Por diana.dantas

Enquanto a comitiva da presidente Dilma Rousseff fazia ontem o longo trajeto de volta ao Brasil, o mercado financeiro encolheu-se. Tímidos, os pregões de dólar e juros futuros não quiseram desbravar novas veredas. Os investidores optaram por não assumir posições adicionais, dedicando-se ao giro das já montadas, no aguardo do anúncio da equipe que comandará a economia a partir do ano que vem. O mercado recusou-se a ativar o lobby destinado a convencer a presidente da necessidade de adoção de uma política econômica mais conservadora. O dólar fechou quase no zero a zero. A cotação final, de R$ 2,6013, foi apenas 0,02% maior que à de sexta-feira. Os DIs futuros alternaram estabilidade e pequenas quedas.

Os investidores parecem estar em estado de choque, paralisados pela magnitude da sétima etapa da Operação Lava-Jato. Não é todo dia que 23 altos executivos são aglomerados em colchonetes. Não sabem até onde poderá ir a atual onda moralizadora. Insensíveis, os mercados não se deixaram abalar por entrevista dada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, ainda na Austrália. Não consideraram as afirmações recados sub-reptícios da presidente Dilma. Nem usaram as declarações como pretexto para agitações e especulações. O motivo foi que Mantega apenas confirmou tudo aquilo que o mercado já intuía e também porque ainda não é a hora certa para exibir do governo, sob ameaça de retaliação, condutas pragmáticas. As suas afirmações foram proferidas como se já soubesse o nome do seu substituto. De outra forma, não teria como garantir, com uma segurança tão explícita, que não haverá no segundo mandato de Dilma “mudança na estratégia principal desenvolvimentista”.

O ministro descartou uma guinada em favor da adoção de uma estratégia ortodoxa. A política econômica sofrerá adaptações resultantes apenas do fato de a economia mundial estar em recuperação, o que dispensa o concurso de medidas contracíclicas. “Nós saímos da fase de crise e estamos nos preparando para a retomada do crescimento”, disse em entrevista concedida domingo à BBC Brasil.

No essencial — foco na criação de empregos e diminuição das disparidades sociais e de renda – nada muda. Para quem quer saber o que vai acontecer a partir de 2015, Mantega sugere olhar para a política executada antes da crise. “Antes da crise tínhamos o superávit primário maior, uma estabilidade maior das contas públicas. Num período de crise isso fica comprometido. Então, trata-se de uma mesma estratégia em fases diferentes. Não é uma mudança da estratégia econômica”, disse.

As declarações descartam inteiramente a possibilidade de nomeação de alguém com perfil similar ao do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Sobram, portanto, no páreo Nelson Barbosa (economista que receberia as bênçãos de Lula e do PT) e de Alexandre Tombini (o favorito de Dilma). Como as chances de Meirelles vêm diminuindo consideravelmente, o mercado, desde ontem, tenta emplacar o nome de Joaquim Levy, ex-secretário do Tesouro do início do governo Lula. Mas Levy, hoje na gestora de fundos do Bradesco, padece do mesmo mal de Meirelles: não ostenta no peito o crachá de desenvolvimentista.

Quando não fecharam estáveis, os contratos de juros futuros negociados na BM&F mostraram discretas oscilações. Indicadores que sugeriram uma incipiente melhora da atividade até poderiam recomendar um movimento de alta das taxas. Mas a falta de liquidez travou qualquer reação macroeconômica. As taxas para janeiro de 2015 e janeiro de 2016 permaneceram estáveis em 11,35% e 12,55% respectivamente. E os contratos para janeiro de 2017 e janeiro de 2021 cederam ligeiramente. O primeiro, de 12,74% para 12,73%. E o segundo, de 12,74% para 12,71%.

O Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) mostrou que no terceiro trimestre do ano a economia já pode ter saído da recessão técnica na qual entrou no primeiro semestre. Entre julho e setembro, o indicador acusou alta de 0,59%, ante queda de 0,79% no segundo trimestre. O IBC-Br relativo a setembro veio surpreendentemente bom, com alta de 0,40%, quando os analistas previam expansão de apenas 0,16%. A economia já se desprendeu do fundo do poço? Também divulgado ontem, o Indicador Antecedente Composto de Economia (IACE), calculado pela FGV, avançou 0,8% em outubro, depois de ter caído 0,3% em setembro e 1,1% em agosto.

As projeções para o crescimento do PIB reveladas ontem pelo boletim Focus foram colhidas pelo BC antes da surpresa positiva do IBC-Br. Os especialistas elevaram levemente, de 0,20% para 0,21%, a estimativa de expansão para este ano e mantiveram em 0,8% a expectativa para 2015. Trata-se de um avanço meramente estatístico, sem revelar confiança do mercado nos rumos da economia.

O comportamento dos mercados externos não chegou a pesar decisivamente sobre os segmentos domésticos. Nos EUA, a influência negativa maior foi exercida pela queda anual de 1,6% sofrida pelo PIB japonês no terceiro trimestre, na contramão da expectativa consensual dos analistas de uma alta de 2,2%. Como o PIB já havia caído 7,3% (também em bases anuais) no trimestre anterior, a terceira maior economia do mundo entrou em “recessão técnica”. O principal indicador americano do dia também não agradou. A produção industrial caiu 0,1% em outubro, direção oposta à da alta de 0,2% esperada pelo mercado. O impacto negativo das duas informações não foi completamente contrabalançado pelo aceno do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, de que a autoridade pode injetar euros mediante a compra de títulos soberanos, uma antiga aspiração dos mercados frequentemente frustrada. As bolsas europeias gostaram da novidade. O índice FTSEurofirst, que mede o vaivém das trezentas principais ações europeias, subiu 0,51%. Mas o saldo do dia trafega no sentido oposto ao indicado pelo ministro Mantega, de supressão das medidas anticíclicas já que a economia mundial estaria ingressando num período mais auspicioso.

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