Alemanha x Espanha, em Stuttgart. Na foto, o capitão alemão Franz Beckenbauer disputa jogada com o espanhol José Garate - Divulgação
Alemanha x Espanha, em Stuttgart. Na foto, o capitão alemão Franz Beckenbauer disputa jogada com o espanhol José GarateDivulgação
Por Lance
Berlim - Há exatos 30 anos, no dia 09 de novembro de 1989, o Muro de Berlim foi derrubado e, junto dos tijolos, caiu também a separação entre duas Alemanhas: a Ocidental, no espectro capitalista, e a Oriental, do lado socialista. Dois territórios que, com o fim da Guerra Fria, projetavam a unificação. O futebol alemão não ficou à margem dessa situação política. O 'LANCE!' entrevistou o jornalista Gerd Wenzel, da ESPN, especialista em futebol alemão, para entender o impacto da política nos clubes germânicos, antes e depois da queda do muro e desmistificar algumas questões que envolvem o desenvolvimento do esporte na Alemanha. 

UM MURO ENTRE NÓS
A influência da guerra no esporte é antiga na Alemanha. Após o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota alemã, boa parte das organizações esportivas foram desmanteladas. O governo alemão, aos poucos, foi reestruturando o esporte. Com a criação do muro, o lado Ocidental seguiu com investimentos no futebol, enquanto na parte Oriental, o esporte, de uma forma geral, era controlado pelo Estado, com clubes passaram a atender mais as aspirações do governo do que da sociedade em si. Boa parte das equipes eram amadoras e reguladas pelo governo ou como define Wenzel: "subvencionados pelo Estado".

"Os clubes do lado oriental eram, entre aspas, amadores, não havia profissionalismo. Os jogadores na maior parte das vezes tinham um emprego, mas na realidade eram praticamente funcionários do Estado", pontua, e conclui:

"Infelizmente, para a Alemanha Oriental - o que já acontecia, mesmo na Guerra Fria -, muitos jovens talentosos no futebol acabaram indo para a Ocidental, onde perceberam que teriam melhores chances de se desenvolver", completa.

A atuação do Estado era tão grande, que chegou a ser criada um clube de futebol da polícia da Alemanha Oriental, conhecida como ‘Stase’. Wenzel aponta que a equipe "ganhou título adoidado", pois nenhum clube "tinha coragem de ganhar" do time de autoridades.

DIVISÃO DE BENS
Com a queda do muro e o desmantelamento do Estado socialista, os clubes da Alemanha Oriental penaram para permanecerem ativos. Muitos profissionais que trabalhavam com futebol, na parte Ocidental migraram para essas cidades, mas, não com a preocupação de desenvolver o esporte, mas na busca de garimpar novos atletas e também de se aproveitar financeiramente.

"Essa "invasão ocidental" fez mais mal do que bem para o futebol da Alemanha Oriental, porque, literalmente, sangraram muitos jovens talentos e deram golpes nesses clubes que já estavam caindo pelas tabelas. Essa é uma das explicações de porque os clubes da Alemanha Oriental não conseguiram se desenvolver, pois, em muitos casos, foram vítimas desse capitalismo selvagem", pondera Wenzel.

DIFICULDADES FINANCEIRAS
O futebol no lado Oriental não sofreu apenas com o parasitismo dos antigos "rivais", mas também com a falta de poder de investimento local. As indústrias e outros serviços sofreram com a queda do muro e não conseguiram manter uma devida saúde financeira sem o apoio que outrora recebia do Estado.

Essas empresas foram praticamente desativadas por estarem obsoletas tecnologicamente. Economicamente, a Alemanha Oriental, no começo, teve que viver de subvenções da Ocidental. Isso também explica porque os clubes da parte Oriental, pós-queda, acabaram tendo uma vida mais ou menos vegetativa. Resistem mais do que sobrevivem.

O QUE O FUTURO RESERVA
O que exemplifica a superioridade ocidental no futebol pode ser vista no título da Copa do Mundo de 1990, com o título da Alemanha Ocidental, poucos meses antes da reunificação. Anos depois, em 2006, a Alemanha unificada sediava sua primeira Copa. No elenco, a ex-parte socialista estava presente e representada por jogadores importantes, como os defensores Schneider e Linke e os atacantes Jancker e Michael Ballack.

Apesar de ainda produzir bons atletas, o meia do Real Madrid, Toni Kroos, é um exemplo, a ex-parte socialista ainda passa por momentos de dificuldades com os clubes, que não conseguiram se restabelecer.

*sob a supervisão de Leonardo Martins
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