Publicado 21/12/2020 16:13
ITAGUAÍ – A intenção do governo federal de privatizar a Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), que funciona em Itaguaí, tem causado mobilização contrária. Exemplo disso foi a audiência pública da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), que ocorreu de modo virtual na última quarta-feira (16). Representantes de funcionários, entidades do setor e sindicatos condenaram venda da empresa estatal, prevista para se concretizar em 2021.
Fundada em 1975, o objetivo da Nuclep é projetar, desenvolver, fabricar e comercializar equipamentos pesados para os setores Nuclear, Defesa, Óleo e Gás, Energia e outros. A estatal contribui há anos para o desenvolvimento tecnológico do país. A partir de 2011, a Nuclep passou a construir quatro submarinos da Classe Riachuelo, de tecnologia francesa, tipo Scorpène. Em 2014, entregou o Condensador para a Usina de Angra 3. Em 2019, assinou com a Amazônia Azul Tecnologia de defesa S.A (Amazul) o contrato para confeccionar parte do protótipo do reator nuclear que está sendo desenvolvido pela Marinha do Brasil. O protótipo é um modelo do reator que vai equipar o futuro submarino com propulsão nuclear (SN-BR).
A privatização da Nuclep faz parte do pacote de privatizações do governo federal cujo processo está em atraso. Além da empresa que fica em Itaguaí, o pacote inclui a Eletrobrás, Correios, Emgea (gestores de ativos), Cesasaminas, Porto de Vitória (Codesa), Trensurb e da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Serpro, Dataprev e Telebrás estão nos planos para 2022.
OPINIÕES CONTRÁRIAS
A audiência pública para discutir o assunto foi marcada pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Alerj, que vai propor a criação de uma Frente Parlamentar para defender as empresas estatais e a soberania nacional, conforme informações publicadas no site da Assembleia.
A audiência pública para discutir o assunto foi marcada pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Alerj, que vai propor a criação de uma Frente Parlamentar para defender as empresas estatais e a soberania nacional, conforme informações publicadas no site da Assembleia.
O encontro virtual do dia 16 reuniu entidades do setor e representante da Associação de Funcionários da empresa. Ainda de acordo com notícia publicada no site da Alerj, houve um consenso no encontro: a venda da Nuclep acarretará prejuízos econômicos e sociais ao estado e ao país. O presidente do conselho da Comissão, deputado Waldeck Carneiro (PT), após anunciar a proposta da Frente Parlamentar, disse: “Estamos passando a limpo as questões de diferentes setores da economia fluminense”.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro (Sindimetal-Rio), Jesus Cardoso, a busca por lucro não deve ser prioridade: “Sempre dizem que tem que dar lucro. A universidade pública é lucrativa? Não. A Nuclep é como uma universidade, é onde se aprende, é um farol para a nossa engenharia. Não estamos pedindo favor para manter empregos”.
Luiz Cosenza, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ), também destacou a relevância da Nuclep para o desenvolvimento da pesquisa e da tecnologia nacionais: “Conhecemos a Nuclep e seus laboratórios. Só de se cogitar a privatização é um golpe em nossos engenheiros e em nossa soberania. A Nuclep não é para dar lucro”.
ASSOCIAÇÃO DE EMPREGADOS COMENTA
A Associação da Empregados da Nuclep (AEP), que existe desde a década de 1980 e reúne 580 dos cerca de 800 funcionários, fez em julho deste ano uma carta-manifesto contra a privatização da empresa. De acordo com o documento, o faturamento da estatal em 2020 será de R$ 150 milhões. Segundo a AEP, a empresa assinou neste ano dois novos contratos: com a Tabocas e com a Neoenergia, para fabricação de torres de transmissão, produto cuja demanda aumentou bastante, principalmente depois da aquisição recente de um maquinário italiano especializado.
A Associação da Empregados da Nuclep (AEP), que existe desde a década de 1980 e reúne 580 dos cerca de 800 funcionários, fez em julho deste ano uma carta-manifesto contra a privatização da empresa. De acordo com o documento, o faturamento da estatal em 2020 será de R$ 150 milhões. Segundo a AEP, a empresa assinou neste ano dois novos contratos: com a Tabocas e com a Neoenergia, para fabricação de torres de transmissão, produto cuja demanda aumentou bastante, principalmente depois da aquisição recente de um maquinário italiano especializado.
Outro ponto levantado pela AEP diz respeito à qualificação de técnicos e inserção de jovens profissionais no mercado de trabalho, o que atraiu para Itaguaí instituições de ensino como o Centro Federal de Educação do Rio de Janeiro (Cefet) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). A própria Nuclep, com seu Centro de Treinamento, valoriza a aprendizagem contínua e estimula a inovação e retenção de capital humano.
A Nuclep, por meio da sua assessoria de imprensa, informou que não comentaria sobre a realização da audiência pública da Alerj.
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