Centro Correcional do Condado de Cibola, na cidade de Milan, no Estado do Novo MéxicoReprodução/ Google Maps
Por ESTADÃO CONTEÚDO
Publicado 22/06/2018 17:30 | Atualizado 22/06/2018 17:47

Milan - Vinte e seis dias depois de ser detido na fronteira dos Estados Unidos com o México com o filho de nove anos, um homem brasileiro de 31 anos disse não ter a menor ideia de quando poderá se reencontrar com a criança.

Em uma entrevista por telefone a partir do Centro Correcional do Condado de Cibola, na cidade de Milan, no Estado do Novo México, o brasileiro disse que falou ao telefone com o filho apenas uma vez desde que foram separados. O homem entrou com pedido de asilo nos Estados Unidos e concordou em falar com a agência de notícias Associated Press sob a condição de que sua identidade não fosse revelada. Ele teme pela sua vida se retornar ao Brasil.

"Ele chorou. Estava muito triste", disse, sobre a única conversa com o menino. "Eu prometi para ele que seriam apenas três a cinco dias (de separação)."

O homem é de Minas Gerais e disse ter pedido recentemente o emprego em uma padaria. Afirmou ainda ter dívidas de R$ 30 mil e estar sendo perseguido por uma organização criminosa, mas não revelou mais detalhes sobre a questão.

Ele decidiu emigrar para os Estados Unidos para encontrar emprego e enviar dinheiro para a mulher e o outro filho, de três anos. Pai e filho embarcaram para a Cidade do México e conseguiram cruzar a fronteira para San Ysidro, já no território da Califórnia, mas foram interpelados por agentes de imigração dos Estados Unidos.

Ambos foram então enviados para um centro de detenção onde havia muitas outras famílias. "Por dois dias, só o que nos ofereceram foi Doritos, barras de cereal e suco." O brasileiro foi informado então de que o filho seria levado para uma unidade de menores, e que eles ficariam separados por não mais do que cinco dias.

"Eu não queria assustá-lo. Eu disse 'veja, filho, vou ficar longe três dias, cinco no máximo, e depois vou vê-lo de novo'", disse o pai. "Ele chorou e me abraçou. É um bom garoto, nunca esteve longe de mim ou da mãe."

Dez dias depois, o brasileiro soube que o menino havia sido enviado para uma unidade de imigrantes em Chicago, no Estado de Illinois. Ele procurou ajuda em um serviço de auxílio jurídico por telefone e conseguiu conversar por 20 minutos com o filho.

Naquele momento, a criança já havia conseguido estabelecer contato com a mãe no Brasil. Em entrevista na noite da quinta-feira a mãe do garoto disse à Associated Press que o filho tem autorização para fazer ligações às segundas e às quintas, por no máximo 30 minutos por vez. A mulher afirmou que o garoto está mais calmo do que aparentava nos primeiros contatos, mas que ele permanece ansioso. O garoto toma remédio para hiperatividade, que continuou oferecido durante a detenção

"Ele chora muito e quer ir embora", disse a mãe, que tem 31 anos e trabalha como faxineira em edifícios comerciais. "Ele está mais calmo agora, mas quer ir embora de lá. É horrível, terrível. As crianças estão sofrendo. Os pais também."

Pai e mãe disseram que têm questionado insistentemente as autoridades de imigranção sobre quando poderão rever o filho, sem resposta conclusiva. Ambos nutrem a esperança de que a ordem executiva assinada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na quarta-feira para acabar com a separação de famílias de imigrantes os ajude - o que até agora não ocorreu.

O pai disse que teve uma entrevista sobre o pedido de asilo na quinta-feira durante a qual aproveitou para perguntar sobre o filho. O agente de imigração informou apenas que a criança estava sob responsabilidade de outro departamento.

A mãe afirmou que também recebe informações vagas da unidade em que o filho se encontra, através do advogado de um escritório sem fins lucrativos que ajuda imigrantes.

O escritório ingressou com diversas ações em nome do menino de nove anos e de um outro brasileiro, um adolescente de 15 anos que também foi separado do pai. Os processos alegam que a separação das famílias é ilegal, e pede o reencontro delas.

"Estamos ingressando com essas ações porque o que essas famílias estão vivendo é uma farsa", disse a advogada Karen Hoffmann. "Ninguém sabe como será a reunificação. O governo certamente não sabe."

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