Por edsel.britto
Rio - Além de ter de superar as dificuldades diárias em um país que não facilita a acessibilidade dos deficientes, os atletas paralímpicos brasileiros têm que enfrentar e transpor difíceis barreiras no esporte, como a falta de apoio e a pouca visibilidade. Com uma Paralimpíada em casa, na Rio-2016, eles esperam aproveitar o evento para mostrar aos brasileiros que merecem atenção maior.
Odair Santos (segundo à esquerda)%2C com seu atleta-guia Carlos Santos%2C Fernando Fernandes e Verônica Hipólito%3A luta para superar a dificuldade e o preconceitoErnesto Carriço / Agência O Dia

“As pessoas veem muito o atleta paralímpico como alguém que tem deficiência e quer fazer esporte. Não é isso. Eu penso que é um atleta com lesão, por isso é separado em categoria. Teremos uma grande chance, será um evento acessível. Com uma campanha mais forte, dá para colocar mais gente lá dentro. Em Londres-2012, conseguiram tirar essa barreira de olímpico e paralímpico. Quem sabe não conseguimos aqui?”, afirmou a velocista Verônica Hipólito.

Uma das grandes dificuldades para os atletas é obter patrocínio ou até mesmo apoio federal. Enquanto o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) conseguiu R$ 200 milhões de repasses da Lei Agnelo/Piva (arrecadação das loterias federais), o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) ficou com R$ 40 milhões em 2015. Menos mal que, para 2016, essa divisão de 85% contra 15% será menor (62,96% a 37,04%) e, com a sanção da Lei de Inclusão, permitirá arrecadação de R$ 120 milhões ao CPB.

“Somos alto rendimento, ficamos em sétimo lugar na Paralimpíada, isso é uma potência no esporte! Muitos ainda nos veem como pessoas com deficiência e batalhamos todo dia para mudar isso. Tem que olhar a medalha, o suor, a dor, o resultado. Depois, se quiser complementar, fala o que a gente teve”, desabafou Verônica.
Publicidade
E completou: “Tive que acompanhar pela Internet o Mundial de Paratletismo. Isso magoa e atrapalha. Quando tem visibilidade, as empresas percebem que você pode ir adiante com mais apoio.”
Nem mesmo o desempenho muito superior nos Jogos Paralímpicos em relação aos Olímpicos foi capaz de mudar o panorama ou facilitar a busca por patrocinadores.
Publicidade
“A luta foi muito grande até conquistar o primeiro patrocinador e continua dia a dia para que as pessoas se interessem em nos apoiar. O segredo é não desistir nunca”, revelou o fundista Odair Santos, dono de sete medalhas paralímpicas (três de prata e quatro de bronze) em Atenas-2004, Pequim-2008 e Londres-2012.
Com muito a aprender e a desenvolver, o Brasil terá uma chance de ouro em 2016. O processo não será dos mais fáceis, mas superar as dificuldades é algo que os paratletas conhecem bem.
Publicidade
“O esporte paralímpico tem que mostrar que, além de superatletas, somos super-humanos que superamos a adversidade física e do dia a dia para conquistar um objetivo. Temos que criar nosso espaço e é possível porque são histórias muito fortes, duras, pesadas. Há coisas fantásticas de pessoas que deram a volta por cima. Esse é o caminho. A deficiência é algo novo nos olhos da sociedade e temos o papel de quebrar essa barreira do que é incapacidade e deficiência física”, ressaltou Fernando Fernandes, da paracanoagem.
Além de enfrentar a barreira do preconceito, a próxima Paralimpíada é encarada como a chance de servir de exemplo e desenvolver ainda mais os esportes.
Publicidade
“Podemos incentivar crianças e pessoas que estão em casa desacreditadas. A partir do momento em que observarem as competições e o nosso desempenho, elas podem mudar o pensamento e, quem sabe, começar a praticar um esporte paralímpico”, acrescentou Odair.