Por bruno.dutra

Na mínima do dia, a moeda foi vendida por R$ 2,3185, com tombo de 1,08%. A mudança radical decorreu da atuação conjunta e com potência equivalente de dois acontecimentos imprevistos:

1) o mercado americano subitamente desistiu de esperar por uma alteração no comunicado que o Federal Reserve irá expedir hoje ao término da reunião do seu comitê de política monetária destinada a precaver os analistas para a necessidade de antecipação do início do ciclo de alta do juro básico;

2) rumores sobre o resultado da nova pesquisa Ibope sobre intenção de voto reacenderam o ânimo dos investidores adeptos da candidatura de Marina Silva e deslancharam uma onda de venda de dólares.

Mas como o comportamento do dólar derivou de expectativas e não de fatos, exportadores e importadores preferiram ficar à parte dos negócios, concentrados nas mãos de players mais afeitos ao risco. Tanto é que o volume de negócios mal passou de US$ 800 milhões, um giro 42,86% abaixo da média do mês, de US$ 1,4 bilhão.

A expectativa em relação ao primeiro fator será confirmada ou contrariada apenas hoje no início da tarde, após encerrado o encontro de setembro do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) e concedida entrevista à imprensa pela presidente Janet Yellen. Até o início da semana, o mercado secundário de títulos do Tesouro americano trabalhava com a hipótese principal de sinalização pelo Fomc do início do movimento de elevação da “fed funds rate” já no final do primeiro semestre de 2015. A conjectura mais em voga antes era de que a alta seria feita “mais tarde”, como gosta de dizer ambiguamente o Fed em seus comunicados, ou seja, apenas no segundo semestre. O prognóstico de que o Fed estaria abandonando a cautela escorava-se tanto no crescimento de 4,2% da economia no segundo trimestre, depois de contração de 2,9% no primeiro, quanto em manifestações pró-endurecimento monetário até por parte de dirigentes do Fed com visão mais tradicionalmente “dovish”.

O Fed mudaria o “forward guidance” para uma tonalidade mais “hawkish” apesar de o mercado de trabalho ainda não mostrar consistência. Apesar da sucessão de bons indicadores acerca da atividade industrial, vendas varejistas, expansão do setor de serviços e o prosseguimento da lenta recuperação da área imobiliária, o Fed carece do suporte dos empregos para justificar o tom mais áspero. E também da inflação. E as notícias de ontem do front inflacionário foram as mesmas de sempre: os preços persistem anestesiados em patamares muito baixos.

De acordo com informe de ontem do Departamento do Trabalho, o PPI (o índice de preços ao produtor, a inflação no atacado) ficou estável em agosto, após altas de 0,1% em julho e de 0,4% em junho. Os dois principais componentes do PPI se anularam: enquanto o subíndice de demanda final para serviços avançou 0,3%, o referente aos bens recuou 0,3%. No acumulado de 12 meses até agosto, o PPI sobe 1,8%. O Fed não precisa ter pressa para desencadear seu plano de ajuste do juro.

As mensagens enviadas pelo Fed no sentido de que poderia retirar do seu comunicado a expressão “considerable time after the asset purchase program ends” — o “tempo considerável”, entendido como o longo e indeterminado período entre o fim das compras de títulos e o primeiro aumento da taxa básica — começaram no final de agosto, justamente quando a taxa da T-Note de 10 anos desceu a 2,34%. A autoridade parece ter-se assustado com esse nível muito baixo e tratou de corrigi-lo à base do discurso. Conseguiu, pois o juro de 10 anos bateu em 2,62% na sexta-feira. Ontem ele caiu de 2,59% para até 2,55%, mostrando que a política monetária não se faz no grito. Para concretizar seus planos, o Fed precisará, ademais, superar o constrangimento decorrente do fato de que a Europa sai do lodaçal muito vagarosamente.

Divulgado ontem, o índice ZEW de sentimento econômico da área do euro caiu de 23,7 em agosto para 14,2 em setembro. Se o Fed precipitar seus passos monetários, a maior parte da liquidez extra que o Banco Central Europeu (BCE) está liberando para apressar a recuperação pode ser desviada para a compra de “treasuries”. Isso seria ruim para a Europa, mas também para os EUA, uma vez que o excesso de demanda por bônus americanos derrubaria as taxas e solaparia as metas do Fed.

No pregão de juros futuros da BM&F, o desabamento dos contratos de prazo mais longo refletiu os mesmos motivos que depreciaram o dólar. Nada a ver com a debilidade econômica mostrada pela Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE. A expansão interanual verificada na receita nominal do conjunto de setores pesquisados recuou de 5,72% em junho para 4,56% em julho. Esta alta foi a menor observada na série histórica. O setor de serviços, um dos vilões da inflação, persiste desacelerando. E confirma o cenário de apatia já relatado pela indústria, cuja produção caiu 3,6% em julho frente ao mesmo mês do ano passado, e pelas vendas varejistas, com retração de 0,9% no ano.

A taxa para janeiro de 2017 cedeu de 11,68% para 11,60%, enquanto que o contrato para janeiro de 2021 recuou de 11,57% para 11,40%. As taxas dos contratos mais curtos, os que deveriam ser mais sensíveis à estagnação econômica, não saíram do lugar. As taxas para janeiro de 2015 e janeiro de 2016 permaneceram estáveis em 10,85% e 11,50%, respectivamente.

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