Por douglas.nunes

Operadores estão aumentando suas apostas de que a Argentina dará o calote, pois o governo sinaliza que preferiria desconsiderar a decisão de um tribunal americano a se expor a reclamações que, segundo diz, poderiam inchar para US$ 500 bilhões.

Os swaps de crédito do país com vencimento em três meses agora implicam uma probabilidade de 44%de que os pagamentos de dívida sejam suspensos, a maior do mundo, frente a 28% há uma semana, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A Argentina tem até 30 de julho para acatar a decisão que lhe exige pagar aos credores liderados pelo bilionário Paul Singer, os holdouts, que recusaram trocas de dívida após o calote que o país deu em 2001. O juiz encarregado bloqueou o pagamento dos títulos reestruturados no dia 30 de junho e rejeitou os pedidos para uma medida cautelar nesta semana. A Argentina quadruplicou sua estimativa de reclamações potenciais nesta semana, mencionando o risco de violar uma cláusula nos títulos que a proíbe de dar aos holdouts condições melhores do que as de reestruturações anteriores.

“O conjunto de eventos aponta para um aumento na probabilidade de um calote”, disse Donato Guarino, estrategista da Barclays Plc, em entrevista por telefone de Nova York. “Estamos no final da viagem e agora depende bastante da decisão da Argentina”.

Em discurso televisionado ontem, a presidente Cristina Fernández de Kirchner disse, da província de Buenos Aires, que não assinará um acordo que comprometa o futuro do país.

Negociações ‘constantes’

No dia 22 de julho, o juiz federal de distrito Thomas Griesa exigiu que Argentina começasse negociações “constantes” com os credores. Ele disse que o país não precisa que ele emita uma medida cautelar para pagar a soma de US$ 1,5 bilhão que deve aos detentores de títulos.

A Argentina tinha pedido ao juiz de 83 anos que adiasse a decisão até 31 de dezembro, quando a cláusula de Direitos Sobre Futuras Ofertas (RUFO) nos títulos reestruturados expirar, para poder continuar pagando dívidas enquanto negocia com os holdouts. O país, que possui US$ 29,7 bilhões em reservas de moeda estrangeira, tinha dito anteriormente que o custo das reclamações de detentores de títulos reestruturados que exigiriam as mesmas condições seria de US$ 120 bilhões.

As notas de referência da Argentina com vencimento em 2033 caíram US$ 0,062 de seu pico de três anos, atingido no dia 11 de julho, para US$ 0,863 por dólar, mostram dados compilados pela Bloomberg. Os preços dos títulos se mantiveram porque os investidores preveem um alto valor de recuperação em caso de calote, segundo Ray Zucaro, quem ajuda a gerenciar US$ 390 milhões em mercados emergentes na SW Asset Management LLC, em entrevista por telefone de Newport Beach, Califórnia.

Aparição na televisão

Cristina parece ter decidido não pagar aos holdouts, disse ontem o Grupo BTG Pactual em um relatório.

No seu discurso televisionado ontem à noite, a presidente disse que os funcionários argentinos poderiam enfrentar processos se a cláusula RUFO for violada. Tal ocorrência destruiria a reestruturação anterior da dívida do país, disse ela.

“Não é tanto a miopia da parte deles em relação às consequências do default”, escreveram no relatório Andrés Borenstein e Alex Muller-Jiskra, analistas do BTG. “Na verdade, é o medo das consequências legais da cláusula RUFO. O governo quer ter 100 por cento de certeza e ninguém poderia lhe dar esse tipo de garantia”.

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