Jorge Vides, Vitor Hugo Silva (não correu), Paulo André, Rodrigo e Derick desembarcam com a medalha e o bastão da vitória - Wagner Carmo/CBAt
Jorge Vides, Vitor Hugo Silva (não correu), Paulo André, Rodrigo e Derick desembarcam com a medalha e o bastão da vitóriaWagner Carmo/CBAt
Por Yuri Eiras
Rio - "Mãe, a senhora se prepara porque não vai me ver muito por aqui". Com essa frase, Derick Souza transformou as brincadeiras de pique-pega e polícia e ladrão pelas ruas de Curicica em algo mais sério, na mesma época em que Jorge Vides saiu da favela da Maré para o mundo. Decididos, correram atrás de serem atletas profissionais e correram à frente de norte-americanos, chineses e britânicos no dia 12, quando a dupla, ao lado de Paulo André e Rodrigo Nascimento, conquistaram a inédita medalha de ouro para o Brasil na prova do revezamento 4x100 metros no Mundial do Japão de Atletismo.
Cariocas da equipe, Derick e Jorge Vides são frutos do projeto de atletismo do professor Paulo Servo, na Zona Oeste. Os dois cresceram juntos no esporte, e também juntos chegaram ao topo do mundo no revezamento. "Eu já corria na rua, era muito rápido. Brincava de polícia e ladrão, pique esconde, corria atrás de pipa, corria dos garotos que queriam me bater na rua", relembra com humor Derick Souza, considerado o mais 'bagunceiro' do grupo de quatro. 
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"Correr sempre esteve no meu sangue mesmo sem eu saber. Eu recebi uma proposta pra defender a escola que eu estudava - a Escola Municipal Silveira Sampaio - nos jogos escolares. Eu só fui por diversão, mas consegui minha primeira viagem pra sair do Rio. Depois disso eu só queria treinar pra viajar. Nem era por resultado. falei: mãe, a senhora se prepara porque não vai me ver muito por aqui não. Só vou treinar pra viajar", diz.  
Os quatro cresceram e apareceram para o atletismo mundial. Domingo, Rodrigo, Derick, Jorge e Paulo André deixaram pra trás ídolos como o norte-americano Justin Gatlin, campeão olímpico em 2004 e duas vezes campeão mundial nos 100m. A equipe dos Estados Unidos foi prata. Eu sou muito privilegiado por estar entre os melhores do mundo e ser o melhor do mundo. Teve uma competição nos Estados Unidos que corri ao lado dele e não deixei ele tirar a diferença de mim. Ele não me conhecia e foi perguntar quem eu era pra Rosângela Santos, que é do Brasil. Sou privilegiado", comenta Jorge Vides.
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— IAAF (@iaaforg) 14 de maio de 2019
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 Nervosismo pós-prova
Paulo André demorou alguns segundos até entender que havia vencido a prova. O telão do estádio de Yokohama apagou, e a apreensão tomou conta do quarteto. Depois da confirmação do ouro, foi só alegria. Teve gente que até se machucou de tanto comemorar. "Depois da prova o Paulo André ficou meio aflito e eu pensei: 'não é possível que ele ainda não se ligou que a gente ganhou a prova'. Depois que apareceu no telão foi só alegria. Eu estou com a perna toda arranhada da sapatilha de tanto que comemorei", relembra Derick.
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O Japão é cada vez mais brasileiro. A Seleção foi penta na Copa do Mundo de 2002 justamente no estádio de Yokohama, onde o quarteto conquistou o ouro. Os Jogos Olímpicos do ano que vem também será no país asiático. Será que vai dar sorte mais uma vez? "As expectativas são as melhores possíveis. Os outros países vão olhar pra gente diferente a partir de agora. Tem o Pan-Americano (em julho, em Lima, no Peru) que é um dos nossos objetivos, o Mundial do Catar também. Para a Olimpíada, é dar continuidade ao trabalho para que a gente chegue no nosso auge e conquiste essa sonhada medalha olímpica", projeta Jorge Vides.