Por bruno.dutra

Deixaram em segundo plano as preocupações econômicas e ficaram reféns da nebulosa agenda política. Após abrir em forte valorização de 0,84%, cotado a R$ 3,1486, o dólar perdeu impulso e passou o dia alternando avanços e retrocessos, mas conseguiu interromper sequência de cinco depreciações e fechou com valorização de 0,38%, vendido a R$ 3,1341. Os investidores, sobretudo os estrangeiros, relutam em assumir novas posições compradas. Os contratos futuros de juros não esperaram a divulgação hoje do IPCA fechado de março e consolidaram a expectativa de que o Copom irá no dia 29 elevar a Selic em 0,50 ponto, para 13,25%.

Do dia carregado, que se iniciou com o café da manhã entre o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na casa deste, e prosseguiu com tensas negociações em torno do projeto de lei da terceirização de mão-de-obra, sobrou uma conclusão: a guerra entre as lideranças do PMDB com a presidente Dilma Rousseff continua cruenta e feroz. Mas os analistas não têm ainda elementos suficientes para avaliar como e em que extensão a batalha pelo poder, movida por ressentimentos, afetará o ajuste fiscal de Levy.

Dólar e juros só não retomaram a escalada interrompida no final de março porque, a despeito da nova derrota política de Dilma, consubstanciada pelo veto peemedebista ao deslocamento do ministro Eliseu Padilha, da Aviação Civil para a coordenação política exercida pelas Relações Institucionais, brotou a percepção de que em se tratando de matérias de interesse da área econômica o articulador político do governo já está operando e com aparente sucesso. Trata-se do próprio ministro Levy. Essa habilidade de negociação política era uma persona desconhecida na biografia de um economista conservador até então notabilizado pela inflexibilidade no manejo das tesouras fiscais.

O mercado está adorando: o seu representante manda na economia e agora também na política. Tome-se como exemplo a entrevista dada ontem por Cunha para explicar a prioridade absoluta que confere à pauta da terceirização. Em vários pontos, fez questão de frisar que Levy concordava com isso, que discordava daquilo e que era indiferente a um terceiro aspecto. Está bem claro que Cunha negocia com Levy, não com Dilma. O prestígio de Levy pode ser medido no final da tarde quando o relator do projeto, o deputado Arthur Maia (SDD-BA) garantiu ter aceitado várias de suas propostas, destinadas a evitar perda de arrecadação, entre as mais a manutenção pelas empresas que terceirizam da responsabilidade do recolhimento de encargos trabalhistas e previdenciários. Ou seja, preservou-se o ajuste fiscal.

raciocínio dos economistas de instituições é o de que, dada essa inesperada facilidade de conversação do ministro com os desafetos da presidente, algum ajuste fiscal relevante ele vai conseguir negociar com o PMDB. E é isso o que importa. Mas não é da natureza do mercado confiar irrestritamente. Há sempre que construir rotas de fuga. E, sobretudo, não firmar posições definitivas, grandes ou pequenas. A agenda política sobressaiu-se a ponto de o dólar ignorar aqui a esticada experimentada no mercado internacional. O índice de mede a performance da moeda americana frente a uma cesta das divisas globais mais importantes, o DXY, operou durante à tarde com alta superior a 1%, mesmo assim, contra o real, a valorização, quando havia, era modesta.

Os mercados globais, com o retorno das bolsas europeias após o feriado pascal de segunda-feira, ainda mostraram ontem certa euforia como reflexo da expectativa de que o Federal Reserve (Fed) não encontrará respaldo nem no mercado de trabalho, cujo relatório de março divulgado na sexta-feira exibiu inesperada debilidade, nem na inflação para retirar ainda este ano o gesso atado à taxa básica de juros em dezembro de 2008. Os ossos da economia americana ainda não parecem fortes o suficiente para que possa caminhar sozinha. E os rendimentos do título de 10 anos do Tesouro americano recuaram de 1,90% do fechamento de segunda-feira para 1,89%.

A ansiedade dos altistas em juros foi contida por postagem em seu blog do ex-presidente do Fed, Ben Bernanke, segundo a qual a utilização do juro básico para furar bolhas de ativos é inadequada e perigosa. Para o economista, a política monetária é uma arma letal que deve ser resguardada para fins mais nobres, como o combate à inflação. As bolhas podem ser administradas por meio de outras providências, de foco mais estrito, como medidas macroprudenciais, regulação e supervisão. Explicitamente, a sua sucessora, Janet Yellen, jamais admitiu a existência de bolhas nos mercados. Com isso, não precisou, como Bernanke, ratificar o ponto de vista de que o juro não servirá de instrumento perfurante. Claramente em Wall Street, o movimento ascendente do Dow Jones se revela desproporcional ao estágio de recuperação da economia.

Ao contrário do câmbio, os juros futuros sustentaram no fechamento a tendência de queda. A taxa para a virada do ano escorregou de 13,36% para 13,29%. Aos poucos, tesoureiros e gestores que frequentam o pregão da BM&F desistem de apostar num prolongamento do ciclo de aperto monetário que começou em abril de 2013, com breve pausa eleitoral. A puxada da Selic para 13,25% deve mesmo ser a última. Os contratos de prazo mais longo também declinaram. A taxa para janeiro de 2017 recuou de 13,23% para 13,11%, enquanto que o contrato para janeiro de 2021 refluiu de 12,78% para 12,72%.

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