Por pedro.logato

São Paulo - Nenhum chileno, esteja vivo ou morto, do poeta Pablo Neruda até a presidente socialista Michelle Bachelet, gostaria de enfrentar o dono da casa pentacampeão mundial num jogo decisivo de Copa do Mundo. Mas certamente nenhum deles torceu mais do que Carlos Felipe Riquelme para que esse confronto jamais acontecesse. Mais conhecido pelos paulistanos amantes da boa mesa como Guatón, o chileno radicado na cidade há 37 anos está com o coração, literalmente, dividido.

“Isso é como pedir para você escolher entre o seu pai e a sua mãe. É simplesmente impossível”, diz o bigodudo dono do restaurante típico que lhe deu o apelido. Nesse duelo familiar, a mãe seria o Chile, “que me deu a vida”, e o pai o Brasil, “que me criou”.

Guatón está indeciso sobre torcidaPatricia Stavis

O senhor das empanadas jura que ficará neutro hoje. Mas, ao ser questionado sobre seu palpite para o embate que eliminará uma de suas paixões da Copa, ele deixou o coração de lado. “Até gostaria que o Chile ganhasse. Mas isso é uma utopia. Se não ganhou até hoje, como é que vai fazer isso agora?”, confessou.

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Dono de um humor escrachado e de imenso bigode, Guatón conta ter outros motivos para não torcer pela seleção de seu país natal. “Se o Chile ganhar, vão quebrar os meus restaurantes”, brinca o gozador, que se tornou uma espécie de cônsul informal em São Paulo.

Mesmo habituado a receber compatriotas em suas duas casas, localizadas nos vizinhos bairros de Pinheiros e Vila Madalena, na zona boêmia da cidade, Guatón admite que está impressionado com o número de conterrâneos em São Paulo por conta do Mundial. No dia de Holanda e Chile, calculava-se que havia 70 mil deles na cidade.

“Tem mais chileno do que gente aqui”, diverte-se. E boa parte deles estará ao lado do bigodudo gozador no consulado informal do Chile.

Um cônsul informal no país

Guatón chegou a São Paulo em 1977. Deixava para trás um Chile empobrecido e sob o jugo da sanguinária ditadura Pinochet. Militante da Esquerda Cristiana, achou melhor sair antes que as coisas ficassem piores para ele e sua família.

É muito querido pela comunidade chilena de São Paulo. Até um tempo atrás distribuía empanadas e pastéis de choclo aos compatriotas presos e sempre ajudou nas festas e datas comemorativas da colônia, como o Dia da Pátria e o da Virgen del Carmen, santa padroeira do país andino.

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