Rio - Os consulados brasileiros nos Estados Unidos fazem 'um trabalho de formiguinha' desde quarta-feira para identificar as 49 crianças brasileiras que estão em abrigos, separadas dos pais ao atravessarem as fronteiras, por causa da política de tolerância zero decretada em maio pelo governo Trump. A medida foi revogada nesta quarta. Na lista entregue ao Itamaraty, as crianças não são identificadas, não há endereços, ou referências a cidades, apenas o nome do abrigo.
O cônsul-geral adjunto do Brasil, em Houston, Felipe Santarosa, disse ao DIA que das 49 crianças, entre 15 e 20 foram identificadas até a noite desta quinta-feira. "A maioria das crianças está em Chicago, onde estão 29 brasileiros, 7 estão no Texas, 2 na Califórnia, 7 ou 8 no Arizona, uma em Nova York, outra na Flórida", disse Santarosa.
"A primeira coisa que estamos fazendo é tentar encontrar essas crianças. Todos os consulados nos Estados Unidos estão neste esforço. Antes, a gente se baseava em informações muito dispersas, relatadas por parentes ao Itamaraty, ou aos Consulados, a lista do Ministério da Saúde Nacional daqui, com 49 brasileiros em abrigos identificados, ajudou. Estamos ligando para esses abrigos. Perguntamos: tem brasileiro aí? Hoje (quinta-feira), aqui no Texas, ligamos para sete instituições e encontramos quatro brasileiros."
Após identificar as crianças, o próximo passo é procurar os pais, que podem estar separados e muitas vezes não sabem do paradeiro dos filhos. "Estamos trabalhando para manter a família em contato", disse Santarosa.
Ele conta que identificar os pais é difícil porque somente a cada seis meses os consulados recebem uma lista com os nomes dos brasileiros detidos.
Santarosa acredita que as 49 crianças foram separadas dos pais desde maio.
"No ano passado, houve apenas um ou dois casos de separação. Até então, a criança ia para o abrigo com pelo menos um dos responsáveis. Só era separada em casos excepcionais, como quando tinham alguma doença e não poderiam ficar em abrigos."
Os consulados ainda não sabem se a decisão de Trump de acabar com a separação das crianças e seus pais, valerá para os casos posteriores ao decreto. Santarosa ressalta que, pelo alto número de crianças em abrigos, mais de duas mil no total, a logística de reunir as famílias não seria simples.
Abrigos em relatório por abuso
Nesta quarta-feira, um relatório independente divulgado pelo site Texas Tribune e pelo Center for Investigative Reporting (CIR) apontou que doze abrigos para onde o governo dos Estados Unidos enviou crianças migrantes foram acusados de violar padrões de atendimento. Entre as empresas está a Southwest Key Programs of Texas. Ela opera o abrigo Casa do Padre, onde se encontra um brasileiro.
O cônsul-geral adjunto do Brasil, em Houston,disse que, desde quarta-feira, não conseguiu entrar em contato com o abrigo e que o Consulado irá visitá-lo.