Por parroyo

A derrota histórica da seleção brasileira na Copa do Mundo deu fôlego ao Ibovespa, que garantiu mais uma semana no azul, com ganho acumulado de 1,35%. No ano, o resultado também está positivo, em 6,36%. Os investidores apostaram que a derrocada do Brasil no mundial pode abalar a popularidade da presidente Dilma Roussef e, por consequência, fortalecer a oposição. Diante de dados fracos da economia e forte intervenção nas empresas estatais, o mercado aposta que a mudança de governo pode melhorar o desempenho da renda variável.

Na avaliação do analista da Clear Corretora Raphael Figueiredo, a vitória do Brasil em casa iria ser um instrumento de política para Dilma. “Sem isso, ela tem menos armas, o que incentiva o mercado a comprar a bolsa”, disse. No entanto, em uma análise mais profunda, Figueiredo lembra que as bolsas americanas estão batendo máximas históricas. “Acaba sobrando recursos, que são alocados em mercados emergentes e isso pode explicar o avanço do Ibovespa”, disse. No mês passado, os investidores estrangeiros lideraram a movimentação financeira na Bovespa, com participação de 50,69%.

Apoiado na expectativa de aumento da entrada de recursos no país, o analista afirma que o Ibovespa começa a semana com viés positivo. O índice terminou a sexta-feira com alta de 0,35%, aos 54.785 pontos, “e deve buscar, nas próximas sessões, os 55.200 pontos, último topo alcançado em junho”, disse Figueiredo, para quem, no curto prazo, o mercado pode testar os 57 mil pontos em função dessa “onda compradora”.

A agenda da semana está repleta de indicadores importantes. Para o economista-chefe da SulAmerica Investimentos, Newton Rosa, dados fortes dos Estados Unidos podem alimentar a especulação de um aperto monetário no país, o que poderia afetar a bolsa. “Por outro lado, as pesquisas eleitorais podem contrabalançar esse movimento”, afirmou. É esperada para terça-feira a divulgação do levantamento eleitoral feito pelo Instituto Sensus, que pode confirmar a queda de popularidade de Dilma.

No Brasil, a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) na quarta-feira é destaque. Embora a manutenção da taxa básica de juros em 11% já esteja precificada, a expectativa é que o comunicado da autoridade monetária traga pistas sobre a trajetória da Selic nas próximas reuniões. No entanto, para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, o texto não deve trazer muitas informações. “Esperamos que o comunicado continue lacônico e que seja retirada a expressão ‘neste momento’, para ser ainda mais neutro”, pontuou.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará, na terça-feira, os dados de vendas no varejo referentes ao mês de maio. A projeção da consultoria LCA é que o número mostre leve avanço de 0,1%, frente à retração de 0,4% verificada em abril. Na quinta-feira, será conhecido o termômetro do Produto Interno Bruto (PIB) medido pelo BC, o IBC-BR do mês de maio. De acordo com Rosa, da SulAmerica Investimentos, o indicador deve encolher 0,2%. “Tanto as vendas no varejo quanto o IBC-BR devem reforçar a ideia de um cenário negativo para o segundo trimestre”, avaliou.

Entre os dados externos, números do setor imobiliário norte-americano e da produção industrial referentes a junho se destacam. Mas a atenção do mercado vai estar focada nos discursos da presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Janet Yellen, no Congresso. “O fato de o fim do programa de estímulo acabar em outubro, como sinalizou a autoridade monetária, não aponta para diminuição de liquidez, nem adiantamento da alta da taxa de juros, que deve subir somente no segundo semestre de 2015”, avaliou Rosa. Yellen vai falar na terça e na quarta-feira, às 11h (horário de Brasília).

Ainda nos Estados Unidos, o Livro Bege, relatório que trata do desempenho da economia, será divulgado na quarta-feira e deve conter uma avaliação do avanço do mercado de trabalho e da inflação no país.

A China também divulgará números importantes nos próximos dias, que podem mexer diretamente com as ações das empresas ligadas às commodities no Brasil. O PIB do gigante asiático, referente ao segundo trimestre, será conhecido na terça-feira e a projeção da consultoria LCA é que avance 7,4% na comparação anual. Números de crédito e investimento estrangeiro também serão informados durante a semana.

Dólar

A moeda americana acumulou leve alta de 0,27% na semana e terminou cotada a R$ 2,222. O movimento da divisa nas próximas sessões vai depender do discurso de Janet Yellen e também dos dados da China, de acordo com Rostagno.

“O BC deve manter o câmbio entre R$ 2,20 e R$ 2,25, pois está sem margem de manobra. A inflação tende a subir mais em julho. Em meio ao cenário, a autoridade monetária deve manter essa banda de câmbio para que a inflação não termine o ano acima do teto da meta, de 6,5%”, afirmou.

Você pode gostar