Apesar da presença forte dos investidores estrangeiros nos últimos meses, a Bovespa fechará hoje o primeiro semestre do ano com performance sofrível: seu principal índice, o Ibovespa, acumulava até sexta-feira a valorização de apenas 3,20%. Para se igualar a altas registradas atualmente por outras bolsas de outros países emergentes, que já alcançam mais de 20%, a bolsa brasileira terá que buscar valorização no segundo semestre em pleno período eleitoral e incertezas sobre a movimentação do do fluxo mundial de investimentos de mercados emergentes para economias de menor risco como a dos Estados Unidos e da zona do euro.
A bolsa foi castigada no período por fatores internos e externos e poucos setores conseguiram se descolar do marasmo por razões específicas. Segundo levantamento da Economatica, de 2 de janeiro a 26 de junho, o setor de educação foi destaque do Ibovespa, com as ações ordinárias da Kroton e da Estacio Participação liderando o ranking, com valorização, respectivamente, de 58,29% e 43,61%. A boa rentabilidade dos papéis foi reflexo da nova política de concessão de crédito do governo federal para bolsas de estudo aos estudantes de escolas particulares. Na ponta oposta do Ibovespa, ficaram duas ações do setor siderúrgico, a ordinária da MMX Mineração e a preferencial classe A da Usiminas, papéis atingidos por questões internas das empresas, que fizeram acumular perda de 44,76% e 44,33%, respectivamente, no mesmo período.
Alguns analistas dividem o primeiro semestre do ano em duas etapas distintas para a Bovespa. A primeira, de janeiro a meados de março, foi caracterizada mais fortemente pelo pessimismo, em razão da perspectiva de rebaixamento do risco-país pela Standard & Poor’s, o que de fato ocorreu no final de março, quando a agência de classificação de risco cortou a nota da dívida soberana brasileira para BBB-, de BBB. Externamente, as atenções ficaram voltadas para o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). O temor do mercado era de que a autoridade monetária norte-americana não retirasse os estímulos, dados para estimular a economia norte-americana, de forma gradual.
No segundo trimestre, configurou-se um cenário mais positivo, com o Fed indicando a retirada gradual dos estímulos de forma gradual. E no Brasil, o principal fator de influência sobre as ações da Bolsa foram as pesquisas eleitorais. Outro ponto que ajudou a Bolsa foi a liquidez no mercado externo.
Para o segundo semestre, as perspectivas são incertas. A maioria dos eventos que estiveram presentes no início do ano se mantém no radar e deve continuar trazendo volatilidade aos negócios. As dúvidas em relação ao ritmo da economia doméstica e sobre quem comandará o País após as eleições de outubro devem ditar o ritmo dos negócios por aqui e trazer volatilidade. Externamente, EUA, Europa e China continuam centrando a atenção dos investidores. Mesmo assim, alguns analistas acreditam que ainda é possível a Bolsa ampliar os ganhos no ano, com alguns papéis apresentando boa performance.
“O mercado realmente foi dividido em duas etapas no primeiro semestre, uma mais pessimista, até meados de março e outra mais otimista. No segundo semestre a volatilidade deve continuar pautando os negócios. A questão política deve ser concentrar a atenção dos investidores”, avalia o superintende da Mapfre Investimentos, Huang Kuo Seen.
Para a equipe econômica do Itaú BBA o Ibovespa pode atingir a máxima de 57.100 pontos no curto prazo. “A sensação é de estarmos diante de um cabo de guerra entre fluxo e fundamentos, o que pode continuar trazendo volatilidade no curto prazo. Não é novidade que o momento da economia brasileira é fraco, mas a confirmação do cenário segura o otimismo de curto prazo, colocando uma espécie de limite às apostas. Contudo, temos razões para acreditar que a verdade barreira se encontra um pouco acima dos 55 mil pontos, provavelmente na região da forte resistência em 57.100 pontos”, avaliam os profissionais.
Para Nataniel Cezimbra, analista da BB Investimentos, a tendência dos papéis negociados na Bolsa é de alta, principalmente pela liquidez global. “A política de liquidez maior nos EUA e na Europa terá efeito financeiro na Bolsa, fazendo o índice subir. O Brasil é o maior país da América Latina e o destino certo de recursos, principalmente, da Europa e dos Estados Unidos”, avalia o profissional que destaca os setores de educação, de proteína e infraestrutura com potencial de valorização.
Já o economista da Leme Investimentos, João Pedro Brugger, sugere posição mais conservadora. Para ele, se a oposição ganhar a eleição pode haver um rali das ações mais ligadas ao governo como bancos, elétricas e Petrobras.