Por monica.lima

Rio - No saldo de negociações na Bovespa em maio, a categoria que reúne os estrangeiros foi a única que comprou mais ações do que vendeu. O movimento mostra a manutenção do apetite do investidor não residente, grupo responsável por 49,2% do volume da bolsa neste mês. Foram R$ 26 bilhões em compras, contra R$ 23,8 bilhões vendidos em maio. No segmento BM&F, a força compradora também tem se resumido ao aplicador internacional, único grupo com mais contratos comprados do que vendidos no mercado futuro do índice Ibovespa.

Pela posição, é possível concluir que a sanha compradora continuará sustentando as altas do índice, que desde meados de março se valorizou 17%. A boa fase, entretanto, não esconde uma preocupação. Para especialistas, quanto mais dependente do capital externo - claramente especulativo — para se manter em alta, mais perto do penhasco caminha o pregão. Pela situação atual, a maior possibilidade de passo em falso viria do cenário eleitoral.

“De fato, os estrangeiros são quem têm visto mais valor nos ativos brasileiros, tanto na renda fixa, quanto em relação ao real e à Bolsa. Esse movimento vem desde fevereiro, quando o mercado lá fora se estabilizou”, lembra Luiz Fernando Figueiredo, sócio fundador da gestora Mauá Sekular.

Pablo Spyer, diretor da operação local da corretora coreana Mirae Asset, tem a mesma impressão. “O otimismo do estrangeiro com o Brasil é mais forte do que o do próprio brasileiro”, resume.

Apenas em maio, o saldo do investimento estrangeiro em ações está em R$ 2,19 bilhões, enquanto nas outras categorias de investidores — todas formadas por brasileiros — estão retirando dinheiro do pregão. Nesse período, o Ibovespa, se valorizou 4,4%.

“O brasileiro perdeu essa alta, que aconteceu por causa dos estrangeiros. Muitos institucionais deixaram de surfar essa onda porque não a viram se formar”, diz Spyer.

Para o diretor da Mirae Asset, o investidor internacional viu oportunidades boas, principalmente após a forte saída de fundos de pensão da bolsa em busca da remuneração atraente na renda fixa, anabolizada pelo ciclo de altas da Selic. O movimento derrubou os preços das ações de grandes empresas, jogando o Ibovespa para baixo em meados de março. O estrangeiro sozinho, indica o saldo de negociação da Bovespa, corrigiu isso. E pelos dados do mercado futuro, há indícios de que a valorização persistirá nas próximas semanas.

No segmento BM&F, o saldo da posição dos estrangeiros têm se mantido em torno de 80 mil contratos a mais na ponta compradora de Ibovespa futuro do que no lado vendedor. Foi assim durante o mês de março. Ao final do pregão do dia 13, por exemplo, o saldo era de 77.120. A exemplo do que acontece no mercado a vista, o investidor estrangeiro vem sendo a única categoria com mais posições compradas.

"Dá para interpretar, pelos números do mercado futuro, que os estrangeiros continuam apostando na subida do Ibovespa”, confirma Pedro Galdi, estrategista da SLW Corretora. “O investidor não residente está acreditando na apreciação futura do índice e operando para que isso ocorra no presente. No início do ano, quando o Ibovespa recuava, essa relação era oposta: os estrangeiros estavam mais vendidos do que comprados”, recorda.

Acompanhar a aplicação dos não residentes vem sendo uma forma cada vez mais eficaz de identificar os rumos da bolsa brasileira. Em 2008, logo antes de crise, a participação do estrangeiro girava em torno de um terço do volume financeiro do pregão, proporção parecida com a parcela dos investidores institucionais e da pessoa física. Em maio, a participação dos “gringos” no mercado a vista está em 49,2%.

Menos clara do que a força compradora estrangeira é a tese que a sustenta. Spyer, da Mirae, entende que a falta de espaço para novas altas nas ações norte-americanas, que estão nas máximas históricas, tem incentivado o estrangeiro a buscar novas oportunidades. “Nunca antes na história da humanidade o S&P 500 esteve tão alto. Acho que o forte fluxo do investidor estrangeiro vai continuar porque nos próximos dois meses veremos o desmonte de posições no mercado norte-americano. O Brasil deve ganhar com isso”.

Willian Araujo, analista da Um Investimentos, cita as eleições como motivador para as investidas estrangeiras na bolsa brasileira. “O cenário eleitoral, ainda indefinido, também incentiva apostas em ações daqui, principalmente em empresas controladas pelo governo”. O risco, destaca, é o humor virar, afastando esses capitais. Apesar de serem fortes o suficiente para levar o Ibovespa ladeira acima, continuam sendo extremamente voláteis.

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