Rio - Fraudada por seus antigos cartolas, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não fez qualquer tipo de solicitação para recuperar o dinheiro desviado, destoando de outras entidades do futebol que buscam reaver recursos. Nas cortes de Nova York, a Justiça deu até esta segunda-feira para que os interessados apresentem suas solicitações em relação a José Maria Marin, preso nos Estados Unidos.
Não houve qualquer solicitação da CBF. Na Espanha, a entidade ainda diz que não se sentiu prejudicada pelo ex-cartola Sandro Rosell, que será julgado por desvios milionários ao lado de Ricardo Teixeira, envolvendo os amistosos da seleção.
Procurada, a entidade brasileira optou por não se pronunciar. Hoje, a CBF é presidida por Antonio Nunes, considerado como um "fantoche" de Marco Polo Del Nero que, por sua vez, foi vice de Marin e ainda hoje aliado de Ricardo Teixeira.
A estimativa da Justiça norte-americana é de que os três últimos dirigentes brasileiros teriam fraudado a CBF em milhões de dólares. Apenas Marin e Marco Polo Del Nero teriam sido responsáveis por uma corrupção equivalente a mais de US$ 13 milhões (cerca de R$ 48,5 milhões).
O tribunal americano anunciará a sentença de Marin no dia 17 de agosto. Mas deu até esta segunda para que qualquer entidade solicite a recuperação do dinheiro desviado. Marin foi condenado por formação de organização criminosa, por fraude financeira e lavagem de dinheiro na Copa Libertadores, por fraude financeira na Copa do Brasil e ainda por lavagem de dinheiro na Copa América.
Se a entidade brasileira não busca recuperar o dinheiro, a Fifa confirmou ao Estado que vai tentar reaver os valores de Marin e, quando possível, dos demais cartolas brasileiros.
Apenas pelos danos causados pelos dirigentes brasileiros, a Fifa solicitou à Justiça norte-americana que seja reembolsada em US$ 5,3 milhões (R$ 19,8 milhões) pelos três dirigentes brasileiros
Del Nero e Teixeira foram membros do Comitê Executivo da Fifa por anos e, segundo a entidade, teriam absorvido US$ 1,67 milhão (R$ 6,24 milhões) e US$ 3,5 milhões (R$ 13,8 milhões) respectivamente dos cofres da Fifa em gastos de viagem, hotéis e salários, sem contar o impacto sobre a reputação. Já Marin consumiu US$ 114 mil (R$ 426 mil).
Segundo a Fifa, os três cartolas brasileiros ocuparam "posições de confiança na Fifa e em organizações nacionais". "Ao longo dos anos, eles abusaram de suas posições para se enriquecerem, enquanto causavam danos significativos para a Fifa", indica o documento enviado para a Justiça americana.
"Os danos foram amplas perdas financeiras (incluindo salários e dinheiro desviado) aos seus bolsos, assim como dano para a reputação, relações comerciais e à propriedade intelectual da Fifa", afirmaram os advogados. "Esse dinheiro não foi desviado apenas da Fifa, mas dos jogadores, técnicos e torcedores pelo mundo. Esse dinheiro era para ter sido usado para construir campos, não mansões e piscinas", atacou a Fifa. "Era para comprar uniformes, não joias e carros e não dar um estilo de vida abusivo aos dirigentes", insistiu.
A Fifa ainda pede ser ressarcida em US$ 339 mil (R$ 1,2 milhão) por conta dos desvios promovidos por Juan Ángel Napout, ex-presidente da Conmebol e também já condenado na Justiça americana. O Estado apurou que a Conmebol também quer a restituição de dinheiro para seus cofres, depois de constatar o desvio de mais de US$ 130 milhões (R$ 485 milhões) por parte dos dirigentes ao longo de 20 anos.
ESPANHA - Um esquema que desviou pelo menos US$ 14 milhões de amistosos da seleção brasileira também vai à julgamento na Espanha. O Ministério Público do país europeu pediu onze anos de prisão e uma multa de 59 milhões de euros (R$ 254 milhões) contra o ex-cartola Sandro Rosell por ter supostamente organizado o desvio de recursos das partidas e mesmo de contratos da Nike na CBF. Ele, porém, montou o esquema ao lado de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF e que também é citado pelos espanhóis como membro de uma "organização criminosa" para "fraudar a CBF".
A CBF, porém, tampouco se manifestou sobre esse dinheiro desviado. Rosell, em sua defesa, ainda usou desde meados de 2017 um documento da entidade brasileira indicando que não se sente prejudicada pelo ex-cartola espanhol e que desconhece o pagamento dessas comissões. A carta era assinada por Walter Feldman, secretário-geral da CBF.