Líder opositor Venezuelano, Juan Guaidó, tira foto com esposa Fabiana Rosales, presidente chileno Sebastian Pinera, presidente colombiano Ivan Duque e presidente paraguaio Mario Abdo Benitez durante o show Live Aid Venezuela na cidade de Cúcuta, na Colombia - AFP
Líder opositor Venezuelano, Juan Guaidó, tira foto com esposa Fabiana Rosales, presidente chileno Sebastian Pinera, presidente colombiano Ivan Duque e presidente paraguaio Mario Abdo Benitez durante o show Live Aid Venezuela na cidade de Cúcuta, na ColombiaAFP
Por AFP

Caracas - O líder opositor Juan Guaidó desafiou o presidente Nicolás Maduro e a justiça venzuelana - que o proibiram de deixar o país - e compareceu ao show Live Aid Venezuela na fronteira com a Colômbia, onde teria chegado, segundo ele, com a ajuda de militares venezuelanos.

A véspera do dia em que Guaidó, considerado por cerca de 50 países o presidente interino da Venezuela, pretende dar início ao envio de ajuda humanitária para seu país foi marcada por muita tensão, e duas pessoas morreram em um confronto entre indígenas e militares venezuelanos.

"A pergunta é como chegamos aqui hoje quando fecharam o espaço aéreo, impediram qualquer tipo de viagem marítima, criaram obstáculos nas estradas(...) Estamos aqui precisamente porque as forças armadas também participaram nesse processo", assinalou Guaidó na cidade fronteiriça de Cúcuta.

Em uma declaração à imprensa na companhia dos presidentes da Colômbia, Chile, Paraguai, e o secretário-geral da OEA, o líder político disse que atravessou o território venezuelano para buscar a ajuda doada pelos Estados Unidos e seus aliados.

"Amanhã, um mês depois de tomar posse como presidente encarregado, todo o povo da Venezuela estará nas ruas exigindo a entrada da ajuda humanitária", afirmou.

Guaidó acrescentou em um breve contato com a imprensa que a Guarda Nacional Bolivariana foi decisiva.

A queda de braço entre os dois oponentes e sua disputa pelo poder foram ilustradas nesta sexta pelo duelo musical travado nos dois lados da fronteira entre Venezuela e Colômbia.

Dois shows

Do lado colombiano, em Cúcuta, o concerto Live Aid Venezuela, organizado pelo milionário britânico Richard Branson e com a participação de vários artistas famosos da região em uma campanha em prol da entrada da ajuda humanitária na nação venezuelana.

Do lado venezuelano, um show de três dias convocado pelo governo Maduro para promover a lealdade da população ao líder socialista através da hastag "Para a guerra, nada".

Para impedir a transmissão do Live Aid Venezuela na cidade colombiana de Cúcuta, as autoridades venezuelanas tiraram do ar os canais NatGeo e Antena 3.

Dezenas de milhares de pessoas assistiram ao concerto gigante em Cúcuta, enquanto que o espetáculo organizado a alguns metros, do outro lado da fronteira, contou com pouco mais de duas mil pessoas.

Muitos venezuelanos conseguiram chegar ao evento usando rotas alternativas devido ao fechamento da fronteira.

Aos gritos de "Liberdade!" ou "O governo vai cair", os primeiros espectadores, vestidos de branco e agitando bandeiras venezuelanas se reuniram em frente ao palco para acompanhar a apresentação de mais de trinta artistas da região.

Branson espera recolher 100 milhões de dólares para o país confrontado com a pior crise de sua história.

"É incrível ver essas milhares de pessoas virem ao concerto", comentou o fundador da Virgin.

"Será um dia mágico (...) para construir pontes de esperança", acrescentou, ao lado do cantor venezuelano Carlos Baute, convidado com trinta artistas, incluindo os espanhóis Alejandro Sanz e Miguel Bosé, o dominicano Juan Luis Guerra, os colombianos Carlos Vives e Juanes, além do porto-riquenho Luis Fonsi.

"Está acontecendo, os olhos do mundo estão em nós", declarou à AFP Aura Vargas, uma advogada de 40 anos, conseguiu chegar ao show após passar por militares armados.

Antes do show, Branson aproveitou para percorrer a ponte internacional de Tienditas, por onde está previsto passar neste sábado os kits de ajuda humanitária.

Maduro se recusa a receber as toneladas de alimentos e medicamentos e denuncia que se trata de uma tática dos Estados Unidos para iniciar a ocupação da Venezuela.

Véspera de tensão e mortes

Paralelo aos shows, os venezuelanos acompanham em suspense a chegada do Dia D, marcado por Guaidó para a entrega da ajuda humanitária prometida.

O líder opositor visitou o depósito de Cúcuta. O resto da ajuda se encontra em depósitos no Brasil - cuja fronteira com a Venezuela foi fechada na quinta por Maduro -, e Curaçao, cujos funcionários advertiram que só permitirão a entrega dos produtos com a autorização de Caracas.

No fim da noite, Caracas anunciou o fechamento de outro trecho da fronteira com a Colômbia, no estado de Táchira (oeste).

Em uma declaração conjunta, os presidentes colombiano Iván Duque e chileno Sebastián Piñera lançaram um novo apelo aos militares leais a Maduro para que eles passem para o "lado justo da história" e permitam a entrada da ajuda humanitária.

Nesta sexta, dois indígenas foram mortos e 15 ficaram feridos em um confronto com militares venezuelanos na área de fronteira com o Brasil.

Uma mulher e um homem indígenas, da etnia pemon, morreram no confronto registado no assentamento Kumarakapay, situado no estado de Bolívar (sul).

Indígenas pemones tentaram impedir que uma caravana de veículo militares avançasse para a fronteira com o Brasil para bloqueá-la.

Guaidó denunciou no Twitter que dois efetivos militares dispararam "contra pemones que estavam no posto de controle da fronteira", e ordenou aos soldados que se entregassem.

Duas ambulâncias venezuelanas cruzaram a fronteira brasileira para levar cinco feridos por arma de fogo a um hospital do estado fronteiriço de Roraima.

Do lado brasileiro, não se confirmou se os feridos procediam do incidente com a comunidade indígena.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, condenou "energicamente" o ataque contra a comunidade. "Exigimos o fim dos ataques contra as populações", segundo um comunicado postado no Twitter.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu nesta sexta-feira para o governo Maduro "não usar a força letal contra manifestantes".

A Casa Branca, por sua vez, declarou que os Estados Unidos condenam veementemente o uso da força militar venezuelana contra civis desarmados e voluntários inocentes na fronteira da Venezuela com o Brasil.

"Os militares venezuelanos devem permitir que a ajuda humanitária chegue pacificamente ao país. O mundo está observando", afirma o comunicado oficial.

O governo venezuelano questionou a participação dos militares em um confronto com indígenas.

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