Por nara.boechat
Manaus - Após vistoria na manhã de ontem, técnicos do Ministério Público do Trabalho do Amazonas decidiram manter a interdição da obra na cobertura da Arena Amazônia. Desde a noite de sábado, o trabalho estava proibido no local pela Justiça do Trabalho.
Apesar de a interdição determinada pela Justiça ser parcial, na manhã de ontem a construção do estádio ficou completamente parada por causa de uma greve dos trabalhadores. Eles suspenderam as atividades para denunciar a falta de condições de trabalho e protestar contra a morte de Marcleudo de Melo Ferreira, de 22 anos.
Trabalhadores cruzaram os braços na manhã de ontem. Cobravam melhores condições de segurança e protestavam contra morte de colegaReuters

O operário morreu por volta das 4h de sábado quando despencou de uma altura de 35 metros quando trabalhava na cobertura do estádio. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil do Amazonas, Cícero Custódio, a morte foi consequência do desrespeito a normas de segurança e do excesso de trabalho a que os operários são submetidos.

Publicidade
Segundo ele, por causa do atraso no cronograma da obra, os operários estão sendo obrigados a trabalhar em turnos ininterruptos para que a entrega da Arena seja feita no mês que vem. “Eles estão trabalhando sob pressão para dar conta do cronograma”, disse Custódio ontem, no canteiro de obras.
A Unidade Gestora do Projeto Copa (UGP Copa), responsável pela obra, informou que manterá as frentes de trabalho nos setores onde não há interdição. O acidente foi classificado como “fatalidade” pela entidade.
Publicidade
Em nota, a UGP Copa informou que está cumprindo a decisão da Justiça e que está “tomando as medidas cabíveis para a retomada completa da obra” e que os demais serviços vão continuar normalmente”.
Para retomar a obra na cobertura, a UGP Copa e a Construtora Odebrechet terão que comprovar ao Ministério Público do Trabalho e à Justiça do Trabalho que estão sendo observadas todas as normas de segurança estabelecidas pelo Ministério do Trabalho.
Publicidade
Cícero Custódio ameaçou ontem estender de novo a paralisação a todo o estádio se as condições de trabalho não melhorarem. “Não somos contra a Copa, mas queremos que haja segurança”.
Governador alega que segurança deve ter prioridade
Publicidade
O governador do Amazonas, Omar Aziz, negou ontem que a aceleração das obras tenha sido a causa do acidente. Segundo ele, não há necessidade de entregar em janeiro o estádio pronto, mas o compromisso assumido com a Fifa era entregar o estádio no mês que vem.
Aziz alegou que entrou em contato com procuradores do Ministério Público do Trabalho para pedir rigor na fiscalização da segurança dos operários que trabalham na obra. “Não existe motivos para a empresa descumprir normas de segurança”, afirmou o governador.
Publicidade
Ele disse que está preocupado com o cronograma, mas a segurança dos trabalhadores deve ser a prioridade. “Uma coisa é estar preocupado e outra coisa é colocar em risco a vida das pessoas. A pressa é inimiga da perfeição. Quero garantia para segurança das pessoas”.
Omar Aziz afirmou ainda que, se houve erro da empresa contratada para construir o estádio, ela deve ser responsabilizada. “A empresa precisa oferecer segurança para os trabalhadores, independentemente se há prazos para entregar”, afirmou.
Publicidade
MP atrasa laudo e obras do Itaquerão
O atraso na elaboração do laudo sobre o acidente que matou no dia 27 de novembro dois operários na Arena Corinthians, o Itaquerão, pode atrasar ainda mais a obra e comprometer a entrega na data prevista, 15 de abril. A Construtora Odebrechet depende do documento para retirar o guindaste envolvido no acidente e retomar a colocação da cobertura.
Publicidade
O Ministério Público alega que está com dificuldades para contratar um instituto para fazer a perícia no local. Sem ela, não pode ser liberada a retirada do equipamento e a volta da obra.
O argumento é de que, pela complexidade do acidente e o tamanho do guindaste, há apenas dois institutos habilitados a fazer a perícia: o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
A construtora já manifestou preocupação com a possibilidade de a demora acarretar atraso na conclusão do estádio, onde está previsto o jogo de abertura da Copa.
Publicidade