Lucros ainda em alta, crescimento do crédito desacelerando, ritmo de queda dos índices de inadimplência estacionando — com tendência de ligeira alta — e spreads em recuperação. Este é, em resumo, o cenário esperado pelos analistas do Banco do Brasil Investimentos (BB BI) e Goldman Sachs para os bancos brasileiros de capital aberto na bolsa. As divulgações dos resultados registrados no segundo semestre deste ano começam na quinta-feira, com Bradesco e Santander.
Nem mesmo as medidas anunciadas pelo Banco Central (BC) na sexta-feira, que podem liberar até R$ 45 bilhões dos bancos para empréstimos, deve surtir efeitos consideráveis. Se os bancos usarem mesmo esses recursos liberados para emprestar, o aumento de liquidez deve aumentar a concorrência e provocar uma queda dos juros. Mas ontem, por exemplo, nenhum dos bancos consultados pela reportagem havia promovido mudanças nas taxas, prazos ou oferta de linhas. Banco do Brasil, Caixa, Bradesco e Santander não quiseram comentar a possibilidade da queda dos juros dizendo que ainda estavam avaliando os possíveis efeitos. As medidas também ainda não apresentaram repercussão nos pequenos bancos e financiadoras.
Nas agências dos bancos Bonsucesso, Cacique e Pan, antigo Panamericano, as taxas de juros para crédito não apresentam diferença. Também nas lojas do Banco Renner, Portocred financeira e Paraná Banco os reflexos não são visíveis.
“As medidas não devem surtir efeitos (de queda) importantes sobre as taxas”, diz o analista Carlos Daltozo, do BB BI. Ao contrário: para ele, os bancos vão conseguir recuperar os spreads (diferença entre o que pagam para captar recursos e o que cobram para emprestar aos clientes). E o crédito deve continuar crescendo pouco. “Não esperamos que os bancos alterem suas previsões já, mas no discurso, conversando com os gestores, já ouvimos todos eles falando em um aumento mais próximo do que foi fixado como piso para suas projeções feitas no começo deste ano. No caso de Itaú e Bradesco, o crescimento para 2014 esperado agora é de 10%”, diz Daltozo.
Carlos Macedo, do Goldman Sachs Global Investment Research, disse em relatório divulgado a clientes que espera, para o Bradesco, um crescimento ainda lento do crédito, “em linha com a tendência para o sistema como um todo”. Para Itaú e Santander, as previsões são semelhantes. Para o BB, no entanto, Macedo aponta uma desaceleração pelo quarto semestre consecutivo, ainda que siga com taxa de expansão acima da dos bancos privados (14%).
“Os bancos estão mais conservadores na liberação dos financiamentos. Adotaram critérios muito mais seletivos e restritivos quanto às liberações de crédito. Apuramos ainda a redução da intenção de gastos dos consumidores, diante de ambiente no qual se aumenta o risco de desemprego", concorda Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). “Por estarmos em ambiente econômico de baixo crescimento, inflação mais alta e aumento dos juros, cresce sobremaneira o risco de crédito, ou seja, aumento da inadimplência. Num ambiente como este, tanto os bancos como os consumidores acabam reduzindo o apetite por crédito”, afirma.
Daltozo, do BB BI, ainda vê os lucros de seis dos oito bancos que analisa subindo ligeiramente no segundo trimestre, em relação ao primeiro deste ano: 2,9%, para R$ 9,9 bilhões (considerando Itaú, Bradesco, Santander, Banrisul, Daycoval e ABC). Para o porém, a soma dos lucros do Banco do Brasil com os dos três maiores bancos privados será, ainda, 33,2% maior do que o obtido pelos mesmos quatro no segundo trimestre de 2013.
Macedo, do Goldman Sachs, não vê uma recuperação do spread — sua equipe está mais preocupada com a resistência da curva de queda da inadimplência. Ele prevê índices estáveis no segundo trimestre, e talvez até uma pequena deterioração nos próximos. “Dados do sistema mostram um aumento na inadimplência pelos bancos brasileiros. Vemos a qualidade dos ativos se estabilizando, sinalizando o fim do ciclo de melhoria. É também importante monitorar as tendências para as margens, dado o achatamento da curva de taxa de juros para a frente”, diz. Para o Goldman, os bancos brasileiros estão entrando em um novo ciclo de inadimplência.
Daltozo concorda mas não vê deterioração. “A recomposição dos spreads deverá beneficiar o resultado financeiro, a receita de serviços continuará apresentando bom avanço e os bancos continuarão apresentando rigoroso controle das despesas operacionais”.
Vozes dissonantes esperam eficácia das medidas
A despeito das previsões menos otimistas, há quem veja o cenário de forma diferente. Para o analista da corretora Ativa, Lenon Borges, as medidas do BC podem surtir efeitos: “No cenário presente de baixa inadimplência, os bancos irão se favorecer desta medida e aumentar de forma mais agressiva sua carteira de crédito”, diz Borges. “No entanto, se o cenário macroeconômico continuar no mesmo estado, o nível de empréstimos será mais lento, mantendo a procura de um mix mais cauteloso”. O analista encerra seu comentário lembrando que o BC não mudou suas projeções de inflação com estas medidas, pondo por terra qualquer especulação a cerca de um corte na Selic.
Para Flávio Calife, economista da Boa Vista SCPC, as medidas serão sentidas por bancos grandes e pequenos, mas só apresentarão resultados ao longo dos próximos meses. “A expectativa é de que os bancos tenham menos rigor com o crédito e os juros diminuam para que o consumidor seja incentivado a adquirir o crédito. Vai demorar um pouco até que as medidas façam efeito, já que a decisão é muito recente. Até que chegar ao consumidor, esse processo é um pouco demorado”, explica. Colaborou Mariana Pitasse, do Rio