As vítimas chilenas de abuso sexual Jose Andres Murillo, James Hamilton e Juan Carlos Cruz posam após uma coletiva de imprensa em RomaAFP photo / Tiziana Fabi
Por ESTADÃO CONTEÚDO
Publicado 18/05/2018 18:17 | Atualizado 18/05/2018 18:18

Vaticano - Todos os 34 bispos chilenos ofereceram suas renúncias ao papa Francisco nesta sexta-feira em consequência dos escândalos recentes de abuso sexual e acobertamento dos crimes pela Igreja Católica chilena. O grupo anunciou sua renúncia ao final de uma reunião emergencial com o pontífice. Ao todo, 31 bispos ativos e 3 aposentados que assinaram um documento e, assim, colocaram seus destinos nas mãos do líder religioso, que pode tanto aceitar ou rejeitar as denúncias, ou ainda atrasar uma decisão.

O ato marca a primeira vez em toda a história que uma conferência nacional de bispos oferece renúncia coletiva. A questão revela a devastação que os abusos sexuais causaram à Igreja Católica no Chile.

As demissões vieram após a divulgação dos detalhes de um relatório de 2,3 mil páginas produzido pelo Vaticano sobre os casos. Nas conclusões do papa sobre o documento, ele acusa os bispos de destruir provas dos crimes, pressionar os investigadores para minimizar as acusações de abuso e de cometer "graves negligências" na proteção das crianças contra padres pedófilos.

Francisco afirma ainda que toda a hierarquia católica chilena é coletivamente responsável por "defeitos graves" no tratamento dos casos e que, por conta disso, a Igreja Católica sofreu as consequências. "Ninguém pode se eximir e colocar o problema sobre os ombros dos outros", disse o pontífice no documento, que foi divulgado pelo canal chileno T13 e confirmado como verdadeiro pelo Vaticano nesta sexta.

Em resposta, os bispos disseram que o conteúdo do documento é "absolutamente deplorável" e mostra um "abuso inaceitável de poder e consciência", assim como de abuso sexual. Eles pediram perdão às vítimas, ao papa e a todos os católicos, e também prometeram reparar os danos.

Francisco convocou todos os bispos chilenos a Roma para uma conferência depois de receber o relatório, produzido por especialistas em crimes sexuais do Vaticano que foram ao Chile para investigar e entender o problema. O documento não foi divulgado em sua totalidade, mas o papa revelou suas principais conclusões sobre o documento e as entregou aos bispos durante a reunião.

Comprovação

As descobertas do relatório são condenatórias. O papa afirmou que a apuração dos especialistas evidenciou "defeitos graves" na maneira como os casos de abuso foram tratados, com investigações superficiais ou até mesmo inexistentes, enquanto as alegações continham evidências óbvias de crimes. O resultado, disse Francisco, "criou um escândalo para os que denunciaram e para todos os que conheciam as supostas vítimas".

O papa acrescentou que estava "perplexo e envergonhado" pelas evidências do relatório de que houve pressão sobre as autoridades da Igreja que investigavam os crimes sexuais, incluindo a destruição de documentos comprometedores. Para ele, tal comportamento mostrou "absoluta falta de respeito pelo processo canônico e, pior, práticas repreensíveis que devem ser evitadas no futuro".

 

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