Um voluntário do movimento 'Coalizão Ajuda e Liberdade' carrega uma menina desmaiada durante um campo de atenção médica em Caracas - Yuri Cortez/ AFP
Um voluntário do movimento 'Coalizão Ajuda e Liberdade' carrega uma menina desmaiada durante um campo de atenção médica em CaracasYuri Cortez/ AFP
Por AFP

Caracas - Brigadas de voluntários começaram neste domingo a se preparar para enfrentar o bloqueio do governo venezuelano à entrada, no próximo sábado, da ajuda humanitária armazenada em Colômbia, Brasil e Curaçao, a maior parte enviada pelos Estados Unidos, a pedido do opositor Juan Guaidó.

"Nossa principal tarefa é chegar a 1 milhão de voluntários para 23 de fevereiro. Presencialmente nos pontos de encontro, ou de forma ativa pelas redes sociais", pediu o líder opositor em mensagem enviada aos 600 mil já inscritos.

A pedido de Guaidó, reconhecido como presidente interino por 50 países, grupos de voluntários começaram a trabalhar no domingo em vários estados do país, em reuniões de preparação e nos chamados "acampamentos humanitários".

Debaixo de toldos instalados em diversos pontos do país, clínicos-gerais, pediatras, nutricionistas, odontologistas e enfermeiros voluntários atenderam os moradores de várias comunidades.

No domingo à noite, o governo proibiu a entrada no país de cinco deputados do Grupo do Partido Popular Europeu (PPE) e do subsecretário-geral da formação, que teriam uma reunião com Guaidó. O chanceler Jorge Arreaza citou "fins conspirativos" para justificar o retorno dos políticos ao aeroporto internacional de Maiquetía.

"A delegação de eurodeputados foi expulsa por um regime isolado e cada vez mais irracional. É o usurpador que eleva o custo do que é um fato: a transição", reagiu o líder opositor no Twitter.

Guaidó, chefe do Parlamento, de maioria opositora, garante que o país "se prepara para a avalanche humanitária", embora não tenha revelado detalhes que poderiam arruinar a operação.

"Vamos anunciando coisas específicas, pouco a pouco", comentou o opositor, de 35 anos, que defende um governo de transição e eleições.

O presidente Nicolás Maduro ordenou aos militares que bloqueiem a entrada da ajuda em remédios e alimentos, por considerá-la um "show político" e o começo de uma invasão militar americana.

Esta disputa em um país que vive uma catástrofe socioeconômica com escassez de medicamentos e uma hiperinflação que torna os alimentos impagáveis. Devido à crise, 2,3 milhões de venezuelanos saíram do país desde 2015, segundo a ONU.

'Por terra e por mar'

Guaidó escolheu para a entrada da ajuda o dia 23 de fevereiro, quando se completa um mês de sua autoproclamação como presidente interino para organizar eleições livres, depois que o Congresso declarou Maduro "usurpador" ao tomar posse para um segundo mandato em eleições que a oposição denunciou como "fraudulentas".

Três aviões militares dos Estados Unidos chegaram no sábado à cidade colombiana de Cúcuta, onde estão armazenados remédios e alimentos desde 7 de fevereiro, perto da ponte limítrofe Tienditas, bloqueada por militares venezuelanos com caminhões e outros obstáculos.

Maduro chama a ajuda de "migalhas" de "comida podre e contaminada" e culpa pela escassez as sanções impostas pelos Estados Unidos, que gera danos à economia estimados por Caracas em 30 bilhões de dólares.

Mobilização militar

Guaidó multiplicou os chamados à Força Armada para não reconhecer Maduro e deixar a assistência entrar, assinalando que as pessoas estão passando por dificuldades e que impedir a ajuda é um "crime contra a humanidade".

A Força Armada é considerada o principal pilar do governo e sua cúpula militar já reafirmou sua lealdade absoluta.

Na sexta-feira, após terminada uma semana de exercícios militares, Maduro pediu ao alto comando militar um "plano especial de mobilização" nas fronteiras, frente a uma ação militar americana, não descartada pelo governo de Donald Trump.

Maduro, que tem o respaldo de Rússia, China, Turquia, Irã e Cuba - cujas Forças Armadas reiteraram seu apoio, neste sábado -, diz que a Venezuela está no centro de uma luta "geopolítica", na qual Washington busca se apropriar do ouro e petróleo venezuelanos, usando Guaidó como "fantoche".

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