Por monica.lima
A América Latina está se transformando em líder mundial em calotes de títulos corporativos. Quatro empresas da região descumpriram pagamentos de dívidas denominadas em dólares neste mês, maior total regional no mundo e quase metade da quantidade registrada em todo o ano de 2014. O cenário atual está deixando os investidores em bônus cada vez mais preocupados com a capacidade das empresas latino-americanas de quitar suas dívidas.
A produtora de açúcar brasileira Grupo Virgolino de Oliveira SA descumpriu um pagamento de bônus no dia 13 de janeiro depois que os preços do produto mergulharam 12% em 2014. Após uma queda de 29% nos preços do ouro nos últimos dois anos, a Gran Colômbia Gold disse no dia 9 de janeiro que não pôde pagar os juros de duas notas em dólares. A Newland International Properties, que construiu um hotel com a marca Donald Trump e um complexo de apartamentos no Panamá, não honrou um pagamento de bonds apenas 18 meses após a emissão das notas.
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Esses prejuízos provavelmente se multiplicarão, afirma Josephine Shea, codiretora de dívidas de mercados emergentes da Hartford Investment Management, que gerencia cerca de US$ 111 bilhões em ativos.
O colapso causado pelo petróleo nos preços das commodities tem sido persistente, o crescimento é fraco em economias como México e Colômbia e o maior escândalo de corrupção da história do Brasil está se propagando. Essa situação eleva o risco de prejuízos ainda maiores para os investidores, que enfrentam, na região, os piores retornos entre os mercados emergentes neste ano.
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“Haverá calotes na América Latina”, acredita Jennifer Gorgoll, que ajuda a gerenciar US$ 4,1 bilhões de dívidas de mercados emergentes na Neuberger Berman. “É preciso ser capaz de determinar quais empresas sobreviverão e quais não”.
Apenas três meses depois de prever que a taxa de calote dos bônus de grau especulativo da América Latina se manteria em 3,2% no período de 12 meses que termina em junho, Gersan Zurita, da Moody’s Investors Service, diz agora que a taxa provavelmente ficará mais próxima de 6% após a ampliação da investigação de corrupção no Brasil e da queda dos preços do petróleo.
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A OAS, uma das 23 construtoras proibidas de participar de licitações da Petrobras, suspendeu no dia 2 de janeiro os pagamentos de alguns de seus bônus em dólares. Os US$ 875 milhões em notas da empresa com vencimento em 2019 agora são negociados a menos de US$ 0,18, uma queda de 49% apenas neste ano.
“Esperávamos um 2015 muito difícil no Brasil e acreditamos agora que será ainda pior”, disse Zurita, vice-presidente sênior da Moody’s. “Não se trata apenas da situação da Lava Jato no Brasil. São os preços muito baixos do petróleo, o que afeta a Venezuela, e pode ser que vejamos também calotes no setor do petróleo em outras partes da região. Provavelmente teremos mais calotes neste ano do que teríamos normalmente”. Com Bloomberg
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