Publicado 29/10/2021 16:19
Rio - O Botafogo planeja criar em 2022 um setor exclusivo para mulheres no estádio Engenhão, com o objetivo de evitar o assédio ao público feminino, um dos graves problemas nas arquibancadas pelo Brasil. O projeto, que ainda está sendo discutido internamente, promove o aprofundamento do debate sobre a vivência das torcedoras nos estádios pelo País.
Quem está comandando o programa é o diretor de negócios do Botafogo, Lênin Franco, que trabalhou no Bahia em 2019, quando o clube baiano criou medidas de combate à violência contra a mulher, como um site para torcedoras denunciarem situações de assédio em estádios, além de fornecer informações e estatísticas sobre o tema.
A ideia do setor exclusivo é resultado de uma parceria do Botafogo com o programa Empoderadas, ligado à secretaria estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. A especialista em segurança feminina, Erica Paes, que lidera o programa, foi responsável por atuar junto à diretoria alvinegra no desenvolvimento do projeto, além de outras ações.
"Fomos procurados pelo presidente do Botafogo e, inicialmente, era para ver quais propostas poderíamos estar construindo para as mulheres. A ideia (do setor) foi sugerida por mim, ele adorou Nosso trabalho é sobre respeito e acolhimento. Não gostaria de ter um espaço exclusivo para mulheres, mas é necessário. A questão não é separar, mas oferecer um lugar seguro para elas. Acho que vai ser incrível para elas", opina.
Erica comenta que também realizará um workshop no clube sobre conscientização a respeito da violência contra a mulher. "Vai ser uma grande roda de conversa com jogadores, diretoria e chefes de torcida para tratar sobre como agir e como não agir nos casos de assédio e violência na sociedade como um todo".
A pesquisadora do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte (LEME), da Uerj, Leda Costa espera que a criação do setor exclusivo para mulheres no Engenhão seja um projeto inicial para chamar atenção à falta de segurança que torcedoras enfrentam nas arquibancadas e que, futuramente, esses espaços não sejam necessários.
"Você viabiliza a presença de mulheres sem o risco delas serem importunadas no momento de torcer. A ideia do setor não é excludente porque é um programa no qual as próprias mulheres estão participando, não vem de cima para baixo. O setor não é obrigatório, as mulheres não precisam estar ali, mas é importante que ele exista. Vale lembrar que o estádio já é compartimentalizado, dividido em setores (por valor de ingresso)", avalia Leda, que também destaca a importância de ter profissionais preparados nos estádios para lidarem com os casos de assédio e violência.
A historiadora do esporte Aira Bonfim avalia que a proposta do setor exclusivo para torcedoras é importante, mas não pode acontecer de forma isolada e deve ser temporária. "Precisa ter um prazo para ser avaliada, para acabar. Precisamos de outras ações em curso além dessa. Muito se ignorou a violência contra a mulher no estádios. Não adianta fazer o vagão só para mulheres no metrô se você não tem ações permanentes para reduzir essa necessidade", analisa Aira, que pontua haver ainda muito trabalho pela frente.
Na torcida do Botafogo, há resistência contra a medida. A assistente administrativa Ana Carvalho compõe o movimento BotaFOGO no Assédio, que surgiu em 2020 após uma série de denúncias de assédio a uma torcedora no Engenhão, e diz que o grupo, contrário à criação do setor, não foi procurado pela diretoria alvinegra.
"Parece uma notícia boa, mas chegamos a um consenso que é muito problemático. O Botafogo não ouviu o público feminino. A nossa comunicação com o clube é quase inexistente. Não entraram em contato com a gente. A gente pede para ser ouvida. Desde março do ano passado, conseguimos falar com o Botafogo uma vez. Por que não pensar em algo mais inclusivo? O estádio inteiro tem que ser seguro, não só um pedaço."
A publicitária e torcedora Deborah Rocha também não concorda com a medida e sugere que o clube tenha outras ações de conscientização sobre o tema tanto no estádio como em suas redes sociais. "(O setor) Não soluciona o problema. Na entrada e na saída, elas estarão junto a homens, por exemplo. Nós queremos ter a liberdade para torcer onde quisermos. Gostaria de ver mais mulheres no policiamento de estádios porque elas entendem melhor essas situações, e também a presença de um lugar de acolhimento no local."
No ano passado, uma lei estadual sancionada pelo então governador do Rio, Wilson Witzel, criou campanhas permanentes contra o assédio e a violência sexual nos estádios. O projeto de autoria da deputada estadual Dani Monteiro (PSOL-RJ) prevê a realização de ações educativas que serão divulgadas no telão e nos alto-falantes nos intervalos, e contou com ajuda de torcedoras que contribuíram na elaboração do projeto.
Também visa colocar em prática a divulgação de políticas públicas voltadas para o atendimento das vítimas, treinamento de funcionários sobre o tema e a disponibilização das câmeras nos estádios para reconhecimento e identificação de infratores. A secretaria estadual de Esporte, Lazer e Juventude foi procurada pelo Estadão para responder sobre o andamento da campanha com o retorno do público aos estádios, mas não obteve resposta.
AÇÕES DO BOTAFOGO CONTRA A DESIGUALDADE DE GÊNERO
Quem está comandando o programa é o diretor de negócios do Botafogo, Lênin Franco, que trabalhou no Bahia em 2019, quando o clube baiano criou medidas de combate à violência contra a mulher, como um site para torcedoras denunciarem situações de assédio em estádios, além de fornecer informações e estatísticas sobre o tema.
A ideia do setor exclusivo é resultado de uma parceria do Botafogo com o programa Empoderadas, ligado à secretaria estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. A especialista em segurança feminina, Erica Paes, que lidera o programa, foi responsável por atuar junto à diretoria alvinegra no desenvolvimento do projeto, além de outras ações.
