Rio - Dois anos depois de receber a Olimpíada de 2016, o Parque Olímpico na Barra tornou-se palco de competições de games virtuais neste feriadão. Enquanto os esportes tradicionais sofrem com a falta de verbas, estrutura e têm dificuldade de encontrar promessas, o e-sports cresce no Brasil, com potencial para evoluir.
Com o terceiro maior público cativo do mundo, o país tem 75,7 milhões de jogadores (entre profissionais, amadores ou que jogam no celular) e o mercado de games brasileiro movimenta cerca de US$ 1,5 bilhão (R$ 6,2 bilhões) em negócios. Não à toa, vem recebendo atenção especial com as competições. Já é possível observar aumento de equipes e de jogadores profissionais que tentam ganhar a vida e buscar a independência financeira com o e-sports.
“Um jogador top pode ganhar igual a um atleta de Série A do Brasileiro. Podem tirar entre R$ 300 mil e R$ 400 mil. Mas é igual ao futebol. Tem um milhão de caras tentando e só cinco, 15 ou 20 que ganham bem”, explica o diretor de marketing da Game XP, Roberto Fabri, que foi jogador de Counter-Strike no início dos anos 2000, quando o e-sports engatinhava, sem jogadores com salário ou tanto dinheiro envolvido nas premiações.
Desde a época em que disputava competições até os dias de hoje, Roberto viu uma evolução gigantesca graças à tecnologia e também à visão das empresas de games, que viram o potencial do negócio e investiram pesado.
"Parece básico, mas a explicação é dinheiro. Na minha época, quem jogava CS tinha que ir por conta própria para as competições. Uma vez fui de ônibus de São Paulo para o Rio. Hoje as marcas patrocinam os campeonatos. O segundo ponto é até mais importante: o streaming (transmissão online) popularizou assistir aos jogos. Dez anos atrás assistir a um jogo de vídeo game era impensável. Hoje o cara no quarto de casa joga para 30 mil pessoas ao vivo. As pessoas estão se acostumando a assistir", avalia Roberto.
Ainda assim, apesar de todo o potencial, o e-sports no Brasil também possui as dificuldades de outros esportes olímpicos. Os grandes nomes brasileiros acabam saindo do país para jogar em alto nível e receber muito mais. Em 2017, quatro brasileiros estiveram entre os que mais receberam premiação nos campeonatos de Counter-Strike GO, com mais de R$ 2 milhões cada.
"Não é orgulho, mas os melhores estão fora do país, assim como nadador, lutador... Fica no Brasil quem quer alcançar determinado status para ir para fora", afirma Roberto.
Só que ele vê grande chance para o e-sports se firmar ao lado de outros esportes. “Do ponto de vista econômico o e-sport, pela exposição, pode se sustentar a longo prazo. Tem audiência, as pessoas vivem disso, atletas são influenciadores digitais. Por que não vai dar certo? A gente tem uma vida longa e estão todos apostando muito nisso”, completa.
DE OLHO NA OLIMPÍADA
Com a popularização e o crescimento no mundo, o e-sports já vislumbra saltos maiores, pensando até em ser incluído como modalidade olímpica. Conversas chegaram a ser feitas para a inclusão para 2020 ou 2024 como demonstração. Entretanto, na última semana, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach descartou essa opção por causa da violência em alguns jogos.
A declaração aconteceu durante os Jogos Asiáticos, na Indonésia. Justamente onde o e-sports foi incluído como demonstração, com seis campeonatos em disputa: League of Legends, Arena of Valor, Clash Royale, Hearthstone, Pro Evolution Soccer e Starcraft II.
Além da preocupação com os valores olímpicos, outro problema também precisaria ser resolvido com o COI, como explica Roberto Fabri. “Futebol não tem dono, já os games têm, que são as empresas que criam. É o maior desafio do e-sports se associar ao COI, ainda está em processo”.