Cerimônia foi realizada no mesmo dia em que a imprensa turca revelou haver mais provas que contrariam a versão do assassinato dada pelo governo saudita - Amer HILABI / AFP
Cerimônia foi realizada no mesmo dia em que a imprensa turca revelou haver mais provas que contrariam a versão do assassinato dada pelo governo sauditaAmer HILABI / AFP
Por AFP

Istambul - Dezenas de pessoas realizaram nesta sexta-feira em Istambul uma oração funerária simbólica em homenagem a Jamal Khashoggi, no mesmo dia em que a imprensa turca revelou haver mais provas que desacreditam a versão do assassinato dada pela Arábia Saudita.

Um mês e meio depois de seu assassinato, que causou uma verdadeira comoção no mundo, o corpo de Khasshoggi - um jornalista crítico ao poder saudita e colaborador do Washington Post - continua desaparecido.

Ante um espaço vazio, tradicionalmente reservado para um caixão em frente à mesquita de Fatih, os amigos de Jamal Khashoggi fizeram uma oração pelos ausentes, um ritual do Islã para os mortos cujos corpos foram destruídos ou não foram encontrados, segundo os correspondentes da AFP.

"Como estamos convencidos de que o corpo nunca será encontrado, decidimos organizar essa oração pela salvação da alma de Jamal", disse Fatih Öke, diretor da Associação de Mídia Árabe Turca (TAM), da qual o jornalista era membro.

A cerimónia, que foi realizada sob chuva, "é também uma mensagem enviada ao mundo para dizer que o homicídio não ficará impune, a justiça será feita", disse Ibrahim Pekder, um habitante de Istambul que assistiu ao tributo.

Os cartazes exibidos pelos amigos de Khashoggi diante da mesquita não deixam dúvidas sobre suas suspeitas, com a palavra "mártir" sob o rosto do jornalista, e a inscrição "assassino" sob a do príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, conhecido como "MBS".

Nova provas

A Turquia dispõe de provas, em particular de uma segunda gravação de áudio, que contradizem a versão do procurador saudita sobre o assassinato de Khashoggi, afirmou o jornal Hürriyet.

O procurador-geral saudita pediu na quinta-feira pena de morte para cinco acusados por seu papel no assassinato de Khashoggi.

Ele afirmou que o jornalista foi drogado, assassinado e esquartejado no consulado de seu país em Istambul no dia 2 de outubro, mas isentou de qualquer culpa o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, conhecido como MBS.

De acordo com o procurador saudita, uma equipe viajou a Istambul com a missão de transportar de volta o jornalista por bem ou por mal, mas mas o chefe do grupo tomou a decisão de matá-lo sem consultar os superiores hierárquicos.

Os restos mortais do jornalista, de 59 anos, foram depois entregues a um agente do lado de fora do consulado.

O influente colunista Abdulkadir Selvi, próximo ao governo turco, afirma no jornal Hürriyet que uma gravação de áudio em poder das autoridades de Ancara demonstra que em nenhum momento aconteceu uma tentativa de negociar com Khashoggi para convencê-lo a retornar à Arábia Saudita.

De acordo com Selvi, o jornalista não foi drogado e sim estrangulado ou asfixiado "com uma corda ou uma sacola de plástico".

O colunista afirma ainda que as forças de segurança turcas têm uma segunda gravação de áudio de 15 minutos feita antes do assassinato que não permite dúvidas sobre o caráter deliberado do crime.

No áudio é possível "ouvir a equipe saudita conversando sobre como vão matar a Khashoggi, revisando o plano preparado com antecedência e recordando a cada um dos integrantes o papel que devem desempenhar", informa Selvi.

"Também há provas obtidas após o assassinato, como ligações telefônicas internacionais feitas pela equipe saudita", completa.

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan afirmou em diversas ocasiões que a ordem para matar Khashoggi veio do "mais elevado nível do Estado" saudita.

Ele descartou a responsabilidade do rei Salman, mas a imprensa e autoridades turcas, sob anonimato, acusam o príncipe herdeiro, seu filho.

A Turquia, no entanto, afirmou que considera insuficiente a explicação da Procuradoria saudita.

"Todas estas medidas são certamente positivas, mas também insuficientes", declarou o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavasoglu.

O Departamento de Estado americano também considerou estas primeiras acusações como "um bom primeiro passo em uma boa direção", mas exigiu que Riad prosseguisse com a investigação.

O homicídio, em 2 de outubro, do jornalista, crítico do poder saudita e colaborador, entre outros, do jornal Washington Post, se tornou um escândalo de escala global.

Na quinta-feira, os Estados Unidos anunciaram sanções econômicas contra 17 autoridades sauditas envolvidas neste assassinato, entre elas pessoas próximas ao príncipe-herdeiro, assim como o cônsul-geral em Istambul, Mohammed Al Otaibi.

 

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