Rio - Após o ouro na Rio-2016, Martine Grael e Kahena Kunze deram uma respirada e pararam de velejar juntas. Martine resolveu disputar a Volvo Ocean Race, regata de volta ao mundo, e Kahena passou a dedicar mais tempo à Faculdade de Engenharia Ambiental. Mas as duas velejadoras, que se conhecem desde novinhas, sentiram saudades e foi assim, com gás renovado, que retomaram a dupla rumo a mais uma Olimpíada, a de Tóquio neste ano. No radar das adversárias, elas tentam não mostrar todas as armas de que dispõe para conquistar mais um ouro olímpico na classe 49erFX da modalidade.
"Qualquer coisa na vida é importante dar um tempo, respirar, ganhar outra experiência, conhecer novas pessoas. Nesse um ano, a Martine, fazendo a Volvo, ela abriu os horizontes, voltou mais madura. Você volta melhor. Para a nossa dupla, foi bem importante passar por isso", lembra Kahena, sobre a parada da dupla após os Jogos do Rio. "Eu adiantei bastante a faculdade, aliás. E me dava tanta saudade de velejar". Da parceira que estava na Volvo Ocean Race, também batia saudade: "Vira e mexe eu recebia um e-mail da Martine. Era difícil o acesso para ela. Aí ela escrevia para a família toda e me copiava. Era bem legal de receber".
As duas acreditam que têm personalidades que se complementam e que tornam a convivência mais fácil. "A Martine é uma pessoa fácil de conviver, não tem frescura com nada, come de tudo. Isso facilita muito a convivência. Se você tem uma dupla que não tem as mesmas vontades que você fica mais difícil de levar", opina Kahena. Martine retribui: "É mais fácil ainda. A Kahena, além de ser superfácil de conviver, é apaziguadora de conflitos. Eu sou um pouco mais metodistas, eu quero saber o porquê das coisas, se a gente não está fazendo da melhor maneira, por que a gente está fazendo assim?"
Em 2019, as campeãs olímpicas conquistaram seis títulos: Mid-Winter Miami, a etapa de Miami da Copa do Mundo de Vela, o Troféu Princesa Sofia, na Espanha; o Campeonato Europeu, na Inglaterra; os Jogos Pan-Americanos, em Lima, e o evento-teste de Tóquio 2020, em Enoshima. Elas encerraram o ano com a prata no no Mundial de 49erFX, em em Auckland, na Nova Zelândia.
"A gente teve uma temporada muito boa. A gente teve várias vitórias e algumas derrotas que foram bem frustrantes. Para 2016 a gente também teve campeonatos que não deram certo, mas a gente levanta melhor", diz Kahena.
Juntas, elas já se acostumaram a serem observadas pelas rivais. "Num campeonato como o Mundial tem mais barcos, mais gente vê você. Ou filmam sem você ver. Coisas que te causam um ligeiro desconforto", conta Martine, completando:"A gente tem vários vídeos incríveis de manobras, mas a gente não posta nenhum (risos)".