Ele deixou de rolar quase 13% do vencimento. Trata-se de um aumento no grau de intervenção no mercado já que, em maio, resgatou o equivalente a 48,17% do total. O BC se mostra muito mais cauteloso na administração da taxa de câmbio para evitar indesejáveis pressões inflacionárias, uma vez que a sua arma monetária – a alta da Selic – já foi guardada no coldre, enquanto a Fazenda ainda dispara o seu fuzil fiscal. No último dia útil de junho, o câmbio encontrou forças para puxar um pouco o dólar para cima de forma a reduzir o prejuízo acumulado no mês. Fechou a R$ 2,21, valorização no dia de 0,67% mas perda no mês de 1,37%. No primeiro semestre do ano, o tombo foi feio, de 6,26%.
Como a definição pelo BC da quantidade que pretende rolar de swaps é hoje a principal condicionante da taxa de câmbio, o mercado está muito ansioso por conhecer as primeiras sinalizações a respeito do lote de US$ 9,457 bilhões com liquidação agendada para 1° de agosto. O BC vem dosando a oferta de swaps de forma a confinar o dólar entre as grades de sua banda informal de R$ 2,20 no piso e R$ 2,25 no teto. Não vende esses papéis para ter lucro, mas se a variação do dólar é menor que a da Selic é exatamente esse o resultado da operação. De fevereiro a maio, o BC teve um ganho de R$ 16,788 bilhões com os swaps leiloados a bancos, investidores e empresas.
Para se proteger contra uma arrancada do dólar, desestabilizadora do caixa, esses agentes se veem forçados a remunerar o BC pelo seguro. A autoridade divulgou ontem os seus ganhos relativos a maio: R$ 2,202 bilhões. Em junho, também haverá dinheiro a receber do mercado, já que a Selic rendeu 0,87% e o dólar caiu 1,37%. Considerando apenas os indexadores, a operação rendeu ao BC 2,25%. Os quase R$ 17 bilhões de lucro naqueles quatro meses ajudam o Tesouro a reduzir sua despesa com o pagamento de juros da dívida pública mobiliária. Não é grande coisa, frente ao custo anual de R$ 254 bilhões só com o pagamento de juros da dívida, mas já ajuda.
Como é o BC quem, em épocas de calmaria internacional, controla a taxa de câmbio, se fosse ganancioso poderia ampliar a oferta de swaps cambiais para aumentar os seus lucros. Mas não funciona assim. Não pode emitir swaps a torto e a direito porque são instrumentos cambiais de dívida, são papéis emitidos em reais mas indexados ao dólar. E contrair dívida em dólar não costuma ser um bom negócio. O Brasil pagou muito caro no passado para reduzir ao máximo sua exposição cambial, ou seja, diminuir sua vulnerabilidade aos humores externos. Não pode voltar atrás.
Embora o endividamento com esses instrumentos cambiais colocados no mercado interno – não confundir com a dívida externa propriamente dita — ainda seja bem confortável, não pode entusiasmar-se demais. Em NTN-A, o passivo é de apenas US$ 6,08 bilhões, o equivalente a 6,31% do total. Outros títulos corrigidos pelo dólar alcançam US$ 635 milhões, representativos de 0,66% da dívida. O grosso mesmo diz respeito aos swaps, com estoque de US$ 89,673 bilhões, correspondentes a 93,04%.
O BC pode testar a fome do mercado pelos swaps antes de fazer um aceno mais definitivo de suas intenções este mês porque, nos EUA, o pregão secundário de títulos do Tesouro não consegue espantar a sonolência. A taxa do título de 10 anos caiu ontem de 2,55% para 2,52%, apesar do surgimento de uma surpresa positiva do mercado imobiliário. As vendas pendentes de moradias cresceram 6,1% em maio quando os analistas esperavam modesta elevação de 1,5%. Mas como os operadores estão muito ressabiados com a falta de constância e homogeneidade dos dados do setor, não jogaram suas fichas numa reviravolta capaz de arrebatar o Federal Reserve (Fed), de todos os players, o mais cético.
O mercado futuro de juros da BM&F não deu muita relevância à puxada final do dólar ontem. Num pregão de baixa liquidez, propícia a estocadas especulativas de curto prazo, pesou mais para a alta dos contratos longos o déficit fiscal de maio. A taxa para janeiro de 2016 subiu de 11,16% para 11,17%, enquanto o contrato para janeiro de 2017 avançou de 11,50% para 11,56%. Não incomodaram as contradições do Boletim Focus. O divulgado ontem manteve a dissonância entre as projeções de crescimento econômico e os prognósticos de taxa de juros.
Enquanto as taxas de expansão do PIB só caem, as expectativas de Selic se sustentam no mesmo lugar. Pela quinta semana em sequência, as cem instituições pesquisadas pelo BC baixaram suas estimativas de PIB para este ano. Desta vez, caíram de 1,16% para 1,10%. E ainda não chegaram ao fundo do poço. Só não bateram ainda em 1% porque pela mediana, expurgados os extremos, há divergências consideráveis. Para 2015, a revisão para baixo foi a sexta consecutiva. A projeção está agora em 1,5%, de 1,6% na semana anterior. Ou seja, os analistas se recusam a enxergar uma recuperação econômica minimamente consistente no ano que vem.
O pessimismo em relação à atividade econômica deveria conduzir os economistas à suposição de que o Copom poderia iniciar um ciclo de queda da Selic para combater a anomia produtiva. Mas não pensam assim, e sustentam a aposta de que o juro básico fechará este ano nos atuais 11%, mas subirá para 12% em 2015. Até estariam dispostos a rever esse palpite se o horizonte não estivesse turvado por tantas incógnitas inflacionárias. Além das pressões advindas do câmbio — o Focus insiste em prever dólar a R$ 2,40 no fim de 2014 e de R$ 2,50 ao cabo de 2015 —, o mercado trabalha com a hipótese de ser impossível evitar um choque tarifário no ano que vem.
Se ao mesmo houvesse a perspectiva de uma credibilidade fiscal maior, o cenário poderia não ser tão ingrato assim. Mas, desta área, as notícias são ruins. Em maio, o setor público consolidado contabilizou um déficit primário de R$ 11,05 bilhões, o pior desde a crise de dezembro de 2008. O governo ainda acha possível chegar à meta de superávit de 1,9% do PIB. O mercado duvida porque, no acumulado de 12 meses, a sobra está somente em 1,52%.
Como a atividade se enfraquece cada vez mais, reduzindo a arrecadação federal, ou o governo corta gastos ou arruma expedientes criativos odiados pelas instituições para conseguir o 1,9%. E fazer uso de mágicas não tem o efeito pretendido de provocar uma reviravolta nas expectativas negativas. Elas apenas impedem a deterioração da dívida bruta como proporção do PIB, mas sem impacto na inflação. Os contratos de juros futuros só não exageraram ontem nas altas porque a FGV divulgou um índice bem ruim sobre a confiança da indústria. Ela caiu 3,9% em junho comparativamente a maio. Do seu lado, as famílias não se mostram mais confiantes. Segundo a CNI, o índice nacional de expectativa do consumidor recuou 1,2% em junho.