Damasco - Pelo quarto dia consecutivo, o regime sírio bombardeou nesta quarta-feira o reduto rebelde de Ghuta Oriental, perto de Damasco, matando ao menos 24 civis, incluindo três crianças. Os ataques se concentraram na localidade de Kfar Batna, onde 22 civis morreram atingidos por barris de explosivos lançados pelos aviões do regime, segundo indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Dois outros civis morreram na região de Jisrin.
Desde o início dos bombardeios, no domingo, 296 civis morreram. Dentre eles, 71 crianças e 42 mulheres.
Vários hospitais ficaram fora de serviço e a destruição é enorme nesta vasta região asfixiada desde 2013 pelo cerco do regime e afetada por uma grave crise humanitária, com casos de desnutrição e fome.
Os aviões do regime sírio também lançaram barris de explosivos nas localidades de Arbin e de Ain Turma. O uso desse tipo de arma é denunciado pela ONU e ONGs internacionais.
Nos hospitais que não foram atingidos, não há leitos e os feridos são tratados no chão, enquanto as salas de cirurgia funcionam a todo vapor. Em um hospital da cidade de Duma, uma enfermeira relatou a admissão na terça-feira de uma mulher grávida de seis meses, que havia sido retirada dos escombros. "Ela ficou gravemente ferida, iniciamos uma cesariana, mas nem a criança nem a mãe puderam ser salvas", disse Maram à agência de notícias AFP.
A poucos metros de distância, Mohammed, de 25 anos, carregou em seus braços a filha de seus vizinhos, mortos sob os escombros de um edifício que desabou em Duma. "Que crime essa menina cometeu?", repetia em voz alta, enquanto o destino de sua própria família permanece desconhecido.
A força aérea da Rússia, aliada do regime de Bashar al-Assad, bombardeou Ghuta Oriental pela primeira vez em três meses na terça-feira, porém, o Kremlin negou nesta quarta-feira qualquer envolvimento nos bombardeios. "São acusações sem fundamento", declarou o porta-voz Dmitri Peskov, enquanto a diplomacia americana acusou a Rússia na terça-feira de ser responsável pelos ataques, "pela situação humanitária aterradora em Ghuta Oriental e pelo terrível balanço de mortos entre civis".
A nova campanha aérea começou no dia em que o regime reforçou suas posições em torno desta região em antecipação a um ataque terrestre que ainda não foi lançado.
O presidente Bashar al-Assad procura conquistar este enclave, de onde os rebeldes disparam morteiros contra a capital. Ghuta Oriental é a última fortaleza controlada pelos rebeldes perto de Damasco.
De acordo com o jornal Al-Watan, próximo do regime sírio, os ataques aéreos "são um prelúdio para uma grande operação (terrestre), que pode começar a qualquer momento".
O regime conseguiu retomar várias localidades rebeldes em torno de Damasco, em virtude de acordos conhecidos como de "reconciliação", que resultaram na evacuação de combatentes em troca do fim dos bombardeios e dos cercos. Antes de Ghuta Oriental, várias áreas rebeldes, como a Cidade Velha de Homs em 2012 ou Aleppo em 2016, foram sufocadas por bombardeios e pelo cerco do regime para forçar os insurgentes a depor as armas e os civis a fugir.
Impotência
O conflito na Síria, desencadeado em 15 de março de 2011, já matou mais de 340 mil pessoas. Inicialmente opondo os rebeldes ao regime, tornou-se mais complexo com o envolvimento de grupos jihadistas e potências estrangeiras.
Graças à intervenção militar da Rússia em 2015, o regime de Assad, que estava em uma situação muito complicada no terreno, conseguiu recuperar o controle de mais da metade do país, multiplicando vitórias sobre rebeldes e jihadistas.
Os ataques aéreos do regime foram retomados, apesar dos protestos da comunidade internacional, que novamente provou sua impotência sobre o conflito sírio. Os bombardeios contra civis "devem parar agora", declarou o coordenador da ONU para a ajuda humanitária na Síria, Panos Moumtzis, na terça-feira.
Washington denunciou as "táticas" do regime de "assediar e fazer a população morrer de fome", enquanto o ministro francês das Relações Negócios, Jean-Yves Le Drian, anunciou visitas a Moscou e a Teerã, os dois principais aliados de Assad. Mas para o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), "nenhuma palavra fará justiça às crianças mortas, suas mães, seus pais e aqueles que são queridos por eles".
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