Dois repórteres da Reuters são acusados de violar a lei de sigilo de Mianmar durante a reportagem sobre a crise de Rohingya (AFP photo / Myo Kyaw Soe) - AFP
Dois repórteres da Reuters são acusados de violar a lei de sigilo de Mianmar durante a reportagem sobre a crise de Rohingya (AFP photo / Myo Kyaw Soe)AFP
Por AFP

Yangon - Dois jornalistas da agência de notícias Reuters em Mianmar, na Birmânia, foram encapuzados e impedidos de dormir durante três dias, após serem presos enquanto investigavam o massacre de membros da minoria muçulmana rohingya, explicou um deles nesta terça-feira diante do tribunal.

Wa Lone, de 32 anos, e Kyaw Soe Oo, de 28 anos, dois birmaneses que trabalham para esta agência de notícias, são acusados de possuírem material sensível vazado relacionado com as operações de segurança no estado de Rakhine, atingido pela crise dos rohingyas.

Jornalista detido de Mianmar, Wa Lone faz sinais de positivo enquanto é escoltado pela polícia para um tribunal para seu julgamento em Yangon (AFP photo/ Ye Aung Thu) - AFP
Detidos preventivamente desde dezembro de 2017, se forem declarados culpados podem ser condenados a 14 anos de prisão.

"Os policiais nos levaram a um lugar e cobriram nossas cabeças com capuzes", declarou Wa Lone ao tribunal, acrescentando que se deu conta mais tarde de que se tratava de um edifício conhecido, pois ali os suspeitos eram torturados.

Jornalista detido de Myanmar, Kyaw Soe Oo carrega sua filha enquanto é escoltado pela polícia para um tribunal para seu julgamento em Yangon (AFP photo/ Ye Aung Thu) - AFP

"Éramos interrogados a cada duas horas e não pudemos dormir durante três dias", explicou.

Segundo a ONG de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW), impedir que uma pessoa durma para obter informações é proibido pelo Direito Internacional.

Jornalista detido de Mianmar, Wa Lone, 32 anos, chega algemado escoltado pela polícia em um tribunal de Yangon no primeiro dia de julgamento (AFP photo / Myo Kyaw Soe) - AFP

Os dois repórteres investigavam o massacre de 10 rohingyas na localidade de Inn Dinn. Poucos dias depois de sua detenção, o Exército reconheceu que soldados e membros budistas mataram a sangue frio pessoas desta comunidade em 2 de setembro. Sete soldados foram condenados a 10 anos de prisão.

As operações do Exército em agosto de 2017 forçaram mais de 700 mil pessoas da minoria rohingya, a quem negam a cidadania birmanesa, a fugir para Bangladesh.