Mulher usa colete amarelo com a inscrição 'Renuncia Macron' nos Champs-Elysées, em Paris (Bertrand Guay /AFP) - AFP
Mulher usa colete amarelo com a inscrição 'Renuncia Macron' nos Champs-Elysées, em Paris (Bertrand Guay /AFP)AFP
Por AFP

Paris - O primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, anunciou uma moratória do aumento dos impostos sobre os combustíveis, previsto para 1º de janeiro, para tentar acalmar os protestos dos "coletes amarelos" - informaram fontes do governo à AFP.

A moratória de vários meses será acompanhada por outras medidas de apaziguamento, indicaram as mesmas fontes.

"Nenhum imposto merece pôr em perigo a unidade da Nação", declarou o primeiro-ministro, referindo-se aos protestos do fim de semana.

"É preciso estar surdo" para "não ouvir a cólera" dos franceses, acrescentou o premiê francês, que anunciou as medidas em um discurso transmitido pela televisão.

Para tentar conter a tensão, o governo também anunciou a suspensão da alta das tarifas do gás e de energia elétrica durante o inverno.

O novo delegado geral do LREM, Stanislas Guerini, havia solicitado publicamente uma moratória do aumento dos impostos sobre os combustíveis para "apaziguar o país".

"Acredito que seria saudável. Acredito que é necessário apaziguar o país", declarou Guerini, que admitiu ter mudado de opinião sobre o tema.

Desde 17 de novembro, a França é cenário de protestos contra o aumento dos preços dos combustíveis, organizados pelo movimento dos "coletes amarelos".

Vários representantes dos "coletes amarelos" não demoraram a classificar a medida como "insuficiente".

"Os franceses não querem migalhas", disse à AFP Benjamin Cauchy, uma das figuras deste coletivo que nasceu nas redes sociais.

"Os franceses pedem uma anulação", afirmou o líder da bancada dos senadores do partido conservador Os Republicanos, Bruno Retailleau.

"Uma moratória nada mais é do que uma suspensão. Não está à altura das esperanças e da precariedade em que vivem os franceses", considerou a líder da Frente Nacional, a ultradireitista Marine Le Pen.

Popularidade de Macron despenca

Esta é a primeira vez que o governo de Emmanuel Macron, que chegou ao poder com uma agenda reformista, retrocede diante da pressão das ruas.

"Há meses nos perguntávamos quem conseguiria fazer o governo e o presidente cederem. E, como sempre, veio de um movimento que ninguém previu", comentou o diretor adjunto do Instituto OpinionWay, Bruno Jeanbart.

Com essas medidas, o governo Macron espera evitar a repetição dos eventos do último sábado, especialmente após a multiplicação, nas redes sociais, de convocações para novos protestos no próximo fim de semana.

Ainda não há garantia de que será bem-sucedido.

"A dinâmica do movimento é tal que não é certo que as medidas anunciadas possam detê-lo", disse à AFP o cientista político Jérôme Sainte-Marie, do instituto de pesquisas PollingVox.

"Alguns protestam contra sua política global, ou até contra ele", acrescentou o analista.

A popularidade do presidente atingiu patamares mínimos. Apenas 23% (-6%) dos entrevistados disseram aprovar sua ação, segundo uma pesquisa Ifop-Fiducial divulgada nesta terça.

Apesar da violência, 72% dos franceses apoiam os "coletes amarelos", que ampliaram as reivindicações e passaram a exigir aumento dos salários e das pensões, além de maior justiça fiscal, apontou uma pesquisa do instituto Harris Interactive.

A alta do imposto sobre combustíveis não será aplicada "antes de ser discutida por todas as partes envolvidas", garantiu Edouard Philippe, que anunciou uma consulta em nível nacional entre 15 de dezembro e 1º de março.

"Estas decisões imediatas devem trazer paz e serenidade ao país" e "permitir travar um verdadeiro diálogo sobre todas as preocupações que se manifestaram nas últimas semanas", completou o premiê.

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