Ensaios tentam dar conta dos detalhes finais do espetáculo, que começou a ser criado ainda antes da pandemia, em 2020
Ensaios tentam dar conta dos detalhes finais do espetáculo, que começou a ser criado ainda antes da pandemia, em 2020Divulgação
Por Jupy Junior
ITAGUAÍ – No século XVIII, entre os rios Itinguçú e Itaguaí, instalaram-se os Y-Tinga. Eram os habitantes originais do local onde hoje é a cidade de Itaguaí. Pouco depois chegaram os jesuítas. Uma longa história. Mas é interessante se concentrar no chefe dos Y-Tingas, Quiva, e sua linda Laiá, índios que foram consagrados em matrimônio pelos padres. A viagem de lua de mel, diz a lenda, traçou os contornos do hoje município.
Mas depois houve guerra com os homens brancos. Laiá foi atingida. Quiva ordena que o Pajé a salve, mas ele diz que Laiá está envenenada! A cura viria apenas se um índio beber o sangue de Laiá misturado com uma erva, até ficar tonto e tirar de sua veia o seu sangue misturado com outra erva para Laiá beber. Salva-se Laiá, mas morre quem beber seu sangue. E assim Quiva fez. Assim Quiva, bravo chefe e guerreiro, salvou sua amada e morreu.
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Laiá, que se salvou, ficou desesperada com a morte do seu amado, embrenhou-se na mata e em seguida morreu também, o que selou o destino dos Y-Tingas: a tribo foi exterminada tempos depois, em conflitos sangrentos na Fazenda de Santa Cruz, o que hoje é o centro de Itaguaí. Os corpos dilacerados dos índios foram jogados na praia de Mangaratiba.
Esta é apenas uma parte da história que as crianças de Itaguaí ouvem na escola: um conto de muita batalha e sangue, mas também com uma bela lenda de amor (que se assemelha em algum ponto com Romeu e Julieta, de Shakespeare). Pois tal lenda é o mote do espetáculo “Balé Y-Tingas”, com criação e direção do veterano da dança itaguaiense, Jailson Trevysani; coreografia de Philipe Matheus Farias, Nicoly Janin e do próprio diretor. Os cenários e figurinos são de Andreia Trevysani, Maycon Mello e Sandra Cibelli.
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O balé estreia no próximo dia 24, em duas sessões no Teatro Municipal Marilu Moreira: uma somente para convidados e outra para público pagante (mas que esgotou os ingressos em poucas horas).
Outra apresentação está marcada para o dia 2 de maio, mas os ingressos também se esgotaram rapidamente.
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Todas as apresentações estão com lotação limitada a 30% dos assentos ocupados, o uso de máscara e obrigatória, álcool em gel e medidas de distanciamento.
A produção solicitou novas datas para a Secretaria Municipal de Educação e Cultura, que controla a agenda do Teatro Municipal, mas ainda não tem uma resposta concreta.
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Porém, o espetáculo terá uma transmissão online, gratuita, no dia 24, às 15h, pelo Facebook do Instituto de Dança de Itaguaí (https://www.facebook.com/DancaItaguai).
PRODUÇÃO NA PANDEMIA
Todo ano Trevysani faz um espetáculo para que os seus alunos de dança – o diretor tem um Studio e um Instituto - sintam a magia do palco e entendam como é atuar em uma produção. Em 2020, por causa da pandemia, isso não foi possível, mas apesar do vírus ainda estar por aí, Jailson resolveu se lançar e botar todo mundo para dançar, com todos os cuidados, é claro.
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Trevysani (ao centro) dirige uma cena do balé: lenda trágica indígena como inspiração e celebração de Itaguaí - Divulgação
Trevysani (ao centro) dirige uma cena do balé: lenda trágica indígena como inspiração e celebração de ItaguaíDivulgação
“Foi um desafio novo e enorme. São 17 pessoas, entre produção, coreógrafos, técnicos, maquiagem e cabelo e assistente de produção. São 35 bailarinos no total. Tivemos que fazer muitas adaptações no modo de trabalhar”, disse o diretor, que conta como teve a ideia: “Penso nessa lenda em um balé desde que eu atuava como bailarino. Gosto de criar espetáculos que ensinem algo, levem uma mensagem, e esta sem dúvida faz parte da história da cidade de Itaguaí. Acho muito importante levar essa lenda, que é parte da nossa história, para o mundo”, explicou.
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Para criar o espetáculo, Trevysani consultou historiadores locais e trabalhos acadêmicos, além de evocar a história oral da cidade, instrumento poderoso de manutenção da cultura. “A parte mais interessante obtive por meio dos griôs, líderes que difundem as tradições, que contam a lenda de Quiva e Laiá com muita verdade nos olhos”, conta Jailson.
Todo o espetáculo teve um custo 18 mil reais, quase no total custeado pela Lei Aldir Blanc - Itaguaí. O projeto foi selecionado no ano passado e recebeu os recursos no valor de R$ 17,5 mil em janeiro deste ano.
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BAILARINOS DE VÁRIAS IDADES
Trevysani inclui bailarinos de várias idades (a mais nova integrante tem 3 anos), oriundos dos bairros e comunidades de Itaguaí, a maioria bolsistas e participantes de projetos sociais. O espetáculo é do Instituto de Dança, com participação de alunos do Studio de Dança Jailson Trevysani. Os mais novinhos, por exemplo, serão os “curumins de Laiá”.
A linda Maria Rita Batista, de apenas 6 anos, será uma das "curumins de Laiá" - Divulgação
A linda Maria Rita Batista, de apenas 6 anos, será uma das "curumins de Laiá"Divulgação
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O “Balé Y-Tingas” tem dois atos. O primeiro conta como Quiva e Laiá se conheceram e casaram. O segundo traz o drama do envenenamento: “Quiva resolve fazer o ritual de beber do sangue dela e trocar a vida dele pela dela. Ela enlouquece e some. Logo depois, é extinta a tribo dos Y-Tingas”.
A parte musical é uma montagem de trilhas colhidas na internet. Havia a ideia de produzir música original com a premiada banda local Bamita, mas não houve tempo hábil.
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A cenografia, realçada pela iluminação, vai transformar o palco do teatro municipal em uma floresta com o uso de elementos naturais: frutas, plantas, bananeiras e troncos.
Os ensaios começaram ainda em 2020, pararam por causa da pandemia, retornaram em agosto do mesmo ano e estão em fase de acabamento. Como é natural, há o nervosismo da estreia e o estresse de deixar tudo pronto para que todos brilhem no palco.
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O objetivo do espetáculo, segundo o texto de divulgação, é “difundir a lenda de Quiva e Laiá, divulgar Itaguaí por meio de um balé com seus talentosos bailarinos e enaltecer ancestrais que persistem na arte e nos nossos corações”.