Morro do BarbanteDIVULGAÇÃO
Por Yuri Eiras
Publicado 24/11/2019 04:00 | Atualizado 24/11/2019 14:58

Rio - Um adesivo colado num bar do Morro da Coroa, região central da cidade, decretava: ‘obrigatório ser feliz neste local’. A impressão é de que este foi um acordo firmado nas centenas de favelas do Rio. O sábado foi especialmente para praticar o rubro-negrismo. Bandeiras, fogos, alto falantes: o que se via, ouvia e falava era o Flamengo. Bem verdade que o jogo duro contra o River Plate deixou o clima tenso nos morros. Ainda assim, era outra tensão. O bolso vazio, o trem lotado, a bronca do chefe e a violência ficou na sexta-feira. Sábado foi dia de Flamengo em campo, e uma lição: acreditar sempre.

São Pedro colaborou com um dia de sol na cidade - a chuva só caiu no segundo tempo do jogo. Muitos já gritavam ‘Mengo’ ainda pela manhã, enquanto iam às vendinhas garantir o carvão e o gelo para o churrasco. Na comunidade da Vila Sapê, em Jacarepaguá, foram 50kg “entre carne, asa de frango e linguiça, além do nosso famoso pão de alho”, diz Katyto, um dos líderes da torcida ‘Fla Vila Sapê’.

Antes do jogo, um grupo de pagode animou os moradores. Ou mascarou a ansiedade. Perto dali, no mesmo bairro, a festa da Fla-CDD foi na quadra do Coroado, a escola de samba da Cidade de Deus. “Aqui é sempre pique Maracanã: tem canto, bateria, bandeirão. Mais de três mil pessoas compareceram”, avalia Dario Loureiro, um dos organizadores.

Na CDD, a festa contagiou a galeraFoto de Leitor

Durante o jogo, a luz caiu na comunidade, e só voltou minutos depois. No Jacaré, um 'camisão' de 6m x 5m foi estendido na entrada da comunidade.

Em Manguinhos, a festa foi na rua. Torcedores do Vasco - com camisa e tudo - assistiram ao jogo secando quietinhos. Ontem, até a buzina das motos soavam na cadência de um grito de ‘Men-go’. Durante o jogo, nervosismo. Fogos esporádicos pareciam tentar chamar um gol do Flamengo, mas foi o River Plate quem abriu o placar. Silêncio nos becos. Ninguém conversava. Os torcedores olhavam a televisão e faziam careta, como se bebessem cerveja quente. “Tá faltando garra nesse time hoje (ontem). Garra de favelado. Alguém que ponha a bola debaixo do braço e chame a responsa”, comentou, aos berros, Orlando Monteiro, morador de Manguinhos.

Não adiantou os vascaínos secarem em ManguinhosFoto de Leitor

Tudo parecia dar errado, mas um bom morador de favela não desiste na primeira. Nem na segunda. Quando precisa, mata no peito, dribla a marcação da vida e balança a rede. Pois um um silêncio precedeu um barulho. Veio o primeiro gol e o estouro dos fogos. E o segundo. Mais fogos, cervejas jogadas ao alto e um grito: o grito rasgado das gargantas que esperavam há 38 anos uma final de Libertadores.


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