Por edsel.britto
Rio - Boa campanha no Brasileirão de 2013, grande ídolo internacional em campo e o retorno à Libertadores após 18 anos criaram uma grande expectativa tanto no clube quanto na torcida do Botafogo para a temporada de 2014. Porém, o que parecia um ano dos sonhos acaba neste domingo como mais um pesadelo para os alvinegros, que após 12 anos, presenciam mais um rebaixamento do clube carioca para a Série B.

Grave crise financeira, salários atrasados, 100% das receitas bloqueadas, sucessivas lesões, demissão de quatros jogadores titulares, brigas entre diretoria e jogadores e presidente afastado do clube. Este foi o cenário caótico do Botafogo durante o ano de 2014, que pode ser considerado o pior da história centenária do clube.

Capitão%2C principal ídolo da torcida e goleiro da seleção brasileira%2C Jefferson é um dos poucos jogadores do elenco que se salvam em meio a uma campanha pífiaVanessa Rodrigues/A Tribuna de Santos

Além disso, a perda do ídolo Seedorf no início da temporada, que se aposentou para virar treinador, a aposta em Eduardo Hungaro, treinador inexperiente para comandar o clube na Libertadores, foram os primeiros indícios de que o ano Alvinegro seria complicado. A falta de planejamento e de critério na contratação de jogadores por parte da diretoria também fez com que o Botafogo tivesse um elenco fraco e sem opções.

Diante de tantos problemas, o Botafogo vive o pior ano de sua história. Com mais derrotas do que vitórias na temporada - são 35 em 64 jogos disputados, sendo 22 somente no Campeonato Brasileiro, a pior marca do clube em toda sua participação na competição nacional. A última, para o Santos por 2 a 0, sacramentou o segundo rebaixamento do Alvinegro para a Série B do Brasileirão.

Insatisfeita%2C a torcida fez críticas ao presidente Maurício Assumpção durante todo o anoAlexandre Brum

Confira os principais erros do Botafogo:

Crise financeira
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Sem a receita do Engenhão, fechado para obras estruturais desde 2013, o Botafogo se viu em situação complicada para montar o elenco para a disputa da temporada de 2014. Somado ao prejuízo pela falta do estádio, o Alvinegro deixou o Ato Trabalhista. Posteriormente, 100% da receita do clube foi bloqueada. Sem dinheiro para contatar e repor a perda de jogadores como Seedorf e Rafael Marques, a direção resolveu apostar no bom e barato para composição do elenco.
Durante os seis anos gerindo o Botafogo%2C Maurício Assumpção conquistou dois cariocas%2C mas acumulou problemas e deixou o comando do Alvinegro com a dívida girando em torno de R$ 750 milhõesAndré Mourão

Porém, o barato saiu caro, já que desde o início do Campeonato Brasileiro a diretoria não consegue honrar os compromissos com os jogadores e atualmente os atletas estão próximos de completar três messes sem salários e estão há pelo menos oito sem receber os direitos de imagens - maior parte dos rendimentos. Além de não poder atuar no Engenhão, o Alvinegro também se viu proibido de atuar no Maracanã por conta de ação movida por Joel Santana que penhorou toda a renda dos jogos do clube no estádio.

Planejamento falho

O elenco que fez uma ótima temporada em 2013 e recolocou o Botafogo de volta à Libertadores após 18 anos foi completamente desfeito para 2014. Pilares do time como Dória, Lodeiro e Jorge Wagner deixaram o time no decorrer do Brasileirão, além de Seedorf, Rafael Marques e Elias, que deixaram o time no início do ano. Com perdas tão significativas, a diretoria não conseguiu peças de reposição à altura e esbarrou na dificuldade financeira na hora de contratar, o que reduziu e muito a qualidade do elenco durante o Brasileirão.

Contratado como o substituto de Seedorf, Jorge Wagner não correspondeu as expectativas e deixou o clube no início do Campeonato BrasileiroDivulgação

Lesões

Além da pouca qualidade do elenco, as lesões aumentaram os problemas do Botafogo. Apostando em jogadores mais experiente como Carlos Alberto, Rodrigo Souto e Marcelo Mattos, o Alvinegro teve dificuldades em escalá-los já que os atletas passaram mais tempo no departamento médico do que em campo. Mattos, por exemplo, teve um problema no púbis e só participou de três partidas na competição. Na reta final, Rogério e Wallyson também se machucaram nos treinos e desfalcaram o time nas últimas rodadas do Brasileirão.
Um dos reforços para a temporada%2C Carlos Alberto passou mais tempo no departamento médico do que em campoSatiro Sodré / SS Press

Briga entre jogadores e diretoria - Gottardo x Jefferson, faixa de protesto dos atletas

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A crise financeira e falta de salários criaram um clima de guerra entre os jogadores e a diretoria, principalmente o presidente Maurício Assumpção. Com promessas sucessivas não cumpridas de quitação da dívidas, jogadores mais experientes como Jefferson, Bolívar, Emerson Sheik, Julio Cesar e Edilson passaram a fazer duras críticas via imprensa ao mandatário e lideraram o grupo de atletas a reivindicarem seus direitos.

No clássico contra o Flamengo, sem o conhecimento por parte da diretoria, os jogadores foram a campo com uma faixa de protesto com os seguintes dizeres: "Estamos aqui porque somos profissionais e por vocês, torcedores. Cinco meses sem direito de imagem, três meses sem salários e FGTS". Foi apenas a primeira confusão entre os jogadores e diretoria. Meses depois, o principal ídolo da torcida e líder do elenco, Jefferson se envolveu em uma discussão com o gerente de futebol Wilson Gottardo após o goleiro retornar da seleção brasileira e não se apresentar para o segundo jogo das quartas da Copa do Brasil contra o Santos, em São Paulo.

Contra o Flamengo%2C os jogadores do Botafogo entraram com uma faixa de protesto contra a diretoriaCarlos Moraes

Tudo porque, segundo o goleiro, ele teria sido dispensado da concentração do time e que deveria ficar no Rio treinando. Já Gottardo afirmou que Jefferson disse que não iria se apresentar pois estaria cansado após a longa viagem. O desentendimento chegou à imprensa. Em uma entrevista, o gerente disse que só lidava com profissionais e que o camisa 1 não tinha esse perfil. Além do bate-boca com Gottardo, Jefferson fez constantes críticas ao presidente Maurício Assumpção durante toda a temporada.

Demissões
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Duramente criticado pelas principais lideranças do elenco, o presidente Maurício Assumpção acabou se afastando da gestão do futebol do clube durante o Brasileirão. Após sucessivos problemas e a situação complicada na tabela, o mandatário resolveu reaparecer para tomar as rédeas da situação e demitiu quatro jogadores que considerava líderes negativos para o grupo: Bolívar, Edilson, Emerson Sheik e Julio Cesar. Entres os demitidos, apenas o lateral-esquerdo não era titular absoluto no time de Vagner Mancini, que após ter ciência das demissões, colocou o cargo à disposição da diretoria, que recusou demitir o treinador.
Edilson%2C Sheik%2C Bolívar e Julio Cesar não economizaram nas críticas a Maurício Assumpção após serem demitidos pelo presidente em outubroMárcio Mercante

Para justificar sua decisão, Maurício afirmou que tomou esta atitude porque deveria fazer alguma coisa e, caso o Botafogo fosse rebaixado, a culpa já seria dele, então tudo deveria funcionar da forma que lhe parecesse certa. Após as demissões, o elenco ficou ainda mais enfraquecido e o Alvinegro não poderia mais contratar porque as inscrições no Campeonato Brasileiro já haviam fechado. Além dos quatro demitidos, o lateral-direito Lucas já havia deixado após entrar na Justiça e conseguir a rescisão unilateral do seu contrato por conta dos salários atrasados.

Pior aproveitamento da história no Brasileiro e no ano
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Com inúmeros problemas extracampo, o Botafogo teve seu pior ano dentro dos gramados. Com 35 derrotas em 64 jogos disputados, o Alvinegro teve a pior temporada em aproveitamento nos últimos anos. No Brasileiro, o desastre foi maior ainda. Em 37 partidas, o clube carioca saiu derrotado em 22 oportunidades, conquistando apenas 29,7% dos pontos em jogo. Fora de casa, a campanha foi pior ainda, com apenas uma vitória, dois empates e 16 derrotas. O aproveitamento é de apenas 8,7%, sendo o pior entre os 20 clubes. Os números evidenciam que o Botafogo viveu dentro de campo o pior ano de sua história.
O Botafogo teve o pior aproveitamento de sua história no Brasileirão. Na temporada, o Alvinegro soma mais derrotas do que vitórias - são 35 em 64 partidas disputadasErnesto Carriço

Aproveitamento do Botafogo nos últimos oito Brasileiros:

2006 - 42% = 12 derrotas
2007 - 48% = 11 derrotas
2008 - 46% = 15 derrotas
2009 - 41% = 13 derrotas
2010 - 52% = 7 derrotas
2011 - 49% = 14 derrotas
2012 - 48% = 13 derrotas
2013 - 53% = 11 derrotas
2014 - 29,7% = 22 derrotas
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Reportagem Edsel Britto