Estados Unidos - A estudante universitária da Flórida Sarah Gibson renovou sua afiliação à National Rifle Association (NRA) na quinta-feira, durante a Conservative Political Action Conference (CPAC), dias depois de o tiroteio em uma escola de seu estado reavivar o debate nacional sobre o controle das armas de fogo no país.
"Não acho que as armas sejam o problema. Na verdade, são a resposta", disse Gibson, de 20 anos.
Essa estudante e milhares de republicanos já compareceram à CPAC, que acontece perto de Washington. O evento é realizado todos os anos para celebrar as causas e bandeiras dos conservadores e, em 2018, o movimento populista que levou Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos.
Muitos oradores ressaltaram as conquistas do governo, incluindo a reforma tributária aprovada no fim do ano, a revogação de regulações trabalhistas e a nomeação de juízes conservadores.
"Foi um ano de promessas feitas e de promessas cumpridas", disse o vice-presidente Mike Pence na conferência, que também fez comentários duros sobre a Coreia do Norte e convocou os republicanos a se prepararem para a batalha eleitoral de novembro, quando acontecem as eleições legislativas de meio de mandato.
A investigação em curso sobre a ingerência russa na corrida eleitoral de 2016 e sobre se a campanha de Trump fez um conluio com Moscou foi apenas uma nota de rodapé nas discussões da CPAC. Foi impossível, porém, ignorar a sempre presente tragédia dos tiroteios e a facilidade de acesso às armas de fogo, dois pontos que elevaram a temperatura do clima político e puseram seus críticos e defensores sob os holofotes.
A conferência fez um minuto de silêncio pelos 17 mortos no tiroteio na escola de Ensino Médio de Parkland, na Flórida, e seus oradores não deixaram o assunto de lado. De fato, muitos partiram para a ofensiva, caso da NRA, o mais influente lobby de armas dos Estados Unidos e que contribuiu com pelo menos US$ 30 milhões para a campanha do então candidato à Presidência Donald Trump.
O presidente da NRA, Wayne LaPierre, criticou o que classificou de "vergonhosa politização da tragédia", em meio a protestos e a crescentes reivindicações pelo endurecimento das permissivas leis de posse de armas.
Em sua primeira reação pública desde o episódio de Parkland, em 14 de fevereiro passado, LaPierre reiterou suas acusações de que aqueles que promovem um maior rigor na legislação para o controle de armas buscam acabar com proteções e liberdades individuais garantidas pela Constituição.
A porta-voz da NRA, Dana Loesch, foi além e disse que "muitos na mídia adoram os tiroteios".
Linha-dura
A CPAC é uma engrenagem que promove os ideais de liberdade, prosperidade econômica e valores familiares. Seus panelistas elogiam o icônico ex-presidente Ronald Reagan, seus cartazes afirmam que um Estado agigantado "fede", e seus ativistas promovem orações nas escolas. Também apelam para vozes radicais, ou da linha-dura, que aproveitam a ocasião para promover sua agenda em um espectro mais amplo.
A CPAC convidou a francesa Marion Merchal-Le Pen, ex-legisladora francesa da Frente Nacional, de extrema direita, a falar no evento. Preocupou alguns republicanos o fato de que a conferência pudesse estar dando as boas-vindas a extremistas.
"Assim como vocês, nós queremos que nos devolvam o país", disse a convidada de honra, de 28 anos, ao expressar sua solidariedade com as políticas nacionalistas de Trump.
Nos corredores da CPAC, a conversa com frequência voltava ao tema das armas e, sobretudo, a como responder à última tragédia, causada por um "perturbado armado".
Kelli Ward, uma conservadora linha-dura candidata ao Senado pelo Arizona nas eleições de novembro, disse que o luto nacional pela tragédia da Flórida não tem fronteiras políticas.
"Sou membro de toda vida da NRA, sou uma ardorosa defensora da Segunda Emenda, e meu coração também está partido pelo que aconteceu", disse.
Ward comentou que, ainda assim, os participantes da conferência se concentraram nos temas básicos para os conservadores: restringir a imigração, revogar a reforma de saúde conhecida como "Obamacare" e fortalecer os militares - "não porque queiramos guerra, mas porque queremos a paz pela força".
No hall da CPAC, Thomas White, de 23, ajudava um amigo a se associar à NRA.
Thomas acredita que, nesta sexta-feira, quando discursar no evento, Trump receberá uma calorosa acolhida, apesar de seu anúncio de que apoiará mais controles para verificação de antecedentes dos compradores de armas, assim como a medida de elevar de 18 para 21 anos a idade mínima para poder adquirir um rifle e proibir dispositivos que transformem os fuzis semiautomáticos em metralhadoras.
Comentários