competições nacionais serão proibidos de disputar a Copa Libertadores. Essa foi a medida da CBF para tentar incentivar a modalidade no país, mas a obrigação incomoda jogadoras como Formiga.
“Por um lado é bom. Os clubes de camisa darem essa oportunidade ao futebol feminino. Mas vejo que as coisas não devem ser pelo lado da obrigação. Não adianta só dar camisa. Você tem que dar toda uma estrutura para ter um time bom e tenha um campeonato bem disputado. Isso é importante. E isso não tem”, afirmou Formiga.
Longe do Brasil, a volante do PSG ainda vê muita desigualdade na questão salarial e de investimento e estrutura. “O futebol feminino enfrenta dificuldade em qualquer país. Mas lá a condição de trabalho é melhor. Você tem uma baita estrutura, o respeito e a valorização. Eles sabem a importância que você tem para o time, para a entidade. Te dão a oportunidade de você ter tudo lá, não só salários, plano saúde, tem cobertura total que aqui no Brasil você não tem”, contou Formiga.
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