"Fomos procurados pelo presidente do Botafogo e, inicialmente, era para ver quais propostas poderíamos estar construindo para as mulheres. A ideia (do setor) foi sugerida por mim, ele adorou Nosso trabalho é sobre respeito e acolhimento. Não gostaria de ter um espaço exclusivo para mulheres, mas é necessário. A questão não é separar, mas oferecer um lugar seguro para elas. Acho que vai ser incrível para elas", opina.
Erica comenta que também realizará um workshop no clube sobre conscientização a respeito da violência contra a mulher. "Vai ser uma grande roda de conversa com jogadores, diretoria e chefes de torcida para tratar sobre como agir e como não agir nos casos de assédio e violência na sociedade como um todo".
A pesquisadora do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte (LEME), da Uerj, Leda Costa espera que a criação do setor exclusivo para mulheres no Engenhão seja um projeto inicial para chamar atenção à falta de segurança que torcedoras enfrentam nas arquibancadas e que, futuramente, esses espaços não sejam necessários.
"Você viabiliza a presença de mulheres sem o risco delas serem importunadas no momento de torcer. A ideia do setor não é excludente porque é um programa no qual as próprias mulheres estão participando, não vem de cima para baixo. O setor não é obrigatório, as mulheres não precisam estar ali, mas é importante que ele exista. Vale lembrar que o estádio já é compartimentalizado, dividido em setores (por valor de ingresso)", avalia Leda, que também destaca a importância de ter profissionais preparados nos estádios para lidarem com os casos de assédio e violência.
A historiadora do esporte Aira Bonfim avalia que a proposta do setor exclusivo para torcedoras é importante, mas não pode acontecer de forma isolada e deve ser temporária. "Precisa ter um prazo para ser avaliada, para acabar. Precisamos de outras ações em curso além dessa. Muito se ignorou a violência contra a mulher no estádios. Não adianta fazer o vagão só para mulheres no metrô se você não tem ações permanentes para reduzir essa necessidade", analisa Aira, que pontua haver ainda muito trabalho pela frente.
Na torcida do Botafogo, há resistência contra a medida. A assistente administrativa Ana Carvalho compõe o movimento BotaFOGO no Assédio, que surgiu em 2020 após uma série de denúncias de assédio a uma torcedora no Engenhão, e diz que o grupo, contrário à criação do setor, não foi procurado pela diretoria alvinegra.
"Parece uma notícia boa, mas chegamos a um consenso que é muito problemático. O Botafogo não ouviu o público feminino. A nossa comunicação com o clube é quase inexistente. Não entraram em contato com a gente. A gente pede para ser ouvida. Desde março do ano passado, conseguimos falar com o Botafogo uma vez. Por que não pensar em algo mais inclusivo? O estádio inteiro tem que ser seguro, não só um pedaço."
A publicitária e torcedora Deborah Rocha também não concorda com a medida e sugere que o clube tenha outras ações de conscientização sobre o tema tanto no estádio como em suas redes sociais. "(O setor) Não soluciona o problema. Na entrada e na saída, elas estarão junto a homens, por exemplo. Nós queremos ter a liberdade para torcer onde quisermos. Gostaria de ver mais mulheres no policiamento de estádios porque elas entendem melhor essas situações, e também a presença de um lugar de acolhimento no local."
No ano passado, uma lei estadual sancionada pelo então governador do Rio, Wilson Witzel, criou campanhas permanentes contra o assédio e a violência sexual nos estádios. O projeto de autoria da deputada estadual Dani Monteiro (PSOL-RJ) prevê a realização de ações educativas que serão divulgadas no telão e nos alto-falantes nos intervalos, e contou com ajuda de torcedoras que contribuíram na elaboração do projeto.
Também visa colocar em prática a divulgação de políticas públicas voltadas para o atendimento das vítimas, treinamento de funcionários sobre o tema e a disponibilização das câmeras nos estádios para reconhecimento e identificação de infratores. A secretaria estadual de Esporte, Lazer e Juventude foi procurada pelo Estadão para responder sobre o andamento da campanha com o retorno do público aos estádios, mas não obteve resposta.
AÇÕES DO BOTAFOGO CONTRA A DESIGUALDADE DE GÊNERO
O clube tem se notabilizado por posturas de combate à desigualdade de gênero no futebol e na sociedade. Neste mês, em uma partida contra o Brusque pela Série B, parte da torcida alvinegra ofendeu de forma machista a auxiliar de arbitragem Katiuscia Mendonça. Após o apito final, o presidente Durcesio Mello entregou à Katiuscia uma carta com pedido de desculpas. "O Botafogo acredita no seu trabalho e defende a equidade de gênero", dizia a nota.
Em 2019, promoveu uma ação com a ONU Mulheres Brasil no Dia das Mães, destacando as mulheres que criam filhos sozinhas em uma campanha para cobrar a responsabilidade de homens no papel da paternidade. Antes, em março, contra o Madureira, os jogadores entraram em campo com mulheres vítimas de violência de gênero, além de integrantes e voluntárias da ONG Não Me Kahlo. A campanha "Não se Cale - O Botafogo contra o Feminicídio" também abarcou uma série de ações voltadas ao público feminino.
Em 2019, promoveu uma ação com a ONU Mulheres Brasil no Dia das Mães, destacando as mulheres que criam filhos sozinhas em uma campanha para cobrar a responsabilidade de homens no papel da paternidade. Antes, em março, contra o Madureira, os jogadores entraram em campo com mulheres vítimas de violência de gênero, além de integrantes e voluntárias da ONG Não Me Kahlo. A campanha "Não se Cale - O Botafogo contra o Feminicídio" também abarcou uma série de ações voltadas ao público feminino.
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