Paris - Ao menos três pessoas morreram e várias ficaram feridas em um atentado terrorista ocorrido, nesta sexta-feira, no sul da França. O ataque foi reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI) e executado por um homem que foi abatido pelas forças de segurança francesas.
Ele ficou entrincheirado durante várias horas em um supermercado. "Nosso país sofreu um ataque terrorista islamita", declarou o presidente francês, Emmanuel Macron, após uma reunião de crise.
O autor do ataque, cometido em várias etapas entre as cidades de Carcassonne e Trèbes, foi identificado como Radouane Lakdim. Ele é um francês, de 25 anos, nascido no Marrocos (em Taza, norte). "Lakdim atuou sozinho e era conhecido por pequena delinquência", declarou o ministro francês do Interior, Gérard Collomb.
Intervenções no Iraque e Síria
Segundo o procurador antiterrorista de Paris, François Molins, o agressor disse estar "disposto a morrer pela Síria" e pediu "a libertação dos irmãos". Entre os nomes que citou, está o de Salah Abdeslam, único membro ainda vivo dos comandos que executaram os ataques de 13 de novembro de 2015 em Paris, que deixaram mais de 130 pessoas mortas. Abdeslam está preso na capital francesa.
O grupo extremista Estado Islâmico reivindicou o ataque por meio de sua agência de propaganda Amaq. "O homem é um soldado do Estado Islâmico, que atuou, em resposta a uma convocação, contra os países-membros da coalizão internacional e contra o grupo no Iraque e na Síria", disse, em comunicado.
A França participa da coalizão militar internacional que intervém na Síria e no Iraque contra o Estado Islâmico.
Terrorista já esteve preso
Vigiado por contactar pessoas ativas na Internet da esfera extremista, Radouane Lakdim esteve na prisão por crimes do direito comum. Em sua saída, voltou a ser vigiado, mas não mostrou sinais "que pudessem pressagiar um passo à ação terrorista", assinalou o procurador antiterrorista de Paris.
Molins também anunciou que uma mulher próxima a Lakdim, com quem compartilhava a vida, foi detida nesta sexta, no fim da tarde.
Ataque em três etapas
O agressor executou o massacre em um violento percurso que culminou em uma tomada de reféns em um supermercado. Lakdim roubou primeiro um automóvel em Carcassonne, matando o passageiro e ferindo o motorista. Um pouco mais longe, disparou e feriu levemente um policial que voltava de uma corrida com outros agentes perto de um quartel.
Alguns minutos mais tarde, às 11h15 locais, entrou no supermercado de Trèbes e matou um funcionário e um cliente. No estabelecimento, havia cerca de 50 pessoas.
Quando os agentes chegaram, um tenente-coronel de 45 anos, Arnaud Beltrame, se ofereceu como refém em troca para que o agressor libertasse civis.
Arnaud deixou seu telefone aberto sobre uma mesa, o que permitiu a seus colegas ouvir o que acontecia dentro do local.
Às 14h20, Lakdim disparou contra o agente , ferindo-o em duas ocasiões. Foi então que as forças especiais intervieram. Durante a operação, mais dois policiais ficaram feridos.
'Atirava mal'
Christian Guibbert, um policial aposentado, contou ter visto "um indivíduo muito exaltado que tinha uma pistola, uma faca e que gritava 'Allahu Akbar'".
Um segurança do supermercado contou que estava a cinco metros da cena. "Disparou contra mim duas vezes. Atirava mal", disse.
Um último balanço do atentado fala em três mortos e cincos feridos, dois deles em estado crítico. O policial Arnaud Beltrame estava entre a vida e a morte ontem.
O governo português informou que havia um cidadão português entre os feridos graves.
França em alerta
A França continua em alerta depois de uma série de atentados, desde o ataque contra a sede do semanário satírico Charlie Hebdo, em janeiro de 2015 e que deixou 12 mortos.
A onda de atentados extremistas deixou um total de 238 mortos e centenas de feridos em 2015 e 2016. Vários desses ataques, ou tentativas de ataques, tiveram como alvos militares e policiais.
As autoridades temem novos atentados, apesar do aumento das medidas de segurança instauradas pelo governo, cujo sinal mais visível é a mobilização de 10 mil militares em ruas, estações e locais turísticos.
O ataque anterior na França, também reivindicado pelo EI, ocorreu em Marselha, em 1º de outubro. Na ocasião, um tunisiano de 29 anos, Ahmed Hanachi, matou dois jovens na estação Saint-Charles ao grito de "Allahu Akbar", antes de ser abatido por militares.