Foto de Jakiw Palij tirada em 1957 - AFP PHOTO / US DEPARTMENT OF JUSTICE
Foto de Jakiw Palij tirada em 1957AFP PHOTO / US DEPARTMENT OF JUSTICE
Por AFP

EUA - A Alemanha aceitou receber nesta terça-feira um ex-guarda das SS de 95 anos, funcionário em um campo de concentração nazista onde mais de 6 mil pessoas foram assassinadas, depois que o governo dos Estados Unidos o expulsou após a retirada de sua cidadania.

Nascido na Polônia, Jakiw Palij, de 95 anos, trabalhou como assistente das SS no campo de trabalho forçado de Trawniki em 1941. Palij chegou nesta terça-feira ao aeroporto de Düsseldorf, e foi levado para um centro de cuidados geriátricos perto de Münster, segundo a imprensa alemã, que duvida que ele possa vir a ser julgado.

"Com a admissão de Palij, o governo federal envia um sinal claro da responsabilidade moral da Alemanha", afirmou à AFP o porta-voz do ministério alemão das Relações Exteriores.

"A obrigação que deriva de nossa história implica a aceitação e um debate honesto sobre os crimes do regime de terror nazista (...) Nós assumimos a responsabilidade com as vítimas do nacional-socialismo, assim como para com nossos sócios internacionais", declarou o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Na segunda-feira, o ministro chamou o campo de extermínio de Auschwitz de "pior lugar do mundo" e recordou que a responsabilidade dos alemães que o criaram "não terminará nunca".

Palij imigrou em 1949 para os Estados Unidos e recebeu a nacionalidade americana oito anos mais tarde. Mas em 2003, um juiz federal cassou a nacionalidade porque ele mentiu sobre seu passado nas SS. Um promotor considerou que Palij, como guarda de uma campo de concentração nazista, impediu que os prisioneiros se escapassem e "contribuiu diretamente para o massacre", o que ele nega.

Durante muito tempo Berlim se negou a recebê-lo porque Palij não tinha nacionalidade alemã. Um tribunal alemão abriu uma investigação preliminar em 2015, mas a encerrou por falta de provas suficientes.

O ex-guarda das SS foi alvo de várias manifestações nos Estados Unidos e os protestos se tornaram mais frequentes nos últimos anos diante de sua casa em Nova York.

"Palij mentiu sobre o fato de ser nazista e ficou nos Estados Unidos durante décadas. Sua expulsão envia uma mensagem forte: Estados Unidos não toleram aqueles que facilitaram os crimes nazistas e outras violações dos direitos humanos e não encontrarão refúgio em território americano", afirma um comunicado da Casa Branca.

O campo de Trawniki, aberto em setembro de 1941, fechou no fim de 1943, depois que as unidades das SS mataram todos os prisioneiros, mais de 6 mil judeus. A Alemanha julgou e condenou nos últimos anos vários ex-integrantes das SS por cumplicidade em assassinatos, entre eles John Demjanjuk, Reinhold Hanning e Hubert Zafke, o que demonstra o rigor da justiça do país, mas também a demora na ação.

Até agora nenhum deles foi para a prisão por motivos de saúde. O último caso foi o de Oskar Gröning, conhecido como o "contador de Auschwitz", que morreu em março aos 96 anos, pouco antes de ser levado para a prisão.

A justiça alemã é criticada pelo tratamento que concedeu aos crimes durante o nazismo e é acusada de ter condenado muito pouco e muito tarde.

Você pode gostar