Por O Dia

'Essa defesa é uma mãe'. É comum ver nos estádios do país um torcedor, revoltado, reclamar da generosidade da zaga de seu time ao dar gols de presente para os adversários em falhas clamorosas. Pois esta cena tem se tornado comum entre os preocupados fãs cariocas neste início de Campeonato Brasileiro. Que o digam tricolores e vascaínos, que têm duas das retaguardas mais vazadas até agora na competição (oito e sete gols, respectivamente) — alvinegros e rubro-negros sofreram quatro. No dia dedicado justamente às mães, xerifões do passado dão dicas para que tais presentes sejam destinados apenas às genitoras que não calçam chuteiras e não entram em campo.

"O desempenho ruim é uma situação que acontece no começo do Brasileiro. Os times se arriscam mais no ataque, na busca por gols, pelas vitórias e erram com mais frequência no setor defensivo. Depois, isso acalma", avalia Mauro Galvão, que, no Rio de Janeiro, brilhou com as camisas de Bangu, Botafogo e Vasco. "Mas não há como negar que existe um descuido excessivo e desatenção em algumas jogadas. Isso só é corrigido com muito treinamento e melhor posicionamento em campo", diagnostica o ex-zagueiro, que destaca a qualidade do tricolor Matheus Ferraz: "Ele tem me impressionado, com boas atuações, assim como o Dedé, que dá segurança à defesa do Cruzeiro".

Conhecido como 'Deus da Raça', Rondinelli, com passagens por Flamengo e Vasco, frisa que tem faltado diálogo entre os homens de defesa para ajustar a marcação aos adversários. "Conversar, dentro e fora de campo, é fundamental. É o famoso 'cantar o jogo', atuar falando durante os 90 minutos, em alerta, orientando a defesa. É conversar sempre, seja na concentração, durante os coletivos, no apronto e, principalmente, nos jogos", diz Rondinelli, que aponta outro grave erro para a não coesão de uma equipe: a decisão dos treinadores de poupar jogadores.

"É fundamental que os dois zagueiros tenham continuidade em jogos para que haja o entrosamento ideal e eles tenham confiança um no outro. Não concordo com essa coisa de time alternativo. Jogador de futebol é condicionado para jogar futebol mesmo que tenha 90 partidas por ano", avalia Rondinelli, que destaca o gremista Geromel como um dos melhores do Brasileiro — curiosamente, ele não enfrentou o Fluminense, num jogo em que o time levou cinco gols. "O Geromel é firme e técnico. Palmeiras e Internacional têm retaguardas fortes", observa.

Odvan, que não perdia viagem e ficou famoso ao ser definido pelo técnico Vanderlei Luxemburgo como um 'zagueiro-zagueiro', acredita faltar treinamento específico aos homens de defesa no futebol brasileiro. "Me dá a impressão de que falta não só concentração, mas treino específico, fundamento. Os times cariocas têm levado gols que não dá para entender. O Fluminense venceu o Grêmio merecidamente, mas sofreu um gol, do Kannemann, em cobrança de escanteio, que mostra o que estou falando. As jogadas de bola parada e aéreas são um pesadelo para cariocas. É preciso localizar os pontos fracos e treinar mais, corrigir o posicionamento", avalia.

Odvan cita apenas o Flamengo em condições de brigar pelo título, devido ao alto investimento. "Mas, curiosamente, não o vejo com uma defesa confiável. O Flamengo tem uma zaga que não suporta muita pressão", observa o ex-zagueiro, que tem em Moledo, do Internacional, um xerifão confiável atualmente. "Ele jogou comigo no Rondonópolis-MT. É um sujeito caladão fora de campo, mas muito sério, que joga firme e não brinca em serviço. O típico zagueiro-zagueiro", define Odvan, adepto do pensamento de que mãe é única. "Essa coisa de defesa ser mãe não combina com o futebol bem jogado", brinca.

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