Por monica.lima
“Um segundo mandato de Dilma também terá ajustes. Mas a mudança de pessoas indica com mais clareza a troca de cenários"%2C diz Márcio Simas da Icatu VanguardaMárcio Mercante/Agência O Dia

Para Márcio Simas, diretor da gestora Icatu Vanguarda, o cenário eleitoral é atualmente o fator doméstico que mais vem afetando o mercado. “Como pensamos no médio e longo prazo, nos apropriamos desses momentos de maior volatilidade para gerar melhores resultados”. Seu desafio atual é capturar exageros na precificação de ativos. Responsável por um patrimônio de R$ 9 bilhões, Simas aplica menos de 10% dos recursos em ações, percentual que vem sendo diminuído também por força do calendário eleitoral.

O Ibovespa em março estava em 44 mil pontos e nas últimas semanas se manteve acima de 50 mil. O cenário melhorou?

Além da mudança de percepção quanto à política monetária nos Estados Unidos, as pesquisas eleitorais aqui mostraram que a oposição tem chance de ganhar. Como acompanhamos uma piora de fundamentos econômicos bastante significativa no governo Dilma, quando a perspectiva eleitoral mudou, o mercado melhorou. É a expectativa de que a agenda mude, com a questão fiscal e a inflação sendo melhor tratadas.

Mas não seria essa a agenda independentemente de quem ganhe?

Acredito que será, mas a impressão geral é de que, se a oposição ganhar, essas questões serão atacadas de maneira mais incisiva e clara. Atribui-se a um segundo governo Dilma a chance real de termos algo semelhante ao que vemos hoje, com uma gestão da Fazenda e do BC parecida com a atual. Se a oposição ganhar, vai se tentar fazer um choque na condução da política econômica, o que provocaria uma mudança de expectativas. Vejo que um segundo mandato da Dilma também terá ajustes. Mas mudança de pessoas, já vimos muitas vezes, indica com mais clareza a troca de cenários. No ambiente atual, isso traz otimismo mesmo não sendo claro que a oposição vá ganhar. A Copa do Mundo vem aí, deve tirar um pouco o foco da disputa eleitoral. Uma vez terminada a Copa, contudo, a volatilidade retornará com força.

Como o gestor se prepara para um cenário binário como esse?

A volatilidade do cenário é sempre um complicador para o meu trabalho, mas ela é natural. Identificar exageros é parte importantíssima da estratégia de ter bons resultados no longo prazo. Construo um plano que englobe as possibilidades e prioridades, não só do cenário eleitoral como também para inflação, crescimento, atividade e outros aspectos. Me lembro que em fevereiro desse ano havia títulos da dívida pagando IPCA mais 7%. Calculamos que havia exagero na precificação e alocamos bastante recursos nesses títulos, que há poucos anos pagavam IPCA mais 3,5%. O mercado é assim, por trabalhar com probabilidades, acaba cometendo exageros. Tenho traçado cenários objetivos e também alternativas dentro dele.

Algum exemplo?

Analiso o cenário mais provável, que é a vitória da Dilma, e os alternativos, como a oposição vencer e o juro dos Estados Unidos chegar a 3% antes de meados de 2015. Em seguida, vejo como os ativos que escolhi para o cenário mais provável se comportam nas outras alternativas. Como pensamos no médio e longo prazo, nos apropriamos desses momentos de maior volatilidade para gerar melhores resultados. Ano passado isso aconteceu, ativos de renda fixa em geral performaram mal na marcação a mercado porque a Selic foi sendo corrigida. Mas a gente tentou aproveitar aquele momento para gerar resultados mais a frente. É um trabalho desafiador, e com as eleições isso fica mais claro por termos a possibilidade de dois cenários bastante distintos. Acaba sendo compensador quando vemos que a escolha tomada lá atrás em cenários incertos nos permitiu aplicar em taxas de juros reais bastante elevadas. Volatilidade também traz muita oportunidade. Estamos tomando o cuidado de entender o risco para que o investimento não morra no caminho. Estar certo com o tamanho errado pode levar a posição a ficar insustentável até que o mercado vire.

Tem aplicado em renda variável?

Temos R$ 9 bilhões de patrimônio na Icatu Vanguarda. Como há muito recurso de previdência e seguro, alocamos menos de 10% em ações.Mas o cenário nebuloso pelo qual passa o Brasil nos levou a diminuir a exposição em bolsa. Temos uma atuação defensiva. Nosso fundo de maior sucesso é o de dividendos. Mas diferentemente do restante do mercado, não concentramos tanto em companhias elétricas, um setor que apanhou muito nos últimos anos com interferências regulatórias; damos peso maior ao setor bancário. Por conta disso, temos conseguido bater o CDI de maneira consistente.

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