Por douglas.nunes

Anteontem, após o resultado da vitória da Argentina na semifinal, multidões entoaram os tradicionais cânticos de vitória, exaltando a pátria e zombando dos britânicos, rivais de longa data nas Ilhas Malvinas.

Mas nas ruas de Rosário, onde Lionel Messi nasceu, a terceira maior cidade da Argentina, também se escutava uma música menos tradicional: um deboche com toques profanos direcionados aos hedge funds que têm lutado contra o governo por causa de dívidas não pagas após o calote de 2001.

“Fundos abutres”, entoava um grupo em meio às comemorações no Monumento à Bandeira Nacional. “Parem de perder tempo e aceitem a reestruturação”.

Os cânticos ressaltam como a disputa jurídica de dez anos entre o país e os credores que não entraram nas reestruturações ainda consegue despertar paixões nacionalistas entre os argentinos. No mês passado, a Corte Suprema dos EUA deixou intacta uma decisão que pode levar a Argentina a dar o calote no dia 30 de julho, a menos que consiga chegar a um acordo com os fundos conduzidos pela Elliott Management Corp., do bilionário Paul Singer. Os investidores recusaram as ofertas de reestruturação feitas pelo governo, que impunham perdas de 70 por cento após o calote recorde de US$ 95 bilhões, e processam o país para obter o pagamento completo.

Os argentinos saíram às ruas depois que sua seleção derrotou a Holanda na quarta-feira, dia do aniversário da independência do país sul-americano, em uma disputa de pênaltis após um jogo sem gols. No dia 13 de julho, quando enfrentará a Alemanha no Maracanã, o time tentará conquistar seu terceiro título em uma Copa do Mundo.

Evitar o calote

A presidente Cristina Kirchner, que se referiu diversas vezes a esses credores como “abutres”, aos quais ela jamais pagaria, está se sentando para negociar, em uma tentativa de evitar outra debacle da dívida.

“A Argentina está entabulando um diálogo franco, aberto e transparente e está oferecendo as condições para uma negociação justa”, disse o chefe de gabinete Jorge Capitanich aos repórteres ontem, em Buenos Aires. “O país não pode aceitar nenhum tipo de extorsão”.

O administrador de recursos Jay Newman, da Elliott, escreveu em uma coluna de opinião do jornal Financial Times, publicada nesta semana, que os hedge funds estão dispostos a aceitar bônus como um modo parcial de pagamento. Funcionários do Ministério da Economia devem se reunir hoje em Nova York com um mediador nomeado pelo tribunal.

O rendimento extra que os investidores pedem para aceitar a dívida reestruturada da Argentina ao invés de títulos do Tesouro dos EUA caiu 0,01 ponto porcentual para 5,9 pontos porcentuais ontem, a maior baixa em três anos.

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