Por ulisses.valentim

Rio - Cristovão Borges começou a escrever sua história como treinador no Vasco, em setembro de 2011, após o AVC de Ricardo Gomes, e o carinho pelo ex-clube é real. Mas o mundo do futebol dá voltas. Hoje no Bahia, ele buscará a arrancada no returno do Brasileirão, às 16h, na Fonte Nova, e, de quebra, poderá aumentar a crise no Gigante da Colina, que vem de cinco derrotas consecutivas.

Nesta entrevista, Cristóvão garantiu que, mesmo com amigos do lado oposto, o profissionalismo vai falar mais alto quando a bola rolar. Mas, com a propriedade de quem viveu bons momentos em São Januário, ele também acredita na reação do Vasco na competição.

Cristóvão Borges ganhou projeção pelo VascoDivulgação

ODIA: Como tem sido o desafio de comandar o Bahia, clube pelo qual você torce desde criança, e a missão de reestruturar um time até então desacreditado por muitos?

CRISTÓVÃO BORGES: Assumi em momento complicado, pois o time havia sido derrotado na final do Baiano e o clube estava em crise. O maior desafio foi ter de recuperar rapidamente a autoestima do grupo, mas todos assimilaram bem o método de trabalho. Começamos bem o Brasileiro. Porém, como não temos um elenco numeroso, caímos de rendimento após a Copa das Confederações e ficamos um bom tempo sem pontuar. Só fomos retomar as boas atuações agora no segundo turno. Era o desafio que eu precisava após o Vasco.

ODIA: Invicto no segundo turno, com 31 pontos e no meio da tabela, o objetivo do Bahia é pelo menos buscar uma vaga no G4?

CRISTÓVÃO BORGES: Não, de forma alguma. Não confiamos neste pensamento. Para o Bahia chegar ao G-4, precisaremos de muito mais. Nossa intenção é ir jogando sem pressão, um passo por vez e ver no que vai dar. Não queremos essa ansiedade, pois isso poderá prejudicar o nosso rendimento.

ODIA: Existem semelhanças entre o desafio que você teve de aceitar comandar o Vasco e o de agora de comandar o Bahia?

CRISTÓVÃO BORGES: Vivi um momento fantástico em São Januário, mágico, mas foi uma missão que caiu no meu colo por causa do problema de saúde do Ricardo Gomes (AVC em agosto de 2011). Nunca ia imaginar o que aconteceu. Agora é outro tipo de desafio. A semelhança pode ser a dificuldade nos dois trabalhos. Mas a experiência que tive no Vasco tem me ajudado agora. Tenho mais clareza e domínio de tudo.

Cristovão não acredita no rebaixamento do Vasco da GamaDivulgação

ODIA: você nunca escondeu o carinho que sente pelo Vasco e já viveu um momento emocionante ao reencontrar o time e seu amigo Ricardo Gomes no primeiro turno. Como será enfrentar o Gigante e saber que poderá afundá-lo ainda mais na crise?

CRISTÓVÃO BORGES: Não existe esse sentimento e, sinceramente, não penso nisso. Na hora em que a bola rola, tenho de ser profissional e defender o meu clube, que é o Bahia. A gente precisa distinguir esse sentimento. Lógico que o meu carinho pelo Vasco não vai mudar nunca. Não será um jogo que vai transformar as coisas. Tudo o que vivi lá está na minha memória, as amizades que fiz e até hoje sou grato por terem acreditado no meu trabalho. Mas, durante os 90 minutos, não tem como pensar nessas coisas. Depois, independentemente do resultado, isso passará e vou combinar de sair para jantar com o Ricardo (Gomes).

ODIA: Na sua avaliação, o Vasco, que perdeu as quatro partidas do returno e está na zona da degola, tem grandes chances de ser rebaixado este ano?

CRISTÓVÃO BORGES: Digo com todas as letras. O Vasco não vai cair. Conheço bem o clube, a torcida e, acima de tudo, as pessoas que trabalham lá. Acompanho de perto e sei que todos estão empenhados em subir na tabela. O Vasco é gigante, tem tradição e força. Tenho certeza de que vai sair dessa e reagir na competição. Por isso, a partida deste domingo será muito perigosa para a gente.

ODIA: Na sua opinião, a disputa política, que já esquenta os bastidores do clube a um ano das eleições presidenciais, tem influenciado negativamente no desempenho do Vasco dentro de campo no Campeonato Brasileiro?

CRISTÓVÃO BORGES: Estive no Vasco por quase dois anos e, nesse período, o clube já vivia essa essência política. Acho que, mesmo antes, isso sempre aconteceu. Na minha opinião, o grande problema de lá, no entanto, é a parte econômica. A falta de dinheiro em caixa influencia todos os setores, até mesmo o político. É muito difícil viver dessa forma e é ainda mais complicado manter um trabalho de alto nível por tanto tempo. Isso é um aspecto sério para reflexão, mas, pelo que vejo, a diretoria tem trabalhado para solucionar esse problema rapidamente.

ODIA: Existe um movimento organizado por vários atletas e seu sindicato para discutir novamente o calendário do futebol brasileiro. O que você acha sobre isso?

CRISTÓVÃO BORGES: Eles contam com o meu total apoio. Acho correto esse tipo de movimento, pois, com o atual calendário, fica difícil mantermos a qualidade do espetáculo, que tem valor grande e não deixa de ser um negócio. Se cobram preços tão altos de ingresso, por que não pensarmos na qualidade do jogo? Com essa sequência, temos muitas lesões e jogadores cansados. A causa é justa e os atletas precisam mesmo se posicionar.

ODIA: Qual é a sua análise do jogo de hoje à tarde. Você acredita que poderá aproveitar a instabilidade emocional que o Vasco está vivendo?

CRISTÓVÃO BORGES: Sem querer adotar postura política, quando penso nessa partida, só vejo dificuldades. Nós tivemos pouco tempo de descanso após a partida contra o Atlético Nacional, da Colômbia (quinta-feira, pela Copa Sul-Americana) e eles pouparam atletas na Copa do Brasil para priorizar este duelo. Vamos nos preparar para fazer um grande jogo, mas sempre com o maior respeito possível pelo Vasco, que buscará os três pontos.

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