'A gente não quer armas, fuzis, não quer tanque, não quer caveirão. A gente quer arte. A gente quer música, dança, teatro, poesia, comida, samba, pagode e funk', apela o artista e ativista Alessandro Conceição, de 37 anos.
Morador do Complexo do Viradouro, em Niterói, ele integra a Ocupação Cultural Artística (OCA), que terá sua primeira edição neste sábado. Moradores vão protestar contra a ocupação policial na comunidade. O movimento foi idealizado por moradoras do Morro da União e incentivou outras comunidades do Complexo.
"A gente está se manifestando através da arte, que é um instrumento muito poderoso. Não à toa, a arte e a cultura têm sido muito atacadas. Aqui em Niterói arte e cultura têm um investimento alto, mas a nossa comunidade ainda é carente em alguns aspectos, e por isso nós estamos tentando fazer por nós mesmos", explicou Alessandro.
De acordo com Alessandro, desde o dia 19 de agosto, policiais militares ocuparam o Complexo. O pedido para a ação teria sido feito pelo prefeito Rodrigo Neves ao governador afastado Wilson Witzel. O artista conta que, desde então, moradores sofrem com suas casas sendo invadidas e reviradas. Também como forma de protestos, faixas com a frase "Lar de morador. Respeite" foram penduradas nas janelas e portões das residências da comunidade.
Para chamar a atenção dos moradores, do prefeito e da sociedade, a OCA contará com apresentações de artistas da comunidade de vários gêneros, da bateria da escola de samba do Complexo, a Folia do Viradouro, e intervenções da organização Favela e Arte, com rap, hip-hop e slam. Haverá também pula-pula e lanche para as crianças, além de corte de cabelo gratuito. As empreendedoras do Viradouro vão participar com suas barracas e produtos.
"Primeiro, chamar a atenção da comunidade, que está coagida, com medo, porque os abusos continuam. Também do prefeito para que ele recue dessa ideia de ocupação. E também da sociedade, por ser uma cidade com alto IDH, acha que a sensação de segurança é quem está em favela sendo vigiado. É chamar a atenção de maneira geral, mas também discutir o que é segurança pública, que na minha perspectiva, está fadada ao fracasso."
A sigla do manifesto faz referência às moradias dos povos indígenas, as ocas, já que a comunidade fica em Niterói, cidade batizada em Tupi Guarani, e os moradores protestam por segurança em suas casas. A ação será realizada na Praça do conjunto das favelas do Viradouro, das 10h às 15h. Para evitar a disseminação da covid-19, serão distribuídos álcool em gel e máscaras.
"A importância desse manifesto é a construção de futuros possíveis e positivos, com possibilidades iguais para todo mundo, com segurança para as favelas e o asfalto. É entender que grande parte dessas favelas aqui da Região Metropolitana, move essa cidade. Nosso protesto é pacífico, é pela vida."