Por marta.valim

Com o programa de leilões de swaps cambiais perto de acumular US$ 100 bilhões em estoque, o Banco Central (BC) terá de ditar nos próximos dias o ritmo com o qual ele será tocado daqui para frente. Antes que a segunda etapa do programa chegasse ao fim, em 30 de junho, a autoridade monetária anunciou no início do mês a extensão das rações diárias. Falta agora detalhar os moldes da oferta nessa terceira parte do programa, já que a demanda parece diminuir e os riscos do estoque elevado não podem ser ignorados.

Em 23 de agosto do ano passado, quando o programa estreou, o dólar iniciou o pregão valendo R$ 2,44. Dez meses e quase US$ 90 bilhões em contratos depois, a moeda norte-americana fechou ontem a R$ 2,22. Especialistas destacam o sucesso da iniciativa, que conseguiu baixar a cotação, ajudar no controle inflacionário e, principalmente, tirar a volatilidade do câmbio sem precisar dilapidar os cerca de US$ 380 bilhões das reservas internacionais.

Atualmente, o banco oferece por dia até 4 mil swaps no valor de US$ 200 milhões, além de outros 10 mil contratos para rolar derivativos vendidos na primeira etapa do programa, encerrada no fim de 2013, quando a oferta diária era de US$ 500 milhões.

“O programa foi reduzido lá atrás e deve ser cortado de novo porque a demanda caiu”, resume Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora de Câmbio. O especialista explica que os grandes compradores de swaps são empresas — financeiras, principalmente — com passivos em dólar, patrocinados pelo déficit no fluxo cambial, que acumula cerca de US$ 12 bilhões desde 2013. “Os bancos com posição vendida no exterior, por exemplo, usam os swaps como proteção”, explica Nehme.

“Agora, vejo um movimento um pouco diferente, com a expectativa de melhoria da economia norte-americana. Uma empresa, quando negocia com o exterior, abre mão do swap e procura por dólar em espécie. Isso vale para remessa de lucros e outras operações externas. A demanda está sendo menor por swap e mais por dólar spot, por isso diminuiu o volume de contratos”, conta Nehme, lembrando que o BC recentemente deixou de rolar a totalidade dos contratos vencidos. “Mas é importante ainda ofertar para que os investidores interessados no Brasil tenham esse hedge”. A intenção, de acordo com Nehme, é permitir que o capital — especulativo, inclusive —, continue vindo para o país.

A lógica por trás do raciocínio é que, com o câmbio comportado como está nos últimos meses, os preços mais atraentes dos importados ajudam a segurar os índices de inflação por aqui. O próprio presidente do BC, Alexandre Tombini, traduziu em números essa relação. No ano passado, o dirigente revelou que a inflação recua 0,5 ponto percentual a cada 10% de valorização do real.

“A inflação aqui será muito afetada caso o dólar suba. É isso o que o BC também tenta tratar com o programa, justamente para que ela não passe da meta”, explica Daniel Cunha, economista da XP Investimentos.

A suavidade da oscilação cambial é, de acordo com o especialista, outra boa consequência dos swaps. “Não vejo risco de a exposição do BC afetar a política fiscal porque com o programa o dólar varia pouco e a reserva segue intacta. Há espaço para se defender.”

Um disparo na cotação poderia fazer com que o BC, que hoje lucra com as operações de swap, perca dinheiro precisando de socorro do Tesouro ou de vender suas reservas. “A demanda pelo dólar em espécie viria com uma mudança grande do cenário atual, em que a economia dos Estados Unidos aceleraria de maneira abrupta, provocando inflação por lá e consequente aumento do juro. Isso forçaria o BC a mudar de estratégia no câmbio. Mas não vejo nada disso no horizonte”, tranquiliza.

O consenso no mercado, revela Cunha, é de que a autoridade monetária vai divulgar nos próximos dias a diminuição no tamanho da oferta de swaps. “Soa razoável um corte pela metade na ração diária, algo como R$ 250 milhões por semana. O que mais vale agora é manter a transparência da operação do BC no mercado de câmbio.” 

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