Por monica.lima

O fenômeno que assustou os mercados globais na primeira quinzena do mês — a disparada dos juros dos bônus soberanos dos EUA, da Alemanha e do Japão – parece ter arrefecido, abrindo um canal por onde podem escoar aplicações em ativos de risco de emergentes. O rendimento do título americano de 10 anos despencou na sexta-feira de 2,23% para 2,13%, após rondar 2,30% no meio da semana passada. O fator básico por trás da escalada dos juros era o temor de surgimento de fortes pressões inflacionárias decorrentes da alta do petróleo, cuja resposta dos bancos centrais poderia vir atrasada pois ainda praticam políticas monetárias acomodatícias. Mas, nos três últimos pregões da semana passada, o preço do barril afundou, trazendo à tona um fato inconteste: a economia dos EUA não apenas perdeu a pujança do terceiro trimestre de 2014 como parece hoje atolada num pântano de estagnação.

Os detentores de dinheiro graúdo ficaram atônitos com o pulo dado pelo petróleo desde meados de março. De lá até terça-feira, o barril do WTI negociado na Nymex valorizou-se um pouco mais de 30%. A razão principal para a arrancada era a redução da atividade extratora nos EUA. Como a justificativa era desproporcional à correção havida, o preço agora busca um equilíbrio mais racional. E este deve ser encontrado em patamares mais baixos pois a tendência primária da commodity não mudou: persiste de baixa.

“Na verdade, não há nenhum fato novo que justifique essa aceleração no preço do petróleo”, constata o diretor da RC Consultores, José Valter de Almeida. Os dados recentes apontam na direção contrária. A Agência Internacional de Energia (AIE) diz que a oferta de petróleo bruto cresceu. A queda na produção americana foi compensada por aumentos, em abril, ocorridos na Arábia Saudita, Irã e Iraque. “Até países como o Brasil, com custos de produção mais elevados, aumentaram a produção”, diz Almeida. Para o economista, o elevado estoque de petróleo nos EUA é outro fator que não justifica a subida da commodity.

Os EUA reduziram sua produção de petróleo por causa do fato simples e incontornável de que o ritmo de atividade, lento, não requer energia para se sustentar. Na sexta-feira, dois dados fecharam a semana recheada de indicadores decepcionantes. A indústria americana encolheu em abril pelo quinto mês em sequência. A baixa foi idêntica à de março, de 0,3%. E os consumidores estão perdendo a confiança na recuperação da economia. O tradicional índice de confiança da Universidade de Michigan recuou de 95,9 pontos em abril para 88,6 em maio. O Federal Reserve (Fed) está de mãos atadas. Não pode fazer mais nada para estimular a economia. Com o balanço já megaestourado por ativos de retorno duvidoso na casa dos US$ 4,5 trilhões, não pode retornar à estratégia dos afrouxamentos quantitativos do passado e anunciar um QE4. Nem pode cortar mais os juros, já praticamente zerados. Resta tentar influenciar positivamente as expectativas, inpirando confiança retórica na construção de um futuro ainda nebuloso.

Dissipa-se, portanto, o cenário de incerteza que levava o mercado futuro de juros da BM&F a radicalizar a tendência de alta da Selic sancionada pelo novo Banco Central. A reunião de abril do Copom entronizou um BC bem mais linha-dura. O presidente é o mesmo do primeiro mandato de Dilma Rousseff, marcado por políticas desenvolvimentistas mal-executadas, alguns diretores foram trocados, mas o que mudou mesmo foi o pensamento emanado pelo Ministério da Fazenda. O BC encontra agora respaldo superior para ser ele mesmo. Não é que pode agora praticar o rigor monetário porque está em cena uma política fiscal austera. É o contrário: se a administração fiscal é severa, a política monetária poderia ser menos inflexível para não sobrecarregar a atividade econômica. Antes, o BC não poderia ser ortodoxo porque não havia autorização de cima. Agora pode. O risco de haver uma overdose é imenso. Disso se aproveitou o pregão de DI futuro para pedir juros cada vez mais altos. Não há mais clima para isso.

Lentamente, os juros futuros tomam o caminho de volta, para patamares menos irreais. A taxa do contrato com vencimento em janeiro de 2017 fechou sexta-feira a 13,39%. Quando o BC publicou, no dia 7, a ata do Copom realizado em 29 de abril, esse contrato saltou para 13,63%. A taxa para janeiro de 2021 desceu do pico de 12,86% no dia 7 para 12,50% na sexta. O mercado ficou tão encantadamente surpreso com o vozerio “hawkish” da ata que exorbitou na curva, precificando uma Selic final de 14%. Muita coisa para uma economia com a língua de fora.

O dólar equilibra-se perto dos R$ 3,00, à espera de uma comunicação oficial do BC sobre as suas intenções em relação às próximas renovações de swaps cambiais antigos. O mais provável é mesmo o BC aumentar o corte na oferta de papéis. A moeda fechou sexta-feira em alta de 0,18%, cotada a R$ 2,9981. Na semana, acumulou valorização de 0,49%.

Esta semana está coalhada de indicadores mais atualizados, muitos referentes a abril e maio. O pior da crise inflacionária já passou. Na sexta-feira, o IBGE divulga o IPCA-15 de maio. O índice deve vir perto de 0,55%, a taxa mensal mais baixa do ano. E os indicadores de atividade devem ratificar ou amplificar o processo recessivo. Serão conhecidos os primeiros resultados da atividade industrial referentes a maio. Amanhã, a CNI divulga o seu Índice de Confiança do Empresário Industrial. Depois, na quinta-feira, a FGV publica a prévia do mês da sua Sondagem da Indústria. O IBGE fecha a sua série referente a março de suas pesquisas mensais com o estudo relativo ao mercado de trabalho (amanhã) e ao setor de serviços (quarta-feira). O Ministério do Trabalho publicará ao longo da semana os dados do Caged referentes ao mês passado.

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