As vítimas chilenas de abuso sexual Jose Andres Murillo, James Hamilton e Juan Carlos Cruz posam após uma coletiva de imprensa em RomaAFP photo / Tiziana Fabi
Por AFP
Publicado 10/05/2018 16:17 | Atualizado 10/05/2018 16:18

Santiago - Os bispos chilenos afirmaram nesta quinta-feira que atenderão com "humildade" ao chamado do Papa Francisco para uma reunião no Vaticano e que estão dispostos a colaborar no planejamento de medidas que reparem o escândalo gerado pelos casos de pedofilia.

O encontro da próxima semana, do qual participarão 31 dos 32 bispos chilenos, é determinante para o clero local, já que pode incluir a remoção de vários hierarcas, em uma clara mensagem de intolerância aos abusos sexuais por parte do papa Francisco.

"A poucos dias de nos reunirmos com ele, reiteramos a nossa união com o Papa Francisco na dor e vergonha expressadas diante dos crimes cometidos contra menores e adultos em ambientes eclesiais", assinalou um comunicado da Conferência Episcopal.

"Com humildade e esperança, atendemos ao chamado do sucessor de Pedro", acrescenta a declaração.

Os religiosos chegarão ao Vaticano cumprindo um chamado do pontífice em uma carta na qual reconheceu ter "incorrido em graves equívocos de avaliação e percepção da situação, especialmente pela falta de informações verdadeiras e equilibradas" sobre as denúncias de encobrimento de abuso sexual contra o bispo da localidade de Osorno, Juan Barros, que meios de comunicação locais afirmam que já estaria na Europa.

Barros é apontado como um dos encobridores dos abusos sexuais do influente sacerdote Fernando Karadima, condenado em 2011 pelo Vaticano a uma vida de "oração e penitência", depois que a Justiça chilena declarou as acusações contra ele prescritas.

Antes de partirem, os bispos chilenos também avaliaram o recente encontro no Vaticano do Papa Francisco com três das vítimas de Karadima - Juan Carlos Cruz, James Hamilton e Juan Andrés Murillo.

Medidas estruturais 

Vários membros da Igreja local e especialistas esperam que Francisco suspenda vários bispos, incluindo Barros, e ordene uma profunda reorganização da hierarquia eclesiástica chilena.

Uma fonte da Conferência Episcopal confirmou à AFP a viagem a Roma de 31 dos 32 bispos chilenos, respondendo ao "convite aberto" feito por Francisco. O único ausente será Andrés Arteaga, bispo auxiliar de Santiago, aposentado das atividades públicas por motivos de saúde. Vários bispos eméritos e cardeais também foram convidados para a reunião.

Meios de comunicação de Santiago afirmam que não viajaria a Roma o cardeal chileno Francisco Javier Errázuriz, membro do grupo 'G9', órgão de máxima confiança de Francisco, e acusado pelas vítimas de Karadima de dificultar a investigação canônica.

"Se a Igreja falhou em proteger as crianças em todo o mundo é porque falhou em algo estrutural. Portanto, a solução também é estrutural, e não apenas a saída de dois ou três bispos", disse Juan Andrés Murillo, nesta quinta-feira, em Santiago.

Há uma década, Murillo, junto com James Hamilton e Juan Carlos Cruz, ex-membros da igreja de El Bosque, em Santiago, denunciaram os abusos sexuais de Karadima e a ocultação de seus atos pelos padres Juan Barros, Andrés Arteaga, Horacio Valenzuela e Tomislav Koljatic.

Em 2011, após várias tentativas de desviar acusações, o Vaticano finalmente condenou Karadima. Mas em fevereiro de 2015, ignorando as acusações, Francisco nomeou como bispo da cidade de Osorno Juan Barros, que assumiu o cargo em meio a uma forte divisão de sua comunidade.

Em uma recente visita de Francisco ao Chile, marcada pela presença de Barros nos atos oficiais, o papa continuou a defendê-lo, dizendo que não havia "uma só prova" contra Barros, apenas "calúnias".

De volta a Roma, enviou ao Chile o arcebispo de Malta, Charles Scicluna, para ouvir os testemunhos contra Barros e as vítimas de pedofilia em colégios da Congregação Marista, cujo relatório servirá de base para o Papa nas decisões tomadas na próxima semana.

 

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