A Huawei é uma das principais fabricantes de smartphones do mundo - Fred Dufour/ AFP
A Huawei é uma das principais fabricantes de smartphones do mundoFred Dufour/ AFP
Por AFP
Paris - O rompimento do Google com a fabricante chinesa de smartphones Huawei, anunciado nesta segunda-feira, pode complicar a vida dos usuários. A marca é a número dois do mundo no mercado e vende dezenas de milhões de aparelhos todos os meses ao redor do mundo: 203 milhões no total em 2018, contra 150 milhões em 2017, segundo a Gartner.
O gigante americano, cujo sistema operacional Android está instalado na grande maioria dos smartphones do mundo, anunciou que cortou as relações com a Huawei, uma decisão de graves consequências para a empresa chinesa, que não poderá oferecer mais o Gmail ou Google Maps a seus clientes.
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O anúncio inesperado acontece em meio a tensões comerciais entre Washington e Pequim e após a decisão da semana passada do presidente americano Donald Trump de proibir que os grupos americanos façam negócios com empresas estrangeiras do setor de telecomunicações consideradas perigosas para a segurança nacional.
A medida tinha como alvo principal a Huawei, gigante chinesa das telecomunicações, segunda maior fabricante mundial de smartphones e que se tornou inimiga de Washington, que acusa o grupo de espionagem cibernética em favor do governo de Pequim.
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O grupo aparece na lista de empresas suspeitas com as quais não se pode negociar sem a autorização das autoridades.
"Estamos cumprindo a ordem e revisando as implicações", afirmou um porta-voz do Google em um e-mail à AFP.
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"Para os usuários de nossos serviços, Google Play (loja de aplicativos Android) e o sistema de segurança Google Play Protect seguirão funcionando nos aparelhos Huawei existentes", completou a fonte.
Centenas de milhões de aparelhos afetados
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No primeiro trimestre deste ano, a Huawei vendeu 59,1 milhões de smartphones, 19% do mercado e mais do que a americana Apple, embora ainda esteja atrás da empresa líder, a sul-coreana Samsung.
Para os usuários da Huawei, as consequências podem ser importantes, pois o Google atualiza regularmente suas diferentes versões do Android, muitas vezes por motivos de segurança.
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Nos próximos dias, seus smartphones poderão sofrer falhas, a menos que a Huawei decida fazer as atualizações por conta própria. No momento, o Android afirmou que continuará fazendo essas atualizações de segurança.
A outra consequência, mais indireta, é sobre os aplicativos, pois à medida que a Google atualiza o Android, as centenas de milhões de aplicativos propostos em sua App Store também são atualizadas.
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Essas atualizações dos aplicativos geram uma forma de obsolescência dos aparelhos que não tiveram as últimas atualizações do Android, fazendo que aplicativos não sejam capazes de funcionar.
Poucas soluções para a Huawei
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No curto prazo, a Huawei tem poucas soluções. Em seus dispositivos atuais, é complicado implementar um novo sistema operacional, em vez do Android.
Nos futuros aparelhos uma alternativa também parece difícil: o único sistema operacional que é suficientemente difundido é o iOS da Apple, disponível exclusivamente em iPhones. A Microsoft tentou lançar uma versão móvel de seu famoso Windows em 2010, mas ela só podia ser aplicada em seus próprios telefones. Além disso, o Windows Phone não teve sucesso e a Microsoft abandonou a aventura em 2017.
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No médio prazo, essa decisão do Google poderá encorajar a Huawei a seguir o exemplo da Apple e propor seu próprio sistema operacional, uma ideia que já foi levantada por seus dirigentes.
A Huawei, número dois do mundo, dificilmente pode ser ignorada pelos desenvolvedores de aplicativos, que seriam forçados a oferecer uma versão "Huawei" de seus produtos, para não ter que abrir mão de uma parte significativa do mercado.
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Sem ir tão longe, a Huawei pode perfeitamente desenvolver um "fork" (versão alternativa) do Android, uma versão que seria sua, mas reutilizando a maioria dos códigos Android, que são "open source", ou seja, livre de direitos. Isso permitiria manter um produto compatível com os aplicativos desenvolvidos para o Android.
Um risco também para a Google 
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Para a Google, a decisão de cortar laços com a Huawei também leva a riscos. À margem dos iPhones, a Google tem uma posição monopolística com a Android, um produto que lhe permitiu desenvolver serviços associados, como a geolocalização com o Google Maps, entre outros.
Esses serviços são essenciais na captação de dados dos usuários, fundamental em seu modelo econômico baseado nas vendas de espaços de publicidade. No médio prazo, uma ruptura com a Huawei pode fazer a Google perder o acesso a dados de centenas de milhões de usuários.
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Mas o que representa um sério resco para a Google é, sobretudo, o desenvolvimento de um sistema próprio da Huawei.
A disputa entre a Huawei e a Google representa uma advertência para os demais fabricantes chineses (Xiaomi, Oppo, OnePlus...). Em caso de desenvolvimento de um sistema operacional pela Huawei, seus competidores podem se animar a adotá-lo, para evitar as pressões americanas.
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Graves implicações
Mas como o decreto presidencial proíbe compartilhar tecnologias, o Google terá que ir além e suspender sua colaboração com a Huawei.
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As implicações podem ser importantes, pois, como todos os grupos de tecnologia, o Google deve colaborar com os fabricantes de smartphones para que seus sistemas sejam compatíveis com os telefones.
A empresa poderá oferecer aos usuários de aparelhos Huawei a versão livre de direitos de seu programa Android, explicou à AFP uma fonte próxima ao caso.
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Os aplicativos devem permanecer ativos ao menos em um primeiro momento, afirmou à AFP outra fonte.
Mas enquanto o decreto permanecer em vigor, a Huawei será obrigada a fazer atualizações a partir do Android Open Source Projet - a versão livre de direitos - e seus clientes terão que fazer o mesmo.
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Portanto é possível que o grupo chinês não consiga no futuro oferecer o sistema Android e todas seus aplicativos, como a plataforma de vídeos YouTube.
O porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Lu Kang, declarou que Pequim acompanha a situação de perto e "apoiará as empresas chinesas a adotar as medidas legais pertinentes com o objetivo de defender seus direitos legítimos".
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A empresa, com sede em Shenzen (sul da China), é muito dependente dos fornecedores estrangeiros: a cada ano compra 11 bilhões de dólares em componentes de grupos americanos, sobre um total de US$ 67 bilhões de gastos neste departamento, segundo o jornal japonês Nikkei.
Informações divulgadas pela imprensa indicam que vários fabricantes de chips americanos suspenderam as entregas a Huawei.
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O grupo está há algum tempo na mira das autoridades americanas, sob suspeita de espionagem a favor de Pequim, o que teria contribuído em grande parte para sua espetacular expansão internacional.
Washington teme que o grupo, presente em 170 países e que afirma ter 190.000 funcionários, atuem como um cavalo de Troia da China.
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O passado militar de seu fundador, Ren Zhengfei, o fato de que ele pertence ao Partido Comunista, assim como a falta de transparência da Huawei alimentam as suspeitas de que a empresa está sob controle de Pequim, sobretudo após uma lei aprovada em 2017 que obriga as empresas chinesas a colaborar com os serviços de inteligência do país.
A Huawei é uma das empresas líderes do 5G, a nova geração da internet móvel que está em processo de desenvolvimento.
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China e Estados Unidos, as duas maiores economias mundiais travam uma guerra comercial, com a imposição mútua de tarifas, e na qual a tecnologia é um eixo fundamental do confronto.