Por douglas.nunes

O estoque dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) cresceu mais de 100% em agosto e vêm se tornando um importante instrumento financeiro para empresas do setor e investidores pessoas física. Para as companhias emissoras, o título está sendo considerado uma alternativa ao financiamento bancário. Para o investidor, o produto tem sido uma boa opção de rentabilidade, em razão do incentivo fiscal que recebe.

Até agosto, o estoque de CRAs na Cetip atingiu R$ 1,1 bilhão, ante R$ 560 milhões de estoque verificado no mesmo mês de 2013. O prazo médio das operações é de quatro anos. O fraco crescimento econômico e a alta taxa de juro contribuem para os negócios com CRAs.
De acordo com previsão do sócio da área de mercado de capitais de TozziniFreire Advogados, Alexei Bonamin, este será o primeiro de cinco anos de muito crescimento do produto. Essa expansão se dará, segundo ele, porque o produto está se tornando muito conhecido pelos empresários do setor, que veem no instrumento uma oportunidade de manter o capital de giro, comprar insumos e, até mesmo, investimentos pontuais.

A expectativa, segundo ele, é de que em cinco anos o estoque de CRAs na Cetip esteja na casa de dois dígitos. “É uma alternativa ao financiamento bancário. O empresário vende os recebíveis e não assume uma dívida, como acontece no financiamento”, observa Bonamin, ressaltando, no entanto, que os CRAs não irão substituir os empréstimos bancários mas, sim, se tornar um complemento às linhas oferecidas pelos bancos.

Segundo Bonamin, este ano o seu escritório já realizou oito operações de CRAs e estão em negociações outras três que devem ocorrer até o final do ano. “Esse total representa o dobro do que fizemos em 2013”, revela, ressaltando ainda que as operações assessoradas pelo escritório que já foram liquidadas ou estão em andamento supera R$ 700 milhões.

O diretor de relações institucionais do grupo Ecoagro, Idalicio Silva, atribui o crescimento do setor ao fato de o agronegócio ser um dos principais motores de crescimento da economia. Ele lembra que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor é superior aos demais setores da economia. “O agronegócio representa cerca de 22% do PIB brasileiro e o total de emissões não supera R$ 3 bilhões. A parcela que o agronegócio ocupa na poupança ainda é inexistente, por isso o potencial de crescimento é gigantesco”, diz, ressaltando que o setor imobiliário representa apenas um quarto do PIB e o volume de ativos securitizados é superior a R$ 30 bilhões.

Segundo fontes do mercado, a Raízen, empresa do setor energético, está programando uma operação de cerca de R$ 500 milhões e existem mais R$ 700 milhões em CRAs sendo negociadas.

O gerente de Relações e Projetos Especiais da Cetip Ricardo Magalhães, também prevê que o CRA, embora seja um produto complexo,tem forte potencial para crescer. “Há demanda grande por parte de securitizadoras, que têm procurado mais informações sobre a operação”, diz. Magalhães ressalta que, assim como uma operação de crédito, os CRAs também estão sujeitos a riscos da cadeia do agronegócio e, por ser um segmento muito específico, os investidores que procuram o papel, geralmente, já têm conhecimento do mercado. “É um investidor mais especializado, não é um produto fácil de investir”, diz, ressaltando, que por ser um produto com mais risco, o retorno também é maior. “Os CRAs são mais recentes e ainda têm espaço para crescer. Mas é um setor complexo e toda operação que está fora da estrutura bancária, em geral, é mais distante da realidade dos investidores”, diz.
Silva ressalta que os responsáveis pelas operações procuram mitigar os riscos através de estruturas colaterais, seguros e monitoramentos agrícolas.

Bonamin ressalta que os CRAs podem ser feitos a partir de qualquer tipo de cultura e que, atualmente, o setor de álcool e açúcar tem demandado este instrumento. “Existem ondas. Começou com soja, teve insumos e fertilizantes e agora estamos num momento sucroalcooleiro”, diz.

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