Rio - A maneira de jogar da França faz lembrar uma célebre definição do compositor Ismael Silva (1905-1978) para o estilo de samba criado por ele e por outros bambas do Estácio na década de 1920. Numa entrevista a Sérgio Cabral, pai, ele disse que o samba tinha até então uma sequência rítmica que inviabilizava o desfile de blocos, “tan tantan tan tantan”. “Como é que um bloco ia andar na rua assim?”, ressaltou o autor de ‘Antonico’ e um dos fundadores da primeira escola de samba, a Deixa Falar. Daí, eles trataram de mudar a batida, e surgiu o “bum bum paticumbum prugurundum” — a alteração deu samba, viabilizou os desfiles e, tornada enredo, fez do Império Serrano campeão em 1982.
Voltemos ao futebol. Enquanto o Brasil contra o Chile apelou muitas vezes para o chutão monótono, um tan tantan, tan, tantan que compromete qualquer evolução, os franceses foram mais ritmados e objetivos. Um toque, bum, para Pogba que, bum, acionava Valbuena. Este — paticumbum prugurundum — não perdia tempo, passava para Giroud, Benzema ou Debuchy. Outras vezes, devolvia a bola para Pogba. Tudo muito rápido, numa evolução quase tão vertical quanto a de uma escola de samba.
Encarregado de distribuir o jogo no ataque, Pogba deu 47 passes, 13 para Valbuena, que lhe devolveu a gentileza 16 vezes — trocaram, entre si, 29 passes. Ao longo dos 90 minutos, o primeiro recebeu a bola 52 duas vezes; o segundo, 54. O lateral Debuchy, que não abriu mão de atacar, foi acionado em nove ocasiões por Pogba e outras tantas pelo baixinho Valbueno.
No Brasil, Fernandinho e Ramires, que entrou em seu lugar, jogaram 120 minutos (houve prorrogação). Juntos, os dois, que deveriam ligar a defesa ao ataque, deram 27 passes. Oscar, que ocupou em campo posição semelhante à de Pogba, deu 23 passes corretos ao longo de 111 minutos: seu índice de acerto foi de 56%; o do francês, 78%. No fim d<MC0>as contas, sofremos nos pênaltis, eles meteram 2 a 0 na Nigéria. O Brasil precisa tomar aulas de samba com a França.
