A Sobra Nada tem algumas inscrições pelos muros da cidade - REPRODUÇÃO INSTAGRAM
A Sobra Nada tem algumas inscrições pelos muros da cidadeREPRODUÇÃO INSTAGRAM
Por Yuri Eiras
Rio - Pode ser no Maracanã, São Januário ou Nilton Santos: a infeliz combinação entre pancadaria e diversão é tradição antiga no Rio de Janeiro em dia de clássicos. Se a violência das torcidas organizadas é quase inevitável, que pelo menos os danos sejam reduzidos ao máximo. É nisso que os novos movimentos de torcedores acreditam. O 'SobraNada', representante do Fluminense, e 'Bate Anda', do Flamengo, são grupos de torcedores experientes que não procuram briga, mas não fogem dela. A diferença é que quando se enfrentam, evitam utilizar armas brancas, de fogo e barras de ferro. Uma espécie de clube da luta.
A Fúria Jovem do Botafogo e a Força Jovem do Vasco também têm grupos que tentam resgatar a 'tradição' de brigar sem outros instrumentos que não os punhos. É a lei que Bezerra da Silva eternizou em letra de Claudio Inspiração e Tonho Magrinho: com revólver na mão, qualquer um vira bicho feroz. "Não vamos deixar de brigar. Infelizmente, está na essência. Nossa intenção é acabar com a covardia, com a morte. Nenhuma mãe precisa chorar por causa de torcida", disse um rubro-negro membro da Bate Anda, que preferiu não ser identificado.
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Uma das lideranças do tricolor 'Sobranada' usa a expressão "briga mais limpa". "Basicamente, a ideia é se reunir como a gente sempre fez e ir aos jogos. Mas, por ser uma galera mais cascuda, não íamos atrás de confusão. É ir do ponto A ao ponto B. Eventualmente, acontece de se encontrar com grupos adversários e têm alguns conflitos. Mas temos a postura diferente de não ter judaria, uma briga mais limpa. Todo mundo trabalha, tem suas famílias. Temos um dia a dia normal". Os dois movimentos, aliás, procuram se desvencilhar do estereótipo de 'arrumar confusão': ambos realizam frequentes projetos de arrecadação de alimentos e doação de roupas.
Com trajetória de décadas em torcidas, Humberto 'Tobé' é dono do canal 'Papo Fuleiro', sobre organizadas, e um dos especialistas atuais no assunto. Ele diverge dos movimentos. "Quando você vai para o confronto contra outra torcida, você representa aquela torcida. Não posso aceitar que um cara vá representar o Bate e Anda ou o Sobranada. O que são esses movimentos? Eles defendem o quê? Que pavilhão, que clube, que cores? Não sou contra a caminhada dos caras, mas sou contra o movimento que eles fazem